Ana Júlia: estamos lutando pelo ensino público (Foto: Alessandro Dantas)
Giselle Chassot
À primeira vista, Ana Júlia Ribeiro é uma adolescente bonita. A trança bem feita, o sorriso aberto, o corpo miúdo mostram a menina de 16 anos. Mas não se deixe enganar. O olhar determinado mostra a líder estudantil que virou o pesadelo dos conservadores e o alento de velhos ativistas do movimento estudantil. Ana Júlia é a prova de que a juventude brasileira não tem nada de alienada e está muito decidida a combater a onda conservadora. Nesta segunda-feira (31), Ana Júlia abre a audiência pública da reunião da Comissão de Direitos Humanos (CDH) no Senado Federal.
Ela chegou como estrela. Fez fotos com estudantes e parlamentares. E falou ao site da Liderança do PT no Senado sobre o que motiva os estudantes a ocupar as escolas em todo o País e a levou da escola onde estuda, o Colégio Estadual Senador Manoel Alencar Guimarães, em Curitiba, ao discurso que viralizou nas redes sociais sobre a ocupação das escolas, na Assembleia Legislativa do Paraná.
Ela acredita firmemente que as ocupações são o caminho para melhorar o ensino público no País. E também servem de alerta para os riscos de se aprovar uma mudança no ensino médio por meio de uma medida provisória (MP), como pretende o governo usurpador do presidente Michel Temer. A MP 746, editada em setembro, impõe uma reforma sem debate. Entre as alterações, traz a implementação do turno de educação integral como uma grande novidade, mas flexibiliza a grade curricular.
A flexibilização, neste caso, significa extirpar do currículo matérias como artes e educação física e ameaça outros cortes de disciplinas voltadas para a formação de cidadãos pensantes, como sociologia e filosofia.
No dia 11 de outubro, os estudantes ganharam mais um motivo para protestar: a PEC 55 (na Câmara, PEC 241), que congela os gastos primários pelos próximos 20 anos e ameaça investimentos em saúde e educação.
Ana Júlia garante que, se existe algo no País capaz de deter a sanha conservadora que se alastra pelo País é o movimento estudantil. E não teme ação da polícia ou determinação do governo do estado do Paraná – que classifica a ação dos estudantes como “brincadeira” para que as escolas sejam desocupadas. “Algumas permanecem ocupadas, porque a saída precisa ser decidida em Assembleia”.
Nesse fim de semana, a estudante viveu seu momento mais emocionante. Encontrou-se com o professor e ativista português Boaventura de Sousa Santos, defensor dos direitos humanos e participante ativo do Fórum Social Mundial. “Foi um aprendizado maravilhoso”, definiu.
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