ARTIGO

Precisamos falar sobre elas, Mariana Jacob e Paulo Rocha

"Nossas mulheres estão sendo ainda mais injustiçadas, sobrecarregadas e violentadas. Passou da hora. Precisamos falar sobre elas", alertam, em artigo Mariana Jacob e o senador Paulo Rocha
Precisamos falar sobre elas, Mariana Jacob e Paulo Rocha

Foto: Alessandro Dantas

Teremos um Dia Internacional da Mulher muito diferente em 2021. A data por si só reflete uma mobilização histórica feminina por igualdade e direitos. Mas, este ano, será representado por manifestações feitas dentro de casa, não nas ruas. Efeitos de um mundo em pandemia. Efeitos esses, aliás, que aprofundaram os problemas estruturais da nossa sociedade, escancarando as desigualdades de raça e gênero do nosso país.

As mulheres têm sido especialmente afetadas. Elas ocupam os principais setores afetados pela pandemia, como saúde, educação, alimentação e serviços domésticos. Também possuem uma taxa de informalidade relativamente superior aos homens. Segundo o IBGE, 38 milhões de pessoas no Brasil estão abaixo da linha pobreza; dessas, ao menos 27,2 milhões são mulheres.

Ao todo, 7 milhões de brasileiras ficaram fora do mercado de trabalho na última quinzena de março de 2020. São 2 milhões a mais que os homens na mesma situação. É a primeira vez nos últimos três anos que a maioria das brasileiras está desempregada.

Com o isolamento, a sobrecarga aumentou escandalosamente. A paralisação das escolas provocou um grande aumento na demanda de trabalho doméstico. Adivinhe sobre quem recaiu mais uma vez a responsabilidade com a casa e os filhos? Aliás, de graça e sem direito a folga. Para as mulheres, são ao menos 22 horas por semana em afazeres “do lar” além de 40 horas de trabalhos regulamentares, segundo a pesquisa PNAD Contínua de 2019.

O isolamento também trouxe outro terror conhecido: a violência. No feriado do Natal, ao menos seis mulheres foram mortas por ex-companheiros. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os feminicídios cresceram no primeiro semestre de 2020, além da violência sexual, quando uma brasileira foi estuprada a cada 8 minutos. Isso sem contar os casos que fogem das estatísticas por não haver denúncia, seja por medo ou sentimento de impunidade.

Vivemos tempos estranhos que não justificam tamanha barbárie sobre a maioria da população brasileira. Tiremos os esqueletos do armário. Atuemos conjuntamente, parlamento, governo e sociedade, para trabalhar em cima de um problema social grave. Nossas mulheres estão sendo ainda mais injustiçadas, sobrecarregadas e violentadas. Passou da hora. Precisamos falar sobre elas.

Artigo originalmente publicado no Diário de S. Paulo

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