Fátima: Temos condições concretas de derrotar o golpe no plenário do SenadoA conspiração golpista contra o governo da presidenta Dilma Rousseff serviu para unir a militância, que reaprendeu a lutar e retomou praças, ruas e avenidas do País. São milhares de pessoas dispostas a defender direitos sociais e trabalhistas duramente conquistados e, sobretudo, a brigar por uma causa comum: a democracia brasileira.
Em artigo publicado nesta sexta-feira pelo Novo Jornal, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) avalia o momento político brasileiro e conclui, como Bertolt Brecht, que nada é impossível de mudar. “Vencer a disputa de opinião na sociedade é fundamental para que possamos vencer a disputa no plenário do Senado Federal”, diz .
Leia a íntegra do artigo:
Do festival de horrores à reconstrução da utopia
Presidida por um réu no âmbito do Supremo Tribunal Federal, acusado de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, a Câmara dos Deputados abandonou a aparência e revelou ao Brasil e ao mundo sua verdadeira essência no dia 17 de abril. Ficou claro que se trata de uma casa legislativa sequestrada por uma maioria conservadora, elitista, corrupta, preconceituosa e com forte inclinação ao fascismo.
A votação do impeachment no plenário da Câmara dos Deputados foi um episódio tão bizarro, asqueroso e despolitizado que abalou até mesmo os setores da sociedade que estavam descontentes com o governo Dilma e acreditavam que o impeachment poderia ser a solução para os problemas do Brasil, até conhecerem o bando de ignorantes que votou a favor do impeachment e que passaria a governar o país se o Senado viesse a concretizar o impedimento da presidenta democraticamente eleita.
O dia seguinte foi difícil para todos nós. Muitos foram tomados por um sentimento de desesperança, afinal, foi difícil assistir àquele festival de horrores, de hipocrisia e de apologia à tortura. Entretanto, a história do povo brasileiro é uma história de luta, de trabalho e de resistência. Muitas foram as tempestades que atravessamos, muitos foram os que dedicaram suas vidas à defesa da democracia e da soberania nacional. Portanto, desconfiem sempre das manchetes que mais uma vez anunciam um suposto fim da história, pois a luta está apenas começando.
Apesar do vice-presidente da República Michel Temer continuar conspirando e negociando a composição de um governo que se viesse a existir seria ilegítimo e imoral, apesar do consórcio golpista continuar operando dia e noite para sabotar o Estado Democrático de Direito, apesar do réu Eduardo Cunha continuar presidindo a Câmara dos Deputados, a tentativa de golpe parlamentar contribuiu para reaprendermos a lutar, para reocuparmos as praças e avenidas de todo o país em defesa dos nossos direitos, para unificar amplos setores da sociedade brasileira em defesa de uma causa comum: a democracia brasileira.
Nada é impossível de mudar, dizia Bertolt Brecht. Temos condições concretas de derrotar o golpe no plenário do Senado Federal, após o provável afastamento temporário da presidenta Dilma Vana Rousseff. A sociedade brasileira resistiu a 21 anos de ditadura militar, se reinventou, conquistou o voto direto e assegurou direitos importantes na Constituição de 1988. Se é verdade que esses direitos estão ameaçados pelo golpe de Estado em curso e pelo programa de governo dos golpistas, também é verdade que a nossa luta não terminou e não vai terminar nos próximos dias ou nos próximos meses, pois sempre haverão novos sonhos e novas lutas.
A nossa principal tarefa neste momento é ocupar as praças e avenidas de todo o país nos próximos dias, especialmente no dia 1º de maio. Vencer a disputa de opinião na sociedade é fundamental para que possamos vencer a disputa no plenário do Senado Federal. Mas derrotado o golpe no Senado, teremos muitas outras tarefas e desafios, pois o festival de horrores nos motivou a reconstruir nossa utopia, a seguir lutando por um outro mundo possível.
No dia 1º de maio de 1943, Getúlio Vargas sancionou o Decreto-Lei nº 5.452, que regulamentou as relações de trabalho e assegurou direitos importantes aos trabalhadores brasileiros – a chamada CLT. Às vésperas do dia 1º de maio de 2016, os direitos assegurados na Consolidação das Leis do Trabalho e na Constituição estão fortemente ameaçados por aqueles que querem anular a soberania do voto popular e tomar o poder de assalto. Sigamos o nosso destino e a nossa missão histórica: levantar a cabeça, renovar a esperança e seguir lutando.
Senadora Fátima Bezerra
(Artigo publicado no NOVO Jornal em 29/04/2016)
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