Alexandre Moraes pode receber punições que vão desde a advertência à recomendação de exoneração de cargoO ministro da Justiça de Temer, Alexandre Moraes, terá 10 dias para explicar à Comissão de Ética da Presidência da República a suspeita de ter vazado uma ação da Operação Lava Jato. O procedimento contra Moraes foi aberto na última terça-feira (27), a partir de uma representação da Bancada do PT na Câmara dos Deputados.
No último domingo (25), Moraes “anunciou” mais uma etapa da Lava Jato. Participando de um ato de campanha de um correligionário, o candidato do PSDB à prefeitura de Ribeirão Preto (SP), Duarte Nogueira, o ministro garantiu que “esta semana vai ter mais [Lava jato]. Quando vocês virem esta semana vão se lembrar de mim”. Coincidentemente, Ribeirão Preto é a terra do ex-ministro Antonio Palocci, preso no dia seguinte ao possível vazamento de Moraes.
A votação para abertura do processo contra Alexandre Moraes na Comissão de Ética foi unânime. O presidente o colegiado, Mauro Menezes, destacou a necessidade de apurar o episódio em face do “manejo inadequado de informações privilegiadas” e também do ambiente eleitoral em que o pronunciamento do ministro foi feito. Moraes pode receber punições que vão desde a advertência à recomendação de exoneração de cargo.
Além da representação dos deputados petistas à Comissão de Ética da Presidência da República, Moraes é alvo de uma representação da Bancada do PT no Senado à Procuradoria Geral da República. Os senadores cobram a apuração de uma série de crimes nos quais o ministro de Temer pode ter incorrido, entre eles o de quebra de sigilo funcional.
Moraes também poderá ter que se explicar à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, conforme requerimento de convocação apresentado pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), e à comissão de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle (CMA) da Casa, como requereu a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) em nome da Bancada Petista. Na Câmara dos Deputados, o espaço para as explicações poderá ser o plenário, como pretende o requerimento de apresentado pelo Líder do PT, Afonso Florence (BA), e pelo Vice-Líder da Minoria, Ricardo Zarattini (PT-SP).
Na sexta-feira (23) — dois dias antes do surto de incontinência verbal —, Alexandre de Moraes se reuniu com o superintendente regional da Polícia Federal em São Paulo, Disney Rosseti. O encontro ocorreu a pedido do ministro e durou uma hora. Não é usual que ministros mantenham contatos com superintendentes nas operações, para não ocorrer quebra da hierarquia com a direção da Polícia Federal.
Na última terça-feira, após a péssima repercussão de suas declarações, Alexandre Moraes foi chamado ao Planalto para se explicar ao chefe, Michel Temer, que teria concedido ao boquirroto uma “última chance”, segundo o jornal O Estado de S. Paulo. “Aliados muito próximos de Temer demonstram desconfiança com a ambição política do ministro. Ressaltam, inclusive, o fato de que ele tem ficado muito tempo em São Paulo, e não deveria estar fazendo campanha para um candidato tucano no interior do Estado. Veem a movimentação como uma preparação para a candidatura de Moraes ao governo do Estado, daqui a dois anos, e dizem que a pretensão é incompatível com o cargo que ele exerce”, afirma reportagem do jornal.
A edição desta segunda-feira do Estado também dedicou a Moraes um duro editorial, afirmando que o ministro “não tem mais condições de permanecer no cargo, se é que algum dia as teve”.
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