Alessandro Dantas

Ex-presidente José Sarney durante pronunciamento na tribuna do Senado
Nome indissociável da redemocratização do Brasil, o ex-presidente da República José Sarney foi homenageado nesta terça-feira (18/3) em sessão especial no Senado. Ao assumir o comando do país após 21 anos de ditadura militar, permanecendo à frente da nação de 1985 a 1990, o político maranhense possibilitou a estabilidade política para a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, a consequente promulgação da Constituição Federal de 1988 e a primeira eleição direta após o período de governo militar.
A homenagem é parte das comemorações dos 40 anos do retorno ao Estado Democrático de Direito no Brasil.
O senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado, cumprimentou o ex-presidente José Sarney, que também presidiu o Senado Federal posteriormente, e refletiu acerca dos testes que a democracia brasileira passou ao longo dos últimos 40 anos.
“Tivemos muitos exemplos que colocaram em risco nossa democracia, entre eles, o impeachment da presidenta Dilma [Rousseff] e a tentativa de golpe em janeiro de 2023. O último governo foi um grande teste para a nossa democracia. Portanto, reforçar o compromisso de todas as instituições, de todos aqueles que participam da vida pública, com a democracia é fundamental”, apontou o líder do PT em entrevista concedida à TV Senado.
Para Rogério Carvalho, no momento em que grupos políticos se organizam, em diversos países, para desestruturar o Estado Democrático de Direito, a defesa da democracia se faz ainda mais necessária.
“O mundo passa por uma desestruturação que é ruim para a democracia e para a sociedade como um todo, porque pode nos levar a um caos absoluto, fruto de uma sociedade sem regras, sem normas e sem instituições fortes. A luta pela democracia é necessária para que a gente possa manter nossa sociedade integrada, funcionando e garantindo que os direitos cheguem a todos os brasileiros”, afirmou Rogério.
Durante a sessão especial, o presidente do Conselho Editorial do Senado, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), apresentou o relançamento de duas obras: “Amapá: a terra onde o Brasil começa”, de José Sarney, e “Explode um Novo Brasil”, do jornalista Ricardo Kotscho.
Agora publicado pelo Conselho Editorial do Senado, a obra “Explode um novo Brasil” é um relato detalhado sobre a campanha pelas Diretas Já, em 1984, a qual o parlamentar definiu como “a campanha épica e o batismo do mais longevo período democrático que hoje vivemos”.
Líder do Governo Lula no Congresso, Randolfe enfatizou que Sarney é homem público de trajetória singular, que dedicou sua vida à política com firmeza de princípios e com espírito conciliador, sempre comprometido com o desenvolvimento nacional e com a estabilidade da democracia, e que teve a coragem, em momento crucial de nossa história, de unir os democratas e conduzir a frente organizada por Tancredo Neves.
“E, 40 anos depois, nós estamos aqui reunidos para agradecer ao senhor e para dizer que o senhor cumpriu com enorme amor, com extrema dedicação, com zelo e devoção à pátria. Ao senhor somos gratos em tributo pelo que foi feito. O senhor convocou a Assembleia Nacional Constituinte. O Brasil realizou a mais ampla Assembleia Nacional Constituinte de sua história. Nenhuma teve a participação popular que esta teve. O Brasil deu luz, com essa Assembleia Nacional Constituinte, à melhor de todas as constituições de toda a nossa existência”, destacou Randolfe.
Legado
Eleito de forma indireta vice-presidente da República, José Sarney assumiu a presidência interinamente em 15 de março de 1985, e em definitivo no mês seguinte, após a morte do presidente Tancredo Neves. Prestes a completar 95 anos, Sarney soma mais de seis décadas de vida pública: também foi deputado, governador do Maranhão e comandou o Senado e o Congresso Nacional por quatro vezes.
José Sarney recordou, durante seu pronunciamento, as circunstâncias em que assumiu a presidência da República e falou da representatividade de Tancredo Neves na história nacional.
O homenageado disse que Tancredo foi um grande conciliador e lembrou-se da frase do político mineiro Afonso Arinos: “Muitos deram a vida pelo país, mas Tancredo é o único que deu a sua morte pelo Brasil”.
“Tancredo era um homem que sabia cumprir os princípios. Sem ele, evidentemente, nós não teríamos essa sessão. Estaríamos talvez mergulhados no escuro”, disse.
Sarney também destacou que o Brasil vive, atualmente, o maior período de vigência do Estado de direito, sem hiatos, sob a égide da Constituição de 1988, que, segundo ele, “assegurou o exercício da cidadania em profundidade, com direitos individuais e direitos civis”.
Para assegurar a continuidade da vigência do Estado Democrático de Direito no país, o senador Rogério Carvalho reforçou a necessidade de vigilância permanente dos defensores da democracia.
“Todos precisamos garantir o funcionamento ordenado das instituições, da sociedade, para que possamos conviver harmoniosa e pacificamente respeitando as diversidades que compõem uma sociedade plural, como a brasileira”, afirmou.
Com informações da Agência Senado