Gleisi Hoffmann: “Se o resultado já está posto, estamos aqui como gado no brete, indo para o abatedouro”Não faz sentido que uma comissão de senadores tenha sido convocada e se reúna para analisar a admissibilidade do processo contra a presidenta Dilma Rousseff se o resultado já é esperado e não será modificado. A conclusão é da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) que nesta quinta-feira (28) criticou duramente os parlamentares golpistas que fincaram pé e se recusaram a aprovar requerimentos que propunham a apresentação de documentos para embasar a defesa da presidenta.
A comissão se reuniu para ouvir dois dos três autores do pedido de impeachment da presidenta, Janaína Paschoal e Miguel Reale Júnior. O advogado Hélio Bicudo não veio e justificou sua ausência por doença. Antes da exposição, os senadores tentaram aprovar requerimentos para solicitar o envio de informações de diversos ministérios e órgãos de controle sobre os decretos e as operações que sustentam a denúncia. No entanto, foram rejeitados pelo relator, Antonio Anastasia (PSDB-MG), revelando que seu relatório já deve estar pronto e recomendar o afastamento da presidenta.
“Estamos aqui como gado no brete, indo para o abatedouro”, lamentou Gleisi, destacando que a maioria da comissão do golpe não está interessada em ouvir argumentos, mas em garantir o afastamento da presidenta. Brete é aquele corredor de madeira onde os bois são enfileirados para irem para o abate.
Gleisi explicou que os documentos comprovam textualmente que a presidenta não cometeu crime algum. “Estamos aqui vendo o cerceando do direto de a presidenta apresentar sua defesa e as provas de que ela foi orientada a agir ou mesmo a se omitir em determinados casos”, queixou-se.
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), reclamou que os mesmos parlamentares que sempre acusaram os governistas de “passar o rolo compressor” sobre os direitos da oposição agora tratoram o direito de defesa da presidenta. “A tentativa de nos calar aqui tem uma razão e um objetivo: conquistar a opinião pública”, acusou Humberto, lembrando a fatia da população que é contrária ao impeachment da presidenta.
O senador disse ainda que admitir o processo contra a presidenta não traz consequências simples. “Aplica-se uma pena à chefe do Executivo (o afastamento por até 180 dias) e é preciso levar em conta se houve ou não dolo, se é ou não um crime tipificado”, justificou.
De nada adiantaram os apelos. Os oito requerimentos foram rejeitados. Ainda assim, o presidente da Comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB) determinou à secretaria da comissão que os documentos que a senadora Gleisi pede nos requerimentos, com a respectiva certidão, sejam entregues ao relator. Mas evidentemente, não devem ser levados em conta.
Giselle Chassot
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