Convidados para a audiência na Comissão de Direitos Humano dizem que, interesses internacionais querem impor controle populacional no Terceiro MundoValeu qualquer argumento para tentar convencer a audiência nesta quinta-feira (28), de que o aborto é o ápice da cultura da morte. Valeu chamar de “controle populacional intermediado pelo capitalismo internacional”. Valeu classificar de “modificação de valores da sociedade brasileira”. Valeu definir como perversão dos direitos humanos. Valeu até parlamentar ligado a bancadas religiosas dando depoimentos emocionais.
Foi a segunda audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) para debater a interrupção voluntária da gravidez até a 12ª semana de gestação. Outras três ainda devem ser realizadas. A discussão foi proposta por mais de 20 mil pessoas por meio do Portal e-Cidadania.
Na outra ponta, cientistas tentando argumentar que, em países onde o aborto é clandestino – mas não deixa de ser praticado – as mulheres, principalmente as mais pobres e as negras – morrem muito mais por complicações da interrupção da gravidez que eu países onde isso é legal.
Na reunião de hoje, alguns participantes pareciam soldados na trincheira em defesa de uma causa sagrada. Valeu até apelar para a religiosidade e os dogmas que vêm com ela. O diretor da Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família, Hermes Rodrigues Nery, que antes de falar fez o sinal da cruz, atacou a “colonização” das escolas e do pensamento, que está sendo condicionado a defender “ a cultura da morte e o totalitarismo do controle populacional”.Ele também criticou a “laicidade” do Parlamento, que tenta afastar a moral cristã.
Nery chegou mesmo a criticar os anticoncepcionais dizendo que as políticas de controle familiar são nada mais que uma forma de mudar a conformação mundial de populações e reduzir o número de pobres.
Representante do Observatório Interamericano de Biopolítica, Fernanda Takitani associou a defesa do aborto às políticas de controle populacional do Terceiro Mundo. E acusou algumas Organizações não-Governamentais brasileiras de receberem recursos de instituições internacionais, como a Fundação Mac Arthur, para apoiar causas que, no fundo, visam a controlar o crescimento populacional do Terceiro Mundo.
Thomaz Gollop, representante do Grupo de Estudos do Aborto (GEA) lembrou que ninguém, em sã consciência, defende o aborto. Mas a prática existe há séculos. Ele demonstrou que, em países onde não se criminaliza o aborto, a proporção de mortes decorrentes da interrupção da gravides é de uma para cem mil. Nos países onde isso é ilegal, a proporção cai drasticamente e chega a um por cem.
“A questão não é ser contra ou favor, é se a mulher que faz aborto deve ou não ir para a cadeia. Cadeia é o que preconiza o Código Penal vigente”, explicou Gollop, que é ginecologista e atua em renomados hospitais e maternidades. Ele lembrou que a punição, nesses casos, é de um a seis anos de detenção. Ainda bem que essa lei não funciona”, disse,destacando, no Brasil, um a mulher morre a cada dia por complicações decorrentes do aborto inseguro.
O ponto em discussão é a saúde pública; a morte de mulheres em condições próprias, observou Gollop. “Ninguém, nenhum homem é capaz de decidir por uma mulher sobre se ela deve ter um filho naquele momento, porque filho é um projeto de vida”, defendeu.
“A ilegalidade do aborto não coíbe a sua prática e perpetua as iniquidades socioeconômicas em que é realizado e este é o problema”, concluiu o especialista.
Também participaram dos debates representantes da UnB ,da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de movimentos pró e contra a legalização do aborto.
Giselle Chassot
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