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Sem pudores, Pazuello volta a mentir aos senadores em CPI

Senadores reiteram que ex-ministro da Saúde voltou à CPI e manteve postura mentirosa do dia anterior. “Estamos diante de uma investigação de um crime contra a saúde pública e um crime contra a vida”, disse o senador Rogério Carvalho
Sem pudores, Pazuello volta a mentir aos senadores em CPI

Foto: Alessandro Dantas

O ex-ministro Eduardo Pazuello voltou a mentir à CPI da Covid nesta quinta-feira (20) em sua tentativa de tirar dos ombros de Bolsonaro a responsabilidade acerca da demora do governo brasileiro na aquisição de vacinas, a recomendação de cloroquina para tratamento de Covid-19, a falta de oxigênio em Manaus e a utilização da ferramente TrateCov.

Pazuello mentiu na quarta-feira ao afirmar que a plataforma TrateCov havia sido mostrada em Manaus em janeiro como um “protótipo”, ou seja, uma ferramenta em desenvolvimento.

A calculadora desenvolvida pelo Ministério para, segundo Pazuello, “facilitar o diagnóstico da doença” foi usada não apenas de forma experimental como foi lançada pelos canais oficiais do governo.

“Para provar ao Brasil que o senhor faltou a verdade ao Brasil na questão do TrateCov. Reportagem da TV Brasil já trazia a informação do uso da plataforma que também orientava a prescrição [de medicamentos]”, enfatizou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo aponta que 340 médicos de Manaus foram habilitados a usar a plataforma após o lançamento em 14 de janeiro. Uma matéria da TV Brasil da época informava que o programa já estava em uso em Manaus, e trazia o depoimento de um médico que utilizou o aplicativo.

“Nós estamos aqui discutindo 441.864 mortes. Se temos esse número de mortes, é porque tivemos milhões de brasileiros que se infectaram. E quando fazemos a avaliação de uma pandemia, a gente precisa saber que medidas preventivas para evitar a expansão da pandemia não foram adotadas. Estamos diante de uma investigação de um crime contra a saúde pública e um crime contra a vida”, completou o senador Rogério Carvalho.

Foto: Alessandro Dantas

O líder da Minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), disse que o depoimento do ex-ministro da Saúde mostrou o poder “devastador” das orientações equivocadas do governo Bolsonaro, ao longo da pandemia, como o estímulo ao uso de medicação sem comprovação científica e o chamado tratamento precoce.

“Eu exibi aqui uma prova de como é importante nós termos um governo confiável. Uma demonstração do efeito devastador que tem do alto risco de uma recomendação superior, sistematização superior de uma prática sem comprovação e que dá a falsa sensação de segurança, de blindagem contra o vírus. E isso, certamente, levou muita gente a descuidar, a relaxar nos cuidados e no isolamento [social]”, criticou o senador Jean Paul, após exibir trechos de vídeos onde o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fez a defesa pública do app TrateCov, na cidade de Manaus.

Rogério Carvalho ainda solicitou o envio das oitivas de Eduardo Pazuello ao Ministério Público, a exemplo do que foi feito com o depoimento do ex-secretário especial de Comunicação da Presidência da República, Fábio Wajngarten.

Após as críticas, Pazuello voltou atrás e informou os que pediu a retirada do TrateCov do ar após o sistema ter sido hackeado. “O hacker é tão bom que ele conseguiu botar uma matéria na TV Brasil”, rebateu o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM).

O TrateCov, que seguia a linha do tratamento precoce defendido pelo governo Bolsonaro, indicava uma série de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento de pacientes com Covid-19.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu nota em 21 de janeiro pedindo ao Ministério da Saúde que retirasse imediatamente do ar o aplicativo TrateCov.

Bolsonaro decidiu não enviar ajuda para Manaus
Questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), acerca da decisão do governo federal em não colaborar diante da crise da falta de oxigênio enfrentada pelos hospitais do estado do Amazonas durante a pandemia, o ex-ministro informou que isso foi “decidido em reunião interministerial” com a presença do governador do estado.

Apesar dos apelos feitos à época, inclusive do senador Eduardo Braga (MDB-AM), para que houvesse uma intervenção federal para corrigir o desabastecimento de oxigênio voltado a atender pacientes internados com Covid-19, Pazuello explicou que a decisão foi pela não intervenção.

Randolfe questionou se quem decide pela intervenção, se são os ministros, ou o presidente. E Pazuello informou que Bolsonaro estava presente à reunião. “Essa decisão foi feita nesta reunião”, disse o ex-ministro.

Ofertas de vacinas ignoradas
Pazuello também voltou a negar, no segundo dia de depoimento, que presidente da República tenha mandado cancelar compra de vacinas. Sobre a célebre frase “um manda, outro obedece”, dita por Pazuello ao lado de Bolsonaro em outubro do ano passado, o ex-ministro voltou a dizer que se tratava apenas de uma “posição de internet” e que a posição do presidente não interferiu em contratos de compras de vacinas.

O fato é que Bolsonaro desautorizou, em outubro do ano passado, o então ministro Pazuello e determinou a suspensão da compra de 46 milhões de doses da vacina Coronavac.

Sobre as ofertas de vacinas da Pfizer, Pazuello havia afirmado que respondera a todas as ofertas de vacinas da farmacêutica, mas que as negociações não avançaram no segundo semestre de 2020 pela imposição de “cláusulas assustadoras” no contrato. Ele contradisse o CEO da Pfizer, Carlos Murillo, e o ex-chefe da Secom, Fábio Wajngarten, que afirmaram que as ofertas foram ignoradas pelo Ministério da Saúde.

O senador Jean Paul Prates não descartou a necessidade de acareações em função dos desencontros de informações nos depoimentos feitos na CPI da Covid.

 

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