Três países europeus fecharam espaço aéreo para voo que levava |
O Partido dos Trabalhadores divulgou nesta quarta-feira (3) uma nota de protesto pelo decisão dos governos europeus de fechar o espaço aéreo ao avião do presidente da Bolívia, Evo Morales, que retorna de Moscou para La Paz, por suspeita de que esse conduzisse o dissidente americano Edward Snowden.
Para o PT, a agressão a “preceitos diplomáticos básicos em benefício do governo dos EUA” poderia ter tido conseqüências trágicas e exige um pedido de desculpas públicas à Bolívia, a quem o partido manifesta solidariedade.
Na última terça-feira (2), o avião de Morales precisou fazer um pouso em Viena, na Áustria, após Portugal, França e Itália terem negado permissão para que a aeronave utilizasse seus espaços aéreos. Na capital austríaca, o avião foi vistoriado e finalmente liberado para seguir viagem, cruzando o espaço aéreo da Espanha e pousando para abastecimento nas Ilhas Canárias, que integram o Estado Espanhol.
A proibição gerou reações de apoio ao presidente boliviano em vários países latino-americanos, assim como na Organização dos Estados Americanos (OEA). “Nada justifica uma ação de tanto desrespeito”, declarou o secretário-geral da Organização, José Miguel Insulza, cobrou explicações dos governos que proibiram o ingresso no espaço aéreo do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales. Em comunicado, Insulza se disse “profundamente incomodado” e ressaltou que “nada justifica uma ação de tanto desrespeito”.
Os presidentes Ollanta Humala (Peru), Cristina Kirchner (Argentina), José Pepe Mujica (Uruguai) e Rafael Correa (Equador) divulgaram nota em solidariedade do presidente boliviano.
O presidente peruano telefonou para Jose Pepe Mujica para a articulação de uma reação em bloco dos países do continente. Para Ollanta Humala, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que reúne 12 países da região, inclusive o Brasil, deve manifestar repúdio ao ato contra Morales. Humala avalia a hipótese de promover uma reunião extraordinária do bloco. Na rede social Twitter, Cristina Kirchner alertou sobre as “consequências legais internacionais” do incidente.
Nos Estados Unidos, Snowden é acusado de espionagem e está na Rússia à espera da concessão de asilo político. O ex-agente denunciou que os norte-americanos monitoravam e-mails e ligações telefônicas de cidadãos dentro e fora do país. Há, ainda, informações de que comunicações da União Europeia também foram monitoradas. O norte-americano pediu asilo a 21 países, inclusive ao Brasil.
Veja a íntegra da nota do PT:
Em respeito ao direito internacional e aos direitos humanos
Todos devem respeitar o direito internacional, sob pena do mundo escorregar de maneira irreversível em direção a uma situação catastrófica.
Os governos europeus que fecharam o espaço aéreo ao avião que transportava o presidente Evo Morales devem reconhecer e desculpar-se publicamente por terem cometido um atentado às leis internacionais, que poderia ter consequências trágicas.
Tais governos devem, ainda, explicar as motivações de tal atitude. Caso tenha alguma relação com a suspeita de que o avião da República da Bolívia estaria transportando o ex-agente da CIA Edward Snowden, os governos europeus implicados precisam explicar por quais motivos agridem preceitos diplomáticos básicos em benefício do governo dos EUA, num caso que envolve espionagem eletrônica em massa praticada pelos Estados Unidos contra a população mundial, inclusive contra governos europeus.
Manifestamos nossa solidariedade com o governo boliviano e com o presidente Evo Morales. E instamos os governos integrantes da Unasul a defenderem com firmeza os direitos humanos, motivo pelo qual devem considerar o oferecimento coletivo de asilo a Edward Snowden, uma vez que está demonstrado que ele é vítima de perseguição e não terá garantido o direito a julgamento justo.
Brasília, 3 de julho de 2013
Rui Falcão, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores
Iriny Lopes, secretário de relações internacionais do PT
Valter Pomar, dirigente nacional do PT e secretário executivo do Foro de São PaulO
Foto:AFP