Critérios polêmicos

Ranking beneficia políticos que votaram contra os trabalhadores

No levantamento, parlamentares sem processos estão “atrás” de Celso Jacob, preso em regime semiaberto
Ranking beneficia políticos que votaram contra os trabalhadores

Deputados e senadora que votaram a favor da reforma trabalhista lideram o levantamento da página politicos.org.br. Imagem: printscreen do site Ranking dos Políticos

Autointitulado “Ranking dos Políticos”, o site politicos.org.br enumera os supostos melhores parlamentares do Brasil. Os critérios do levantamento, no entanto, são adotados para desqualificar os contrários a suas teses. Uma prova disso é que os deputados e senadores que defendem os trabalhadores e a soberania nacional estão entre os últimos colocados. Já os melhores ranqueados são exatamente os que votam contra os interesses da maioria da população.

Até a publicação desta reportagem, todos os nove primeiros colocados (veja na imagem acima) foram favoráveis à reforma trabalhista proposta pela gestão Temer, que promove uma série de retrocesso nos direitos garantidos há décadas na CLT. O levantamento usa critérios diferentes aos adotados por um dos principais rankings parlamentares do país, o “Cabeças do Congresso”, elaborado pelo Departamento Intersindical da Assessoria Parlamentar (DIAP).

O primeiro colocado do políticos.org.br é o deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), envolvido em uma polêmica durante audiência pública no município gaúcho Vicente Dutra, em 2013. Heinze foi filmado afirmando que o ex-ministro Gilberto Carvalho e a presidenta Dilma estavam “aninhados a quilombolas, índios, gays, lésbias, tudo o que não presta”.

Uma “coincidência” é que boa parte dos que se manifestaram contra a reforma da Previdência na Câmara e no Senado aparece nas últimas posições. O “fim” do levantamento, inclusive, é praticamente dominado por parlamentares de esquerda, a partir de critérios como qualidade legislativa (voto a favor de projetos considerados positivos, de acordo com um conselho do próprio site), formação (quem tem diploma universitário recebe maior pontuação) e processos judiciais.

Alguns desses parlamentares de esquerda sequer respondem a processos judiciais, mas estão piores posicionados no ranking do que um deputado condenado: Celso Jacob (PMDB-RJ), preso em regime semiaberto. Os progressistas também estão bem atrás do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Na 423ª posição, o tucano chegou a ser afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal e só retomou as funções parlamentares após a base governista “liberá-lo”.

Apesar de aparecer como último colocado da página políticos.org.br, o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ), está há sete anos consecutivos entre os “Cabeças do Congresso”. O levantamento do DIAP é feito anualmente desde 1994, sendo divulgado desde então por páginas progressistas e veículos da grande imprensa.

Os conselheiros do “Ranking”

O site políticos.org.br afirma ser uma iniciativa particular dos fundadores – Alexandre Ostrowiecki e Renato Feder. Eles ainda garantem que são “os únicos financiadores desse projeto”.

A página conta com um Conselho Estratégico e, entre os membros, está Regina Esteves, presidenta do Centro Ruth Cardoso, ligado ao PSDB.

Outro integrante do conselho é o empresário Eduardo Mufarej, fundador do movimento RenovaBR, que afirma selecionar, preparar e acelerar novas lideranças políticas. A organização pretende distribuir “bolsas” de até R$ 72 mil e financiar cursos de formação política a até 150 possíveis candidatos a deputado federal e estadual em 2018. Mufarej garante que, por ora, tudo sai do próprio bolso.

A reportagem do jornal Valor Econômico, Mufarej afirmou que o RenovaBR disponibilizaria uma conta em janeiro para que “qualquer pessoa física ou jurídica doe e ajude a financiar as bolsas”, sendo a identificação do doador opcional. “Caso a organização receba de outros empresários, o bolsista não saberá a origem da verba que poderá ir para sua conta”, completou.

A RenovaBR é auxiliada por entidades como o Centro de Liderança Política, do cientista político Luiz Felipe d’Avila, pré-candidato a governador de São Paulo pelo PSDB. Além disso, a iniciativa ainda conta com o apoio do apresentador da TV Globo Luciano Huck e o ex-presidente do Banco Central durante o governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga.

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