A explosiva combinação entre a redução da renda da população e o descontrole da inflação parecer ser uma meta do desgoverno Bolsonaro. E o resultado caminha para aprofundar a já trágica situação dos brasileiros: o aumento da pobreza, com menos dinheiro no bolso e tudo cada vez mais caro.
A renda média dos que ainda conseguem ocupação no país caiu ao menor nível da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012, e o Brasil fechou 2021 novamente com mais desempregados do que antes da pandemia.
Os números anunciados nesta quinta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também consolidam o avanço da precarização dos empregos, iniciada com a “reforma trabalhista” de Michel Temer.
A renda média do brasileiro no último trimestre de 2021 ficou em R$ 2.447, uma redução de 10,7% em comparação com o mesmo período de 2020. Em relação ao trimestre anterior, o recuo foi de 3,6%.
A essa piora se soma a alta inflacionária, que já superou os dois dígitos – fechou 2021 em 10,06%. E a tendência é de alta. Em fevereiro, o recém-divulgado IPCA-15 chegou a 0,99%, 0,41 ponto percentual acima da taxa de janeiro (0,58%). Foi a maior variação para um mês de fevereiro desde 2016 (1,42%). O índice acumula alta de 10,76% nos 12 meses anteriores.
“A renda média do brasileiro continua caindo na gestão Bolsonaro. Isso entre aqueles que ainda têm alguma renda. A fome e a miséria voltaram após anos. E o povo não aguenta mais”, reagiu o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA). Para ele, a solução está nas eleições. “Não há outra saída: ou tiramos o presidente nas urnas ou este país quebra”, concluiu.
O senador Paulo Paim (PT-RS), referência histórica na defesa dos direitos trabalhistas, revelou espanto com os números. “Os dados que mostram a queda de rendimentos dos trabalhadores e das trabalhadoras são assustadores. Com a inflação e o custo de vida explodindo, o carrinho do supermercado cada vez com menos produtos, aumento dos combustíveis e da luz, esse cenário piora ainda mais a situação da nossa gente”, afirmou.
“Ainda por cima, o atual governo liquidou com a Política Nacional de Valorização do Salário mínimo, PIB mais inflação. Aonde vamos parar?”, desabafou, referindo-se a uma das principais políticas públicas de distribuição de renda que vigorou nos governos Lula e Dilma para garantir ganho real do salário mínimo, que todos os anos era reajustado levando em consideração a taxa da inflação do ano anterior somada à variação do PIB de dois anos antes.
No início da semana, durante o seminário Trabalho, Emprego e Renda promovido pelo PT, a política de valorização do salário mínimo foi apontada pelo diretor-técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior, como o instrumento que mais dinamizou a redução da desigualdade no país. “Aumentou a renda dos mais pobres em quase 40%, enquanto a dos mais ricos aumentou 8%”, comparou.
Desemprego
Ainda segundo a Pnad Contínua do IBGE, a taxa média de desocupação recuou para 13,2% no último trimestre de 2021, ainda acima da fase pré-pandemia (12%). O número médio de desocupados foi estimado pelo IBGE em 13,9 milhões, quantia 59% maior que a registrada em 2015.
Já o número de pessoas ocupadas no período chegou a 95,7 milhões – alta de 9,8% em comparação a 2020. O nível de ocupação (ocupados na população em idade de trabalhar) chegou a 55,6%. O resultado de 2020 (51,2%) era o menor da série histórica, enquanto o melhor momento foi entre 2013 e 2014 (58,1%).
Trabalho precarizado
O crescimento do número de pessoas ocupadas no ano passado foi potencializado principalmente pelo trabalho informal. Enquanto os empregos com carteira assinada subiram 9,2% em 2021 (de 31,6 milhões para 34,5 milhões), postos de trabalho sem garantias legais tiveram alta de 18,3% (de 10,5 milhões para 12,4 milhões).
O número de trabalhadores por conta própria atingiu 25,9 milhões de pessoas, com crescimento de 13,1% em relação a 2020. A alta corresponde a 3 milhões de pessoas no ano. A quantidade de trabalhadores domésticos aumentou 22,1% no ano passado e atingiu 5,7 milhões (1 milhão a mais do que em 2020). Segundo o IBGE, a taxa de informalidade foi de 40,7% da população ocupada, o que corresponde a 38,9 milhões de pessoas. O percentual era de 39% em 2020.
A taxa de subutilização em 2021 foi a 27,2%, abaixo apenas de 2020 (28,2%). A população subutilizada, pessoas que gostariam de trabalhar mais, foi estimada em 31,3 milhões, queda de 1,2% em relação ao ano anterior. Já os desalentados, que desistiram de buscar oportunidades, somaram 5,3 milhões, pouco menos do que o recorde de 2020 (5,5 milhões). O percentual de desalentados na força de trabalho caiu de 5,4% para 4,3%.
Descontrole
A coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy, explica que a taxa média de desocupação de 13,2%, a segunda maior da série, reflete a situação do mercado de trabalho no momento em que a ocupação volta a crescer após um ano de perdas intensas.
“Muitas pessoas ao longo dos dois anos perderam suas ocupações e várias delas interromperam a busca por trabalho no início de 2020 por causa da pandemia”, lembra a pesquisadora. “Depois houve uma retomada dessa busca, ainda que o panorama econômico estivesse bastante desfavorável, ou seja, não havia uma resposta elevada na geração de ocupação.”
Ainda segundo Adriana, em 2021, com o avanço da vacinação, houve crescimento do número de trabalhadores no mercado. “Mas ainda persiste um elevado contingente de pessoas em busca de ocupação”, ressalta.
Ouvido pela Folha de S.Paulo, o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, disse que o rendimento menor reflete a escalada da inflação no Brasil. “A inflação bateu de maneira pesada em itens básicos para o consumo da população. Entre ficar sem receber ou ganhar menos, parte das pessoas está se inserindo no mercado com uma renda menor. Elas precisam pagar suas contas no curto prazo.”
O professor de economia do Insper Sergio Firpo aponta outro fator: o retorno dos trabalhadores informais ao mercado. “No começo da pandemia, quem mais sofreu foram os trabalhadores de menor qualificação. Agora, eles voltam ao mercado, mas os salários estão menores. Isso puxa a renda média para baixo”, conclui o professor.
Imaizumi e Firpo avaliam que a reação do mercado de trabalho em 2022 é ameaçada pelo cenário de baixo desempenho da economia como um todo. Economistas e instituições financeiras projetam variação do Produto Interno Bruto (PIB) próxima de 0% neste ano, sob efeito da inflação persistente, dos juros mais altos e do absoluto vácuo de propostas da equipe econômica do desgoverno Bolsonaro.
(Com Agência PT de Notícias e Agência IBGE Notícias)