A ida de Costa na CPI foi, também, sua primeira oportunidade de se manifestar publicamente desde que saiu da prisão, há três semanas. O ex-diretor, funcionário concursado da empresa durante 35 anos, passou 59 dias recluso em Curitiba porque, conforme investigação da Polícia Federal, é suspeito do recebimento de R$ 7,9 milhões em propinas na época em que ocupou cargo na petrolífera, entre 2011 e 2012.
O grupo de jornalistas presente à sala da comissão esboçou reação – ainda que tímida – apenas em um momento durante o depoimento. Desde que deixou a diretoria de Abastecimento da Petrobras, o executivo se dedica a empresas próprias, nas quais faz intermediação de negócios. Uma das transações, conforme revelou aos parlamentares, é objeto de contrato para a venda de uma ilha cuja proprietária são as Organizações Globo, grupo do qual fazem parte o jornal O Globo e a TV Globo. Um discreto chiado se seguiu à revelação.
Logo depois do fim do depoimento, os senadores Humberto Costa e José Pimentel conversaram com os repórteres que acompanharam a fala de Paulo Roberto da Costa. O interesse dos jornalistas era por uma avaliação do depoimento e também pelos aos documentos que a comissão espera receber do Supremo Tribunal Federal e da Polícia Federal. Ao responder sobre o seguimento dos trabalhos, o relator informou que o próximo a ser ouvido será o gerente geral de Implementação de Empreendimentos para a Refinaria Abreu e Lima, Glauco Colepicolo Legati, em data que depende da definição do calendário do Congresso Nacional.
Entrevista com o senador Humberto Costa (PT-PE)
Humberto: questões técnicas esclarecidas
Repórter: Qual a avaliação do senhor do depoimento? Ele esclareceu as perguntas? Na avaliação do senhor não houve superfaturamento ou irregularidades na construção da Refinaria de Abreu e Lima?
Senador Humberto Costa: Eu entendo que o depoimento foi satisfatório. Uma série de questões essencialmente técnicas foram esclarecidas. Acusações que foram feitas, foram negadas, mas nós vamos poder confrontar com os documentos que já foram requisitados para identificar se, de fato, o depoente foi fiel à verdade dos fatos.
Repórter: Senador, quando chegarão esses documentos? Porque aqui foi uma sessão de palavra minha contra a palavra dos outros.
Exatamente. A nossa expectativa é de que o Supremo Tribunal Federal possa nos enviar, o mais rapidamente possível, esses documentos. Até porque seria importante que nós tivéssemos antes dos depoimentos esses documentos para que pudéssemos fazer a confrontação entre o que estava sendo dito e o que estava escrito. Infelizmente isso não aconteceu até agora. Mas, se for necessário qualquer dos depoentes poderão ser reconvocados.
Repórter: O senhor sai convencido de que não houve irregularidade, superfaturamento?
Eu creio que as explicações técnicas em relação ao custo, especialmente da Refinaria Abreu e Lima, elas foram bastante fundamentadas, bastante coerentes. Se eventualmente alguma coisa mais houve que pode ser detectada nas conversas que aconteceram e foram gravadas pela Polícia Federal, por exemplo, é uma outra realidade. Mas, do que foi explicado aqui, eu acredito que há explicações que justificam determinadas situações.
Repórter: A proximidade de Paulo Roberto (da) Costa junto do doleiro Alberto Youssef não complica a situação dele?
Veja, nós exploramos essa aproximação. Ele negou que essa aproximação fosse grande. Ele negou várias das denúncias que surgiram por intermédio dos vazamentos da investigação. Mas nós ficamos de nãos atadas para verificar se isso aconteceu ou não. Só poderemos fazer essa confrontação no momento em que os documentos aqui estiverem.
Pimentel: à espera do inquérito da Lava Jato
Entrevista com o senador José Pimentel (PT-PE)
Repórter: A avaliação que o senhor faz é que foi um depoimento técnico, ele esclareceu as dúvidas ou o senhor vai precisar dos documentos do Supremo para confrontar o que ele disse?
Senador José Pimentel: Procuramos transformar em 70 quesitos as informações que circularam na imprensa, nas matérias divulgadas pelos delegados da Polícia Federal, pelos procuradores, e as informações que nós já tínhamos. Ele respondeu os quesitos e, em seguida, a consultoria fará uma confrontação, juntamente com o relator, com os documentos que a gente tem na Casa. Portanto, nós procuramos receber do depoente o máximo de informações, que serão complementadas pela parte técnica.
Repórter: Mas os documentos do Supremo não chegaram para o senhor confrontar com o que ele disse aqui.
O Supremo Tribunal Federal ainda não forneceu para nós as cópias do processo da Operação Lava Jato. E nós temos, através da imprensa, uma série de depoimentos, inclusive aspeados, dizendo onde tinham sido colhidos. E dali nós transformamos em quesitos.
Repórter: Essa proximidade do Paulo Roberto (da) Costa com o Alberto Youssef, o doleiro, não complica a situação dele?
Vamos aguardar o inquérito da Operação Lava Jato para que a gente possa aprofundar essas relações.
Repórter: Só para esclarecer: quais são os documentos que serão confrontados com o depoimento dele, que o senhor disse que a assessoria vai analisar?
Todos os documentos que nós já requisitamos, a exemplo de todo o inquérito da Operação Lava Jato, tanto ao juiz da ação, no Estado do Paraná, como ao Supremo Tribunal Federal, o relator do processo. Ao mesmo tempo, nós temos uma série de outros documentos do Tribunal de Contas da União que dizem respeito sobre as investigações feitas na Abreu e Lima. Além da CGU, que é a nossa Controladoria-Geral da União.
Repórter: O próximo depoimento ainda não tem, né, senador? Ainda não está marcado nem se sabe quem é.
Nós estamos aguardando a definição da agenda do Congresso Nacional, que será fixada após a ordem do dia desta terça-feira. A partir dali nós ordenaremos os nossos trabalhos. A intenção nossa é dar continuidade à questão da Abreu e Lima. Por isso o senhor Glauco, que é o gerente-geral da Abreu e Lima, deverá ser o próximo convocado.