Após pronunciamento da deputada petista acerca da apresentação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o deputado subiu à tribuna para atacar os militantes dos direitos humanos e chegou a dizer que não estupraria a deputada, porque ela não era merecedora. Na ocasião, Bolsonaro se assumiu como um estuprador.
“Não poderíamos deixar passar o episodio que vivemos ontem em relação à deputada Maria do Rosário. Eu tenho acompanhado os dados de violência no País, e principalmente em violência contra a mulher. Não só a violência domestica, como a prática crescente do estupro, principalmente, em festas universitárias”, disse a senadora Marta Suplicy.
A petista ainda lembrou que, essa não foi a primeira vez que em que o deputado agrediu verbalmente a colega Maria do Rosário. Em 2003, numa discussão no Salão Verde da Câmara, Bolsonaro disse a frase que repetiu ontem no plenário da Câmara: “Não estupro você porque você não merece”, afirmou ele. Na oportunidade, após a frase, o deputado empurrou a deputada e a chamou de vagabunda.
Para Marta Suplicy, esse tipo de atitude é alimentada pela sensação de impunidade. “O cidadão que perpetrou essa fala já agiu assim anos atrás e não aconteceu nada. Por isso ele agiu assim novamente. Podemos pensar no que fazer. Talvez possamos ir ao Supremo Tribunal Federal. Essa é uma postura de retrocesso ao País. Ter entre representantes da sociedade alguém que se comporte dessa maneira com uma colega de trabalho. Isso me deixa muito entristecida”, disse. “O presidente da Câmara, Henrique Alves, me disse em privado, ontem, que, ao menos, uma suspensão tem de ocorrer a esse cidadão”, revelou.
Congresso Nacional deve servir de exemplo
A presidenta da CDH, senadora Ana Rita – que foi relatora da CPMI da Violência contra a Mulher – mostrou preocupação com a atitude de Bolsonaro e defendeu uma punição severa. Para ela, o fato de o deputado não vir a sofrer nenhum tipo de sanção por agressões como essa, pode vir a estimular atos similares em assembleias legislativas estaduais e municipais de todo o País. Além, disso, a senadora Ana Rita informou que, na próxima quinta-feira (11), a CDH divulgará uma nota de apoio à deputada Maria do Rosário e, também, buscará assinaturas de senadores para que a CDH faça uma representação formal à Câmara dos Deputados contra o deputado Bolsonaro.
“Apenas isso não basta. Dessa vez, nós precisamos ir além e tomar uma atitude mais drástica em relação a esse tipo de comportamento. Se o deputado faz isso com uma mulher num espaço público, imagino a sua atitude com as mulheres em espaços privados”, disse.
Ana Rita ainda pediu a mobilização da sociedade para que essa questão não passe em branco e fique impune. De acordo com a senadora, todos os ativistas de direitos humanos, homens e mulheres, foram agredidos com a reação do deputado.
“Ele atacou todas as mulheres do País e, principalmente, agrediu todas as pessoas que militam na área dos direitos humanos no Brasil. E, para mim, isso cabe uma reação em conjunto. Não só de parlamentares petistas. Mas, também, de pessoas do seu próprio partido [Partido Progressista]. Nenhum partido deve acolher uma pessoa com esse tipo de postura”, disse a senadora. “Podemos, inclusive, falar com a senadora Ana Amélia, que é colega de partido desse deputado. Acredito que a sociedade precisa se manifestar contra a atitude desse senhor. Esse tipo de postura é inadmissível”, concluiu.
O senador Paulo Paim (PT-RS) também defendeu uma atitude mais enérgica dos parlamentares contra Bolsonaro. Para ele, apenas notas de solidariedade não bastam para rebater a agressão sofrida pela parlamentar petista.
“Precisamos construir uma reação que tenha uma repercussão tão forte quanto à agressão sofrida pela nossa deputada. Vamos trabalhar juntos para combater de forma veemente o que fez esse deputado”, defendeu.
Rafael Noronha