Baixa produtividade, aumento da inflação, fome. Essas são as consequências que as mudanças climáticas trarão nos próximos anos para a agricultura e a economia mundiais. E como refrear isso? Transformando o uso da terra, socorrendo as florestas, que devem ser vistas como aliadas e não como obstáculo ao agronegócio. A advertência, publicada em matéria do UOL nesta segunda (7), vem do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), cujo relatório mais recente – ainda em fase de conclusão – será discutido a partir do dia 14 por líderes de nações de todo o mundo.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES), ex-presidente da Comissão de Meio Ambiente (CMA), acredita que o Brasil “está no olho desse furacão” e cobra mudanças na política econômica e ambiental: “o agronegócio puxa as exportações brasileiras, e a fatura chegou para todos pagarem. É preciso que os agentes econômicos se abram a mudanças. A sustentabilidade ambiental anda junto com gestão pública eficiente, com garantia de saúde pública e com negócios responsáveis.”
O relatório reforça o discurso que parlamentares como Jaques Wagner (PT-BA), atual presidente da CMA, utilizaram na COP 26 (Conferência das Nações sobre Mudanças Climáticas), em Glasgow, em novembro passado, para sensibilizar autoridades governamentais a fechar acordos mais ousados para mitigar efeitos das mudanças do clima no planeta. No plano interno, Jaques Wagner chama a atenção para a postura equivocada e tímida do governo frente à agenda climática mundial. E tem apelado para que o Congresso assuma a dianteira na discussão de alternativas.
Na CMA, essa preocupação tomou a forma de um grupo de trabalho, o Fórum da Geração Ecológica, que em junho deve apresentar o Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável, um conjunto de soluções legislativas para equilibrar agronegócio e meio ambiente, produtividade e respeito às florestas. O Fórum, explicou Jaques Wagner, “promove debates temáticos sobre cinco temas da área de desenvolvimento econômico, social e ambiental, e o documento final deve contemplar um arcabouço legislativo para subsidiar um plano que possa recuperar o prestígio brasileiro na arena ambiental internacional, reafirmar a liderança do país geopoliticamente, assim como viabilizar a abertura de novos postos de trabalho e trazer bem-estar ao povo brasileiro, com base na proteção e restauração da nossa biodiversidade”. Ou seja, tudo que o IPCC recomenda a países de vasta produção agrícola como o Brasil.
Não é para menos. O Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa e responde por aproximadamente 3% das emissões globais. Um terço dessas emissões é provocado pela agropecuária. Outros 27% vem do desmatamento e da mudança nas regras de uso da terra. Mas no Palácio do Planalto não se veem ações para aliviar esses números. Ao contrário. Sob Bolsonaro, o país desmontou suas políticas de promoção ambiental.
Para se ter uma ideia, o trabalho desenvolvido nos governos do PT, que propiciou a redução do desmatamento anual de 27,8 mil km² em 2004 para 4,6 mil km² em 2012, uma redução de 83,4%, foi por água abaixo nos últimos anos. Até o Fundo Amazônia, conquistado exatamente pelo desempenho daqueles governos, e que servia para financiar a conservação e o uso sustentável das florestas, foi paralisado em 2019.
De lá para cá, só pioram os efeitos do descaso com o meio ambiente. A mais recente foto dessa tragédia foi batida pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na semana passada: as três primeiras semanas do ano registraram cerca de 360 km² de floresta amazônica destruídos. É a maior área desmatada no período desde que a medição começou a ser feita, em 2015. No Twitter, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) resumiu o quadro atual.
“Enquanto a emergência climática é um tema central para o futuro do planeta e prioritário no concerto nas nações, o Brasil bate recordes de desmatamento. Esse é um dos motivos de Bolsonaro ter transformado o país em um pária internacional”, alertou.