Economist diz que Acre tem muito a ensinar sobre crescimento sustentável

Uma página relata os bons resultados de ações implantadas pelos governos do PT no Acre


The Economist
, tida como uma das revistas de maior credibilidade no mundo, traz nesta semana uma página de reportagem sobre o Acre. O tom da reportagem é de que o estado tornou-se um exemplo pioneiro de exploração econômica da floresta e sustentabilidade.

O ponto de partida para a mudança na lógica da exploração florestal, diz a revista, começou em o “governo da floresta” iniciado pelo senador Jorge Viana em 1999, durante seu primeiro mandato como governador – o primeiro da história do PT a ser eleito. “O Acre é pioneiro numa abordagem de desenvolvimento que busca tirar o máximo da floresta”, diz a revista, que traz vários exemplos de ação conjunta de estímulo à criação de cooperativas de pequenos produtores com ações sociais dos governos federal e estadual.

Leia, abaixo, a livre tradução da reportagem que começou a circular nesta sexta-feira (30/11) para toda a Europa e Estados Unidos:

O novo boom da borracha
O primeiro boom da borracha, impulsionado pela invenção do automóvel, terminou abruptamente com o sucesso do cultivo da seringueira na Ásia. O segundo durou apenas enquanto o Japão interrompeu o fornecimento da borracha asiática, e terminou junto com o fim da Segunda Guerra Mundial. Ambos os movimentos criaram fortunas tendo, de um lado, patrões milionários feitos de borracha e, de outro, trabalhadores em semiescravidão trabalhando na cura do látex.

Mas a borracha está voltando para áreas mais remotas da Amazônia e, desta vez, os seringueiros querem escrever o roteiro.

Em 1988, assassinato por fazendeiros de Chico Mendes, que liderou a luta dos seringueiros “contra os madeireiros” e pecuaristas, esses trabalhadores selaram uma aliança com os ambientalistas. Essa aliança também plantou sementes da mudança no Acre, estado natal de Mendes, dando origem, a partir de 1999, aos autoproclamados “governos da floresta”. Desde então, eles vêm ajudando extrativistas que moram na floresta e se organizam em cooperativas para a colheita de produtos sustentáveis, e diversificação das culturas tradicionais de borracha e castanha do Brasil para novos mercados.

O objetivo, diz Tião Viana, governador do estado, é fazer com que a floresta em pé mais seja mais valiosa do que exploração madeireira e a pecuária, de modo que o Acre consiga proteger suas árvores sem sacrificar o desenvolvimento. Desde 1999, o Estado foi mapeado e zoneado, com grande parte de sua floresta protegida por parques ou reservas ocupadas por ameríndios ou extrativistas. Alguns fazendeiros, principalmente os de pequenas propriedades, ainda derrubam a floresta ilegalmente.

Mas as regras de preservação passaram a ser rigidamente aplicadas. Algumas áreas anteriormente desmatadas começaram a ser replantadas, sendo que algumas estão sendo autorizadas para agricultura de baixo impacto, enquanto outras destinam-se a produtos da indústria florestal. “Nós não precisamos desmatar mais”, diz Viana. “Mas não estamos com medo de usar o que já foi liberado para o desenvolvimento”.

Em Xapuri, cidade de Chico Mendes cidade (ver mapa), uma fábrica que leva seu nome embala pacotes de nozes do Brasil. Ela é dirigida por Acre_EconomistCooperacre, uma cooperativa de mais de 2.000 pequenos produtores. Perto dali, a Natex é a única fábrica de preservativos masculinos do mundo que utiliza o látex extraído de seringueiras selvagens, cuja matéria prima é compra de cerca de 700 famílias. Todas são beneficiadas pelo pagamento da matéria prima um pouco acima da média do mercado e pelo subsídio dado pelo governo do Estado, em reconhecimento ao papel das famílias como protetores da floresta. O governo federal compra toda a produção da fábrica de 100 milhões de preservativos por ano, como parte de seu programa anti-Aids nacional.

Na Seringal Veneza, uma reserva de seringueiros, próxima ao município de Feijó, a distância da Natex impede o mesmo fornecimento. Mas um grupo de 32 famílias do local já está usando técnicas desenvolvidas na Universidade de Brasília para processar o látex no próprio local. As folhas de borracha resultantes são mais fáceis de armazenar e transportar, e buscar um preço muito mais elevado. Veja, uma empresa de calçados francesa, é um dos clientes da reserva. Flavia Amadeu, uma designer do Rio de Janeiro está ensinando e treinando os seringueiros para tingir e textura das folhas que serão transformadas em joias.

As estradas estão aproximando os moradores rurais dos postos de saúde e escolas, e produtos para o mercado extrativista. Mas elas também facilitam o trânsito de motosserras. O governador Viana está pavimentando o último trecho da estrada que liga o Acre ao resto do Brasil. Ao mesmo tempo, tenta limitar o impacto da estrada sobre a floresta. Perto de Feijó, parcelas de terra cultivadas são programadas para agir como um amortecedor entre a estrada e terra virgem: em 2000, o Estado concedeu 4,5 hectares (11 acres) parcelas de pastagem degradada ao longo da estrada para os agricultores familiares. Aqueles que reflorestaram e evitaram o uso do fogo para limpeza receberam sementes, treinamento, ajuda para encontrar compradores e uma subvenção de 500 reais (240 dólares) por ano.

Castanha, borracha e açaí podem render até R$ 2 mil por mês por família, estima o WWF-Brasil, um grupo de conservação que trabalha com o governo do Acre e dos extrativistas. Esta renda pode estimular a adoção de novas culturas, como outras frutas e sementes de jarina, que se assemelha ao marfim no aspecto e no tato, além da apicultura. Dentre essas novas atividades, a piscicultura é promissora: o pirarucu, uma espécie de peixe grande da Amazônia, tem ótimo preço de mercado, além de ser excelente fonte de proteína que substitui carne.

Há espaço, também, para a exploração de marcas, como no caso dos preservativos da Natex, que trazem em sua embalagem a mensagem de garantia de sexo seguro com proteção do meio ambiente – ou uma oportunidade para os amantes protegerem a si mesmos e as florestas ao mesmo tempo.

Por mais de uma década a taxa de crescimento econômico do Acre superou a média brasileira. Suas escolas e serviços de saúde funcionam melhor e a pobreza e analfabetismo vêm caindo com muito mais rapidez do que a média brasileira.

Mas a ampliação e intensificação de políticas sob medida para o estado manter o desenvolvimento sustentável com políticas sociais não só são difíceis, como também caras. O Acre é um estado pequeno. Ocupa apenas 3,5% da Amazônia (embora ainda maior que a Inglaterra), e pouco de seu território está dentro do “arco do desmatamento”, a fronteira entre a terra existente e da floresta, onde a agricultura com cultura de corte-e-queima é mais tentadora. Esse particular facilitou a ação do governo para resolver disputas de terra e exigir o cumprimento das leis de zoneamento. Mas talvez a lição mais importante do Acre para os demais estados brasileiros é simplesmente mostrar que as políticas favoráveis à manutenção das árvores ??também podem fazer bem para as pessoas.

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