Tática de Bolsonaro

Produção em massa de cloroquina é mais uma cortina de fumaça

Senadores criticam ações de Bolsonaro em defesa de medicação para tratamento do novo coronavírus sem nenhum embasamento científico
Produção em massa de cloroquina é mais uma cortina de fumaça

Foto: Arquivo/Agência Brasil

Jair Bolsonaro tem recebido críticas por todo o planeta pela postura adotada em meio a pandemia do novo coronavírus. Recentemente os principais jornais do mundo tem subido o tom para retratar a posição adotada por parte do governo atual. A alemã Der Spiegel chamou Bolsonaro de “O último negacionista”, enquanto a inglesa The Economist se referiu ao presidente do Brasil como “BolsoNero”.

Apesar disso e das divergências que possui com seu próprio ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, acerca da flexibilização das regras de isolamento social, Bolsonaro parece disposto a trilhar o caminho que não possui respaldo da comunidade científica. Em 24 de março, em cadeia nacional, Bolsonaro chegou a defender o fim do isolamento social, chamou a COVID-19 de “gripezinha” e afirmou que Deus e a cloroquina salvarão o País.

A Folha de S. Paulo desta terça-feira (14) destaca que o Exército Brasileiro, a pedido de Bolsonaro, já produziu 2,2 milhões de comprimidos de cloroquina e pretende ampliar a produção para 1 milhão de comprimidos semanais. Cada comprimido custa R$ 0,20 de acordo com a reportagem.

Na avaliação dos senadores da bancada do PT, Bolsonaro tenta desesperadamente criar uma cortina de fumaça para justificar futuramente que a pandemia poderia ter sido controlada com o uso da cloroquina, mesmo sem nenhuma base científica para ancorar sua posição.

“O presidente tenta esconder a sua ausência de liderança no combate à pandemia criando a falsa expectativa da cura por meio da cloroquina. O que Bolsonaro precisa é assumir suas responsabilidades com o povo brasileiro”, criticou o senador Rogério Carvalho (SE), líder da bancada.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE), a decisão de Bolsonaro em determinas a produção em massa do medicamento é “absolutamente descabida” justamente pela ausência de estudos que comprovem a eficácia da substância no tratamento do novo coronavírus.

“Ainda não existem estudos conclusivos de que o uso dessa substância seja benéfico, não há informações suficientes com relação aos seus efeitos colaterais, o que pode gerar nos pacientes mais graves. É um factoide que Bolsonaro está fazendo para construir uma narrativa política que livre ele de um julgamento pesado que a população deverá fazer quanto a sua postura nesse processo de enfrentamento à pandemia”, analisou.

Em entrevista coletiva na última terça-feira (7), técnicos do Ministério da Saúde explicaram que um dos motivos pelos quais ainda não houve a liberação da medicação para tratamento de pacientes leves da COVID-19 é o potencial dele em gerar arritmias cardíacas. Eles ainda afirmaram não haver dados para embasar a liberação desse tipo de medicação para combater os efeitos da doença causada pelo novo coronavírus.

“Receitar remédios em rede nacional antes da realização de um estudo clínico é muita insensatez”, criticou o senador Paulo Rocha (PT-PA), em referência a postura adotada por Bolsonaro.

Em março, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou em sua plataforma parecer técnico desaconselhando o uso da cloroquina. Esse parecer pode orientar magistrados em eventuais tomadas de decisões em pedidos pelo fornecimento do medicamento.

Interesses financeiros
Reportagem publicada na semana passada pelo The New York Times aponta indícios de interesses financeiros escondidos atrás da defesa da cloroquina. De acordo com a publicação, Trump recebeu doações eleitorais de empresa que é acionista da Sanofi, que produz a cloroquina na França e vende no mercado internacional.

Além disso, a própria família Trump teria investimentos em um fundo mútuo, Dodge & Cox, cuja maior participação era na Sanofi.

Entre suas defesas da cloroquina, Bolsonaro ressaltou ter conversado sobre a medicação com “dezenas médicos e alguns chefes de estados”, entre eles o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.

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