Em entrevista à emissora pernambucana, ex-presidente avaliou que presidente interino deveria ter agido como tal. “Vamos precisar arrumar tudo”, afirmouEm entrevista à emissora Rádio Jornal em Petrolina (PE) nesta segunda-feira (11), o ex-presidente Lula declarou que se candidatar em 2018 é uma questão de avaliar se o “Brasil deu certo” e disse que Dilma foi em parte vítima de um processo de mau-humor que pegou o Brasil desde 2013.
Durante a entrevista a Geraldo Freire, o ex-presidente deixou claro que será candidato à presidência na próxima eleição, desde que tenha condições políticas para isso. “Para eu não ser candidato em 2018 é só o Brasil dar certo”, disse. “Se o Brasil desse certo, por que eu precisaria ser presidente outra vez?”, completou.
“Você faz política querendo ou não querendo. Eu continuo fazendo política; e continuo acreditando que só a organização política pode fazer uma população ser mais consciente, ajudar a mudar o jeito de ser, o jeito da governança pública no Brasil”
Crise política atual
Sobre a crise política que o Brasil está vivendo, Lula avaliou que o país está passando por uma fase de pessimismo generalizado. “Eu fico incomodado porque o Brasil sempre foi considerado o mais alegre do mundo, o povo mais otimista do mundo, e agora é um mau humor generalizado, no futebol, na política, tem alguma coisa errada nesse país. E isso me preocupa porque nós precisamos fazer propostas para o futuro, dizer como vai ser o amanhã. Qual é o jeito alegre, feliz, do nosso povo?”
“Nós demos um jeito de consertar esse país. Em dezembro de 2014 o Brasil chegou a 4,3% de desemprego, isso é uma coisa de Noruega, Holanda, Finlândia. Coisa de primeiro mundo que nem eu acreditava, eu que era sindicalista, que a gente tivesse chegado a um nível tão baixo de desemprego. Mas de repente a coisa desandou. Houve uma mistura de coisas equivocadas na economia. Política feita pra tentar evitar que a presidenta governasse, pauta bomba todo dia dentro da Camara. Agora precisamos parar pra consertar, primeiro evitando esse falso impeachment que inventaram para a presidente Dilma”.
Sobre votação do impeachment de Dilma Rousseff, Lula destaca que seis votos podem definir o destino dela: “Dilma está dependendo de seis votos. São seis senadores apenas para mudar o futuro do país, devolvendo à Dilma o mandato que o povo deu a ela.” Perguntado sobre como ficaria a situação da presidenta sem base parlamentar. Para Lula, isso não é motivo para armar um golpe para destituí-la: “Você não pode, só porque uma presidenta não está bem nas pesquisas, achar que pode mudar”.
Regime político
Questionado sobre se ele apoiaria um sistema parlamentarista, o ex-presidente lembrou que foi esse o regime que ele apoiou em 1988, e perdeu dentro do próprio PT. Mas afirma: “As pessoas se enganam quando acham que é só mudar o regime e está resolvido o problema. O que tem que mudar são as pessoas. O que tem que mudar no Brasil é a política, a mentalidade do político. Com essa classe política, se você tiver parlamentarismo, sabe, não tem solução pro país. É preciso fazer reforma política, os partidos tem que ser mais sérios.”
Lula acredita que é necessária uma constituinte exclusiva para cuidar da reforma política e politizar mais a população: “Precisa trabalhar a cabeça da sociedade brasileira. As pessoas reclamam, reclamam, reclamam e votam em um político que no dia seguinte já estão xingando.”
Recuperação econômica
Sobre a crise econômica, ele acredita que a saída é através de políticas de redistribuição de renda: “É preciso fazer o país voltar a crescer e fazer com que o povo suba mais um degrau na escala social deste país”, afirmou o ex-presidente. “Eu acho que o que nós precisamos fazer as propostas corretas para que o Brasil reencontre o caminho do desenvolvimento econômico justiça social, que a gente continue fomentando políticas de ascensão social, colocando o pobre dentro do orçamento. Isso é possível.”
Lula acredita que a presidenta Dilma agiu corretamente para evitar crise, e a causa do agravamento da situação se deve à resistência que encontrou dentro do parlamento por questões políticas: “Um ajuste, feito no momento certo, resolve. Mas quando você manda e a Câmara demora, um, dois meses para votar, o mercado começa a ter desconfiança”.
O ex-presidente definiu o que considera ser necessário fazer para recuperar a economia do Brasil: “Eu aprendi na minha vida que quanto mais você fizer o óbvio, mais acerto você tem. Economia não tem mágica, é uma questão de confiança. A pessoa tem que dormir sabendo que não vão ser pegas de surpresa à noite. Tenho que investir meu dinheiro para ter um retorno. Seja lá qual for a atividade. E o governo tem que empregar os recursos públicos nos ativos que vão render mais para o país”.
Lula 2018
Lula disse que todo dia lê análises dizendo que o grande problema dele é que a justiça quer torná-lo inelegível. “Para eu não ser candidato em 2018 é só o Brasil dar certo”, disse. “Se o Brasil desse certo, por que eu precisaria ser presidente outra vez?”. Lula afirma que não pretendia voltar a concorrer:” Fui presidente, fiz um bom governo, terminei meu mandato com 87% de bom e ótimo, saí como o presidente mais bem avaliado da história desse país. Eu queria voltar a viver minha vida tranquila com a minha mulher, já tenho 70 anos de idade”, afirmou. “Mas eu fico olhando o Brasil e vendo as coisas fáceis ficando difíceis. As pessoas tinham facilidade de comprar um carro, uma geladeira, uma casinha, viajar. A coisa mais maravilhosa era ver um nordestino voltar para visitar sua terra natal de avião com toda sua família. Tudo isso está murchando”, explica.
“Eu queria que tivesse uma pessoa de 40, 45 anos que fosse competente, compromissado com o povo trabalhador, que conhecesse a mão calejada de um trabalhador rural, de um pedreiro. Que soubesse o que é viver dignamente nesse país. Para governar esse país com a mesma vontade que eu, disposição de viajar e conhecer as entranhas do Brasil. Porque pra você governar esse Brasil e ele dar certo você tem que conhecer a alma das pessoas.”
Investigações
Lula admitiu que as investigações incomodam, mas disse concordar e colaborar com todos os depoimentos para os quais é chamado. “Incomoda sim. Acho muitas das perguntas insólitas, mas eu sou um cidadão igual a qualquer um. Eu não estou acima da lei. Se eles acham que houve algum problema, eles têm que investigar. Fiquei muito ofendido quando invadiram a minha casa, tive que me controlar, ficar de bom humor. Mas tudo bem”.
O ex-presidente fez uma crítica ao circo midiático armado em torno das investigações: “O que me incomoda nesse processo é a pirotecnia. É a condenação pela manchete de jornal. Mesmo que a pessoa seja inocentada, ela já está condenada aos olhos da opinião pública”, disse.
E afirmou: “Um dia este país vai reconhecer que parte da seriedade de investigação que acontece é obra do PT. O PT criou todos os mecanismos de valorização da Polícia Federal, de contratação de inteligência, investimento. Foi o PT que fortaleceu a Controladoria Geral da República, criou o Portal da Transparência, a Lei de Acesso à Informação. ”
Governo golpista
Sobre o governo golpista de Michel Temer, Lula disse que não iria fazer uma avaliação: “O que me incomoda é que Temer deu um golpe na decisão do Senado. O Senado votou pela admissibilidade e deu a ele um mandato interino, afastando Dilma por até seis meses. Ora se o Temer é interino, ele não poderia fazer o que fez. Mandou até o coitadinho do menino do café embora.” E disse que se Dilma voltar, vai ser preciso “consertar tudo”.
Lula disse que se sentiu extremamente triste pela maneira como aconteceu o processo de impeachment e que disse para a Dilma, no dia em que ela foi afastada: “Hoje não é dia de chorar. E nem de rir. Hoje é dia de se indignar”. Lula diz que a presidenta não merecia o tratamento recebido. E afirmou que estava ali por solidariedade: “Jamais imaginei que a Dilma fosse sair daquele jeito do governo. Eu não queria ter vivido aquele momento”, confessou.
E reafirmou sua confiança na honestidade da presidenta eleita: “Dilma é uma mulher séria e competente. Foi vítima desse processo de mau humor que pegou o Brasil desde junho de 2013. O Brasil nunca voltou a ser o mesmo”, afirmou.
Agência PT de Notícias
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