Deputado Odair Cunha (PT-MG), à direita, desmontou estratégia de ex-assessor do contraventor Carlos Cachoeira |
Os integrantes da CPMI do esquema Cachoeira não esperavam, mas o ex-presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia, Wladimir Garcez, decidiu falar. Desde que fosse a seu favor, desmentindo as informações levantadas durante meses de investigação da Polícia Federal. Na abertura da sessão desta quinta-feira (24/05), ele usou os vinte minutos de tempo que lhe foram concedidos pela presidência para reclamar da imprensa, dizer que é vítima de montagens e armações com objetivos que ele desconhece e lamentou estar preso há 86 dias. Mas não comoveu nem convenceu o relator Odair Cunha (PT-MG) que, com argumentos, desmontou a tentativa de Garcez de conquistar a opinião pública e se passar por vítima de um conluio para incriminá-lo. Após desmontar a estratégia do assessor de Cachoeira, o relator o liberou da oitiva para ser levado para onde se encontra seu antigo empregador – o presídio da Papuda, no Distrito Federal.
Irritado, Odair Cunha estranhou o fato de Garcez negar que conheça as acusações e, ainda assim, usar todo o tempo disponível para tentar desmontá-las. “Não podemos aceitar que esse senhor que foi o braço direito de uma organização criminosa diga o que quiser aqui e nós não possamos dizer nada. Afinal, ele não está preso há 80 dias à toa”, disparou Cunha.
Wladimir Garcez se gabou de ser amigo de políticos, autoridades e até ministros de Estado. Por isso, teria sido contratado tanto pela construtora Delta Engenharia, quanto por Cachoeira para fazer a ponte entre eles e essas autoridades. Mas garantiu que não havia feito nenhuma intermediação ou transação ilegal.
Garcez disse que ele mesmo quis comprar a casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), por R$ 1,4 milhão. Como não tinha dinheiro suficiente, pediu emprestado para o ex-diretor da Delta Centro-Oeste, Cláudio Abreu, de quem teria recebido três cheques. Relatou, então, que não conseguiu dinheiro para pagar o empréstimo e, assim, repassou a casa para o empresário Valter Paulo.
Ele disse ainda que a casa foi emprestada por Valter Paulo para que a mulher de Cachoeira, Andressa Mendonça, ocupasse o imóvel, enquanto outra casa, no mesmo condomínio, estivesse
Depois do relato inicial, recusou-se a responder às perguntas dos parlamentares, repetindo a mesma tática utilizada ontem pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Alguns parlamentares tentaram por fim à sessão, mas Odair Cunha não aceitou. Disse que se Garcez pôde usar seu tempo para se defender, tinha que continuar sendo inquirido, sob pena de que a sua palavra prevalecesse sobre os fatos.
Foi apoiado pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que é advogado: “Não podemos renunciar às perguntas. O relator tem que concluir sua inquirição ou corremos o risco de que a única versão sobre esse assunto seja a do depoente. Se ele não quiser responder, é um direito que a Constituição lhe assiste”, argumentou. O presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) também disse que o fato de Garcez ter falado na abertura dos trabalhos criava um fato novo e, por isso, Odair Cunha deveria, sim, seguir com seu questionamento.
Odair Cunha, então, relatou que os dados da operação Monte Carlo demonstram que Garcez era o principal articulador político do esquema criminoso de Carlinhos Cachoeira e que ele despachava com diversos integrantes do governo de Goiás. E perguntou sobre as 237 referências ao governador goiano Marconi Perillo nas interceptações telefônicas das conversas entre Garcez e Cachoeira. O depoente, naturalmente, manteve-se em silêncio.
Como também não respondeu às perguntas sobre a cota de nomeações que Cachoeira teria no governo goiano ou sobre as doações do bicheiro para campanhas políticas em Goiás e no Tocantins. Nem, tampouco, à pergunta sobre o transporte e entrega de uma caixa com R$ 500 mil – conforme interceptação de uma conversa telefônica.
No final, Odair Cunha ainda questionou sobre quais interesses Garcez defenderia junto ao governo do Distrito Federal.
Sem qualquer resposta, Garcez foi retirado da sessão e retornou à prisão. Em seguida, foram chamados os outros dois depoentes: o sargento da aeronáutica Idalberto Martins, o Dadá – suspeito de arregimentar policiais para as atividades criminosas do grupo e de fazer espionagem para o esquema e Jairo Martins, que seria um dos espiões do grupo. Ambos se recusaram a falar e foram logo dispensados.
Giselle Chassot
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