Entre janeiro e março deste ano, os 40% mais pobres da população brasileira perderam renda, enquanto as camadas intermediárias e de rendimento mais alto recuperaram ganhos. Com o movimento, a desigualdade no Brasil se agravou e essa é uma tendência que não deve se reverter no curto prazo.
Esse é o resultado de estudo divulgado, nesta quarta-feira (23), pelo jornal Valor Econômico a partir de microdados extraídos da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua apresentada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última semana.
De acordo com o estudo realizado pelo economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), a renda média mensal dos 20% mais vulneráveis caiu de R$ 400 no primeiro trimestre de 2017, para R$ 380 de janeiro a março deste ano, queda real de 5%. Para a camada seguinte, a perda de rendimento foi de 1,8% em igual intervalo, de uma média de R$ 963, para R$ 945.
Já na ponta superior da escala social, os 20% mais ricos viram seu ganho médio mensal passar de R$ 5.579 para R$ 6.131, aumento de 10,8% na comparação anual. A camada seguinte, de cima para baixo, foi a que mais recuperou rendimentos no intervalo, com crescimento de 11%, de R$ 1.809 para R$ 2.007. No meio do caminho, quem tinha renda média de R$ 1.255 no começo de 2017, passou a ganhar 4,3% mais, chegando a R$ 1.309. Todas as variações são em termos reais, ou seja, já descontada a inflação.
Como os ricos ficaram mais ricos e os pobres, mais pobres, a renda média da parcela mais desassistida, que equivalia a 7,4% do rendimento médio da fração mais abastada no primeiro trimestre de 2016, caiu a 7,2% no mesmo período de 2017 e a 6,2% no início deste ano.
[blockquote align=”none” author=””]“As pessoas [mais pobres] estão sem dinheiro. No Rio, quando caminho na Baixada [Fluminense], as pessoas dizem: na época do [governo] Lula, a gente tinha dinheiro para fazer um churrasquinho. Estive andando em vários bairros, no sábado que antecedeu o Dia das Mães, e, pelo menos no Rio de Janeiro, as lojas estavam vazias”, relatou o senador Lindbergh Farias (RJ), líder do PT no Senado.[/blockquote]
Ao contrário da política de austeridade promovida por Temer, relata Lindbergh, os governos de Lula e Dilma promoviam a inclusão social dos mais pobres ao incluí-los nas políticas públicas econômicas e de distribuição de renda. “Quando a situação do País melhorava, isso valia para todo mundo. Inclusive para o povo trabalhador. E aquilo estimulava a economia. Agora não. É só desemprego: 1,4 milhão de desempregados só neste trimestre. É só retirada de políticas sociais, estão acabando com tudo. Estão conseguindo destruir o que teve de bom neste País. É uma devassa social”, criticou.
Ainda segundo o estudo, o comportamento díspar da renda entre os mais ricos e os mais pobres levou a uma piora do índice de Gini da renda do trabalho. Ele passou de 0,5648 no primeiro trimestre de 2017, para 0,5684 de janeiro a março deste ano, num avanço de 0,0036. O indicador, usado para medir a desigualdade social, varia de 0 a 1 – quanto mais próximo de zero, menor é a desigualdade.
Considerando apenas a população empregada, houve aumento ainda maior da desigualdade. O índice de Gini da renda do trabalho, excluindo desempregados, passou de 0,4937 nos três primeiros meses do ano passado, para 0,5014 este ano, crescimento de 0,0077. Ambas as métricas haviam piorado de forma mais aguda ao longo de 2016, no auge da crise, mas continuaram a subir no ano passado, ainda que de maneira um pouco mais suave.
“O que está acontecendo é o seguinte: as classes média e alta do Brasil estão conseguindo recuperar a renda do trabalho, só que a base da pirâmide ainda está amargando perdas. A crise pode ter até passado, a situação parou de piorar realmente, mas a economia não está ‘bombando’. Vai ser difícil mudar a dinâmica relativa do trabalho não qualificado pelo menos até o fim do ano”, afirma o economista Daniel Duque.
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Com informações do jornal Valor Econômico