Senadores do PT voltaram a alertar nas últimas horas para a gravidade da situação da saúde pública no país, diante da omissão criminosa de Jair Bolsonaro. Ontem, durante visita a Chapecó, em Santa Catarina, o presidente voltou a afastar a hipótese de o governo federal decretar um lockdown nacional como medida para conter a pandemia do Covid-19. Enquanto isso, o Instituto Butantan anunciou a suspensão da produção de vacinas, por causa da falta de insumos.
O líder da Minoria no Senado, Jean Paul Prates (PT-RN) lembrou que o governo Bolsonaro cortou recursos da área social, reduzindo investimentos em áreas vitais como saúde e educação. “Agora, com a pandemia e um Orçamento reduzido em R$ 36 bilhões, a situação é ainda mais precária. Falta investimento e vacina, mas sobra incompetência do governo federal”, criticou o parlamentar. Outros colegas de bancada vão na mesma linha, denunciando a insensibilidade do presidente e da agenda de austeridade fiscal suicida que está destruindo o país e prejudicando a população.
“O Brasil segue desgovernado”, alertou o líder do PT, senador Paulo Rocha (PA). “O país pode enfrentar um apagão de vacinas contra a covid”, lamentou. Como se não bastasse a falta de vacinas e o avanço da doença, o parlamentar alertou que a fome está se agravando nas regiões Norte e Nordeste. “Pela primeira vez em 17 anos, mais da metade da população não teve certeza se haveria comida suficiente em casa no dia seguinte, teve que diminuir a qualidade e a quantidade do consumo de alimentos e até passou fome”, advertiu Rocha.
Para os petistas, é urgente uma campanha de imunização em massa, como vem ocorrendo nos Estados Unidos. “Precisamos de vacinas urgente”, cobrou o senador Jaques Wagner (PT-BA). “A condução errada da pandemia pelo governo brasileiro tem custado vidas e sofrimento para milhares de famílias. Não estaríamos nessa situação se tivéssemos entrado na fila da compra de vacinas”, lembrou o parlamentar. O Brasil ultrapassou ontem a marca de 340 mil mortos por Covid desde o início da pandemia, há um ano.
A bancada do PT criticou o governo por pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) a retirar da pauta de votações nesta quarta-feira o projeto de lei do senador Paulo Paim (PT-RS) que determina a quebra temporária das patentes de vacinas durante a pandemia, como forma de ampliar a produção de imunizantes no país. O líder Paulo Rocha diz que a medida é descabida e que o Senado não pode deixar de apreciar a matéria, porque as pessoas estão morrendo.
Os senadores do PT anunciaram que vão lutar para derrubar o projeto de lei 948/2021, aprovado esta semana pela Câmara dos Deputados, que permite a compra de vacinas contra a Covid-19 por empresas privadas. O senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde no governo Lula, chamou a proposta de “excludente e equivocada” e anunciou que vai trabalhar para derrubar o projeto. “Essa proposta cria o critério de vacina por renda, assim como já foi o voto no país. No que depender de mim e da nossa bancada, será derrubado no Senado. É algo inaceitável, é a institucionalização de um apartheid social”, alerta.
O projeto conta com o apoio do governo, que segue cometendo outros absurdos. Nesta quarta-feira, durante visita a Chapecó, Bolsonaro voltou a se colocar contra o lockdown, medida sugerida por médicos e cientistas para impedir a propagação do vírus. Ele ressaltou que não tomará medidas mais duras de isolamento social para conter a pandemia, como recomendado por autoridades.
Na imprensa internacional, o comportamento do presidente tem provocado críticas. O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung publicou nesta quinta-feira, 8, que o Brasil está à beira do abismo. O jornal americano Washington Post relatou na edição de hoje que Bolsonaro ignora pedidos de lockdown para retardar vírus. O drama brasileiro também chamou atenção da Reuters, que noticia a descoberta no Brasil de uma nova variante sul-africana de Covid. “É um novo sinal de perigo para um país já devastado pelo pior número de mortes diárias do mundo e que luta para abrir espaço para sepultamentos”, relata a agência internacional de notícias.
A paralisação da produção de imunizantes pelo Butantan ocorre no pior momento da pandemia. O Butantan ainda vai seguir com a entrega de vacinas na próxima semana, porque tem 2,5 milhões de doses já prontas aguardando o prazo do controle de qualidade. O instituto confirmou que cumprirá os prazos estabelecidos nos contratos com o Ministério da Saúde, apesar do atraso na chega de insumos. A instituição se comprometeu a entregar 46 milhões de doses até o fim de abril.
Epidemiologistas estimam que este será o pior mês da pandemia. O país superou esta semana a marca diária de 4.215 mortes em 24 horas e a previsão é de que a pandemia piore nas próximas semanas. O neurocientista Miguel Nicolélis avalia que o Brasil pode quebrar o recorde e superar as 5 mil mortes por dia ainda nas próximas semanas. Além da falta de imunizantes, os estoques de medicamentos estão acabando. Mais de 1.000 cidades brasileira passam por dificuldade com abastecimento de oxigênio no Brasil.
Um levantamento do Conselho Nacional de Secretários Municipais da Saúde (Conass) aponta que um dos problemas é a dependência de cilindros para armazenar o insumo, fundamental para a assistência médica de pacientes com Covid-19.