Calado, Cachoeira cansa e irrita integrantes da CPMI

Calado, Cachoeira cansa e irrita integrantes da CPMI

Duas horas e meia de perguntas e uma única resposta, com poucas variações: “calado, senhor”. Pouco antes, havia acrescentado: “tenho muito a dizer, mas só depois”. Esse é o resumo do depoimento do contraventor Carlos Augusto Ramos – o Carlinhos Cachoeira – à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) na tarde desta terça-feira (23/05).

Cachoeira seguiu rigorosamente as instruções de seu advogado Márcio Thomaz Bastos e repetiu à exaustão que só falaria depois de seu depoimento à Justiça – que está marcado para o final deste mês. Como prestou “depoimento” como investigado, o contraventor tinha, constitucionalmente o direito de ficar calado diante das perguntas dos parlamentares.

Logo no início da sessão, o presidente da CPMI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), já convencido de que o contraventor não falaria, propôs o fim da sessão: “Indago a vossas Excelências se não seria de bom alvitre, mais prudente anteciparmos o encerramento dessa reunião”, questionou Vital. O relator, Odair Cunha (PT-MG) também defendeu a ideia, que acabou vingando com a aprovação de um requerimento que pôs fim à  repetitiva cantilena de Cachoeira.

Vários parlamentares já haviam deixado a sala da CPMI antes, demonstrando irritação ou constrangimento com o malfadado depoimento. O líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE) resumiu a situação: “Não vou fazer nenhuma pergunta porque já sei que ele não vai responder”.

cachoeira_2205cpi1Inquisição frustrada
Mais magro, sem óculos e com os cabelos curtos e grisalhos, o bicheiro ensaiou um ataque logo no começo de seu depoimento. Disse que foi “forçado” a comparecer. “Estou aqui como manda a lei, para responder. Constitucionalmente, fui advertido pelos advogados para não falar nada. Somente depois da audiência que teremos no juiz, se porventura esta CPMI achar que eu deva contribuir, podem me chamar que eu responderei a qualquer pergunta”, disse

O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG) foi o primeiro a tentar questionar o contraventor. Ele quis que Cachoeira dissesse qual era seu ramo de atividade dele. “Eu ajudaria muito, deputado, mas somente depois da minha audiência. Por enquanto, ficarei calado, como manda a Constituição”, declarou Cachoeira.

O depoimento foi encerrado por volta das 16h30, após votação e decisão da maioria dos presentes. Cachoeira deixou o Congresso e foi acompanhado por um comboio da Polícia Federal até a Penitenciária da Papuda, onde está preso, mas deve ser convocado outras vezes para depor à CPI.

Redes
O não depoimento de Carlinhos Cachoeira acabou se tornando o assunto mais comentado do Twitter brasileiro nesta terça-feira. Pouco depois de começar a ser sabatinado pelos parlamentares, o bicheiro já era destaque na rede de microblogs. Ironizando o fato de o contraventor não responder a nenhuma pergunta dos parlamentares, os internautas enviaram questões hipotéticas a Cachoeira.

A hashtag #PergunteaoCachoeira chegou a assumir o primeiro lugar nos Trending Topics (TTs) nacionais, a lista dos temas mais debatidos pelos usuários do Twitter.

Prisão 
Cachoeira foi preso em fevereiro pela Polícia Federal, durante a Operação Monte Carlo, e levado para a penitenciária de Mossoró (RN). Em abril, foi transferido para o presídio da Papuda, em Brasília. Ele é apontado como chefe de uma quadrilha que explorava o jogo ilegal em Goiás e tinha vínculo com autoridades públicos e parlamentares, segundo a investigação da PF. 

Giselle Chassot com agências online


Fotos: André Corrêa e Agência Brasil

Foto externa: Agência Senado
 

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