O título ao meu pai só valerá quando não |
O plenário do Senado, em sessão solene desta segunda-feira (16), acrescentou mais um capítulo à história do maior herói brasileiro do século 20: na data em que completou 25 anos de sua morte, Chico Mendes foi instituído como Patrono do Meio Ambiente Brasileiro. O título, aprovado na última quarta-feira (11) pelo plenário do Senado Federal, começa a valer hoje com a sanção da presidenta Dilma Rousseff e a publicação no Diário Oficial da União. A medida foi lembrada pelo senador Jorge Viana (PT-AC), ao presidir a abertura de uma sessão do Congresso Nacional, no final desta manhã, que homenageou a vida e o legado do ambientalista.
Proposta pelo senador Aníbal Diniz (PT-AC) e pelo deputado Sibá Machado (PT-AC), a sessão do Congresso durou quase duas horas e contou a presença da filha de Chico Mendes, Ângela Mendes. Em um discurso emocionante, Ângela, que tinha 18 anos quando seu pai foi assassinado na porta de casa, destacou que a “voz” de Chico Mendes continua ecoando e inspirando a defesa do meio ambiente, mas que o grupo que seu pai combatia ainda continua organizado, prejudicando, por exemplo, a reforma do Código Florestal e tentando diminuir a proteção constitucional dos povos da floresta, dentre eles os índios.
“Meu pai nunca gostou de títulos, por isso digo sem medo de errar que na visão dele: o título de patrono do meio ambiente só valerá quando não houver mais nenhuma morte ou ataques contra aqueles que de fato defendem o meio ambiente brasileiro”, finalizou Ângela Mendes.
Após fazer um breve relato da biografia de Chico Mendes, Aníbal Diniz destacou que o ambientalista “morreu lutando por seu sonho” e que é preciso “dar seguimento a esse sonho e vencer os desafios que estão postos”. O senador ainda fez questão de enumerar resultados que considera frutos da luta de Chico.
“O desmatamento no Estado do Acre caiu 73% nos últimos dez anos. Também caiu 84% o número de alertas de desmatamento no Estado, de 2012 para 2013, segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE). Na Amazônia Legal, a queda do desmatamento medido foi de
Sibá Machado observou a importância social de Chico Mendes: uma liderança que surgiu das “pessoas mais simples”. A mesma leitura foi feita por Binho Marques, ex-governador acreano e amigo de Chico. “Muitas pessoas tentam entender o Chico como uma liderança tradicional, que quando chega em um ambiente chama a atenção. Não. Ele era uma pessoa discreta, não era de palanque. Tinha uma inteligência refinada que eu vi em poucas pessoas em minha vida. Ele foi realmente um mestre de todos nós que estamos aqui”, disse.
Chico Mendes morreu lutando por um sonho |
“Não só sua morte foi brutal, mas foi brutal o país perder uma pessoa como ele. Por mais que seus ideias estejam vivos, o Chico não esta com a gente. E nada vai superar isso”, lamentou Binho.
Mais que um defensor da causa ambiental, Chico Mendes foi um visionário que enxergou, antes dos alarmes do planeta, que o modelo atual de produção e consumo é insustentável. O que tem sido comprovado dia após dia por pesquisadores e cientista. Na Confederação das Partes de Mudanças Climáticas – a COP 19 –, realizada em novembro este ano em Varsóvia, evidenciou-se como principal preocupação o aumento da temperatura do planeta em função da atividade humana.
“As transformações que estamos tendo no planeta têm uma conexão direta com os ideais do Chico Mendes. A gente pode incluir nesses ideais a economia sustentável e o socio-ambientalismo”, frisou Jorge Viana. “E nenhum de nós precisa esperar nem um único dia para se juntar e levar adiante os ideais de Chico Mendes. Tomara que a nossa juventude, que esta mais perto disso, possa fazê-lo. Viva Chico Mendes!”, completou.
Perfil
Filho de migrantes cearenses, Francisco Alves Mendes e Maria Rita Mendes, Francisco Alves de Mendes Filho, conhecido em todo o mundo por Chico Mendes, começou no ofício de seringueiro ainda criança. Aos 10 anos de idade, acompanhando o pai em excursões pela mata, trabalhava na produção de borracha nas florestas de Xapuri. Só aos 18 anos, por esforço próprio, alfabetizou-se. E foi a partir daí que tornou-se um homem dedicado à organização sindical dos seringueiros.
Em 1976 participou ativamente das lutas dos seringueiros para impedir o desmatamento através dos “empates” – manifestações pacíficas em que os seringueiros protegem as árvores com seus próprios corpos. Um ano depois se elegeu se elegeu vereador em sua cidade natal e ampliou sua participação em diversas organizações sindicais e políticas, transformando suas ideias em uma plataforma abrangente de ações concretas, aí incluída a criação de reservas extrativistas. Também foi nessa época que começou a receber suas primeiras ameaças de morte.
“As transformações que estamos tendo no |
Por volta de 1979, Chico Mendes se aproximou de Lula e participou ativamente da fundação do Partido dos Trabalhadores e foi um de seus dirigentes no Acre. Ele fez de sua bandeira política a luta dos seringueiros pela preservação ambiental. Chico Mendes formou uma aliança entre sua gente e os índios amazônicos, o que persuadiu o governo a criar reservas florestais para a colheita não predatória de produtos como o látex e a castanha do Pará.
Obteve, com isso, um efetivo reconhecimento nacional e internacional, que se traduziu em prêmios como o Global 500, concedido pelas Nações Unidas, em 1987, e no convite para prestar depoimento no Senado dos Estados Unidos.
Conheça mais sobre a luta de Chico Mendes em defesa da floresta
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Catharine Rocha
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