O Ministério da Saúde confirmou, nesta quinta-feira (4), algo que a bancada de oposição ao governo Bolsonaro afirmava ainda no final do governo Temer. A saída dos médicos cubanos do programa Mais Médicos após ataques preconceituosos de Bolsonaro aos colaboradores daquele país deixaria uma parcela da população brasileira sem assistência médica.
Aproximadamente 15% dos médicos brasileiros que entraram no programa após a retirada dos colaboradores cubanos desistiram de participar do Mais Médicos. Entre dezembro de 2018 e janeiro deste ano, 1.052 médicos já desistiram de atuar no programa após a convocação feita para substituir os profissionais cubanos.
“Nós já sabíamos que isso iria ocorrer. É mais uma coisa que precisamos enfrentar, cobrar desse governo uma solução. No momento em que houve a decisão do governo cubano de retirar os médicos cubanos do Brasil, eles [governistas] disseram que isso não atingiria a assistência à saúde da população”, disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
Em Alagoas, por exemplo, cerca de 20 médicos desistiram do programa. Já em Divinópolis (MG), oito profissionais pediram para ser desligados do programa. Outras cidades também relataram dificuldades na assistência médica após a desistência dos profissionais.
“Esse processo demora um certo tempo, porque, primeiro, temos que esperar o programa ‘Mais Médicos’ encaminhar mais profissionais; depois esses médicos têm que se apresentar com toda a documentação e, num terceiro momento, lotarmos esses profissionais nas unidades”, explicou o secretário municipal de Saúde, Iraci Neto, sobre a demora que pode ocorrer no processo de contratação de novos médicos.
A saída dos médicos cubanos desfalcou em aproximadamente 8,5 mil médicos das equipes do Programa Saúde da Família. Dados divulgados pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) no final de 2018 apontavam que aproximadamente 30 milhões de brasileiros foram afetados, num primeiro momento, com a retirada dos médicos cubanos do programa Mais Médicos, em 2.885 municípios.
O senador Rogério Carvalho (SE), relator do projeto de criação do Mais Médicos, em 2013, quando ainda era deputado, questionou se o método da nova política é o da destruição de programas que ajudaram milhões de pessoas pelo País.
“28 milhões de brasileiros foram assistidos com o Mais Médicos. Só no meu estado [Sergipe], foram 607 mil sergipanos [assistidos]. Fui o relator do programa pensando em levar saúde a quem mais precisa. Três meses depois de destruírem o Mais Médicos, o que temos? Desistência de médicos e desassistência do povo. Essa é a “nova” política?”, questionou.
Graças ao Mais Médicos, criado pela presidenta Dilma Rousseff, em 2013, mais de 700 municípios tiveram um médico pela primeira vez. Durante cerca de cinco anos, aproximadamente 20 mil colaboradores cubanos prestaram atendimento a mais de 110 milhões de pacientes, atingindo um universo de aproximadamente 60 milhões de brasileiros por meio do programa Mais Médicos e do convênio firmado entre Cuba, Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Com informações de agências de notícias
Romperam um acordo internacional, expulsaram os cubanos e deixaram o povo sem cobertura de saúde. Está aí o resultado do fim do Mais Médicos. https://t.co/MYBZL48SVG
— Humberto Costa (@senadorhumberto) April 4, 2019
28 milhões de brasileiros foram assistidos com o #MaisMédicos. Só no meu Estado, foram 607 mil sergipanos.Fui o relator pensando em levar saúde a quem + precisa. 3 meses depois de destruírem o programa,o que temos?Desistência de médicos e desassistência do povo.É a nova política? pic.twitter.com/5Yf3ADkWPA
— Rogério Carvalho (@SenadorRogerio) April 4, 2019
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