Colunista destaca que a Aeronáutica pode ser sido o empecilho que atrapalhou o show de mídia de Moro, por não permitir levar Lula preso para CuritibaUma memória sinistra passou pela cabeça do jornalista Janio de Freitas quando ficou claro o vazamento de informações sobre a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua provável transferência para Curitiba: a Operação Bandeirantes (Oban). Para quem não se lembra ou ainda não tinha nascido, essa operação era uma das instituições mais violentas da ditadura militar. Criada pelo II Exército em São Paulo e financiada por empresários interessados em manter a intervenção militar, a Operação Oban funcionava como uma espécie de centro de excelência do processo de tortura. Calcula-se que passaram por ela mais de 10 mil prisioneiros – e vários deles não saíram de lá. Foram mortos ou “desaparecidos”.
Em essência a Oban era uma formação sem vínculos formais ou legais, uma agremiação paramilitar que agia à margem da lei, o que lhe assegurava agilidade e eficácia.
Em seu artigo, irônico, Janio de Freitas diz que não sabe muito bem porque a lembrança lhe veio à memória. Mas diz que é compreensível que tenham se espalhado versões de que o plano inicial seria levar Lula preso para Curitiba. Como e por que isso foi revertido, não sabemos, diz ele para completar em seguida: “O grau de confiabilidade das informações prestadas a respeito da Operação Bandeirantes, perdão, operação 24ª da Lava Jato, pôde ser constatado já no decorrer das ações”, escreve o colunista. Janio de Freitas também lança uma questão: foi a Aeronáutica que barrou a armação de Moro para levá-lo preso para Curitiba, já que um jatinho da PF estava na beira da pista do aeroporto de Congonhas? Pois é, a cada dia aparece uma nova linha do novelo de Moro, porque Janio também questiona o vazamento, ou seja, a imprensa chegou à casa de Lula antes até mesmo da PF. Só quem é cego não viu o vazamento, proposital, de Sérgio Moro.
Leia abaixo, a íntegra do artigo
O plano obscuro
Em condições normais, ou em país que já se livrou do autoritarismo, haveria uma investigação para esclarecer o que o juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato intentavam de fato, quando mandaram recolher o ex-presidente Lula e o levaram para o Aeroporto de Congonhas. E apurar o que de fato se passou aí, entre a Aeronáutica, que zela por aquela área de segurança, e o contingente de policiais superarmados que pretenderam assenhorear-se de parte das instalações.
Mas quem poderia fazer uma investigação isenta? A Polícia Federal investigando a Polícia Federal, a Procuradoria Geral da República investigando procuradores da Lava Jato por ela designados?
É certo que não esteve distante uma reação da Aeronáutica, se os legionários da Lava Jato não contivessem seu ímpeto. Que ordens de Moro levavam? Um cameramen teve a boa ideia, depois do que viu e de algo que ouviu, de fotografar um jato estacionado, porta aberta, com um carro da PF ao lado, ambos bem próximos da sala de embarque VIP transformada em seção de interrogatório.
É compreensível, portanto, a proliferação das versões de que o Plano Moro era levar Lula preso para Curitiba. O que foi evitado, ou pela Aeronáutica, à falta de um mandado de prisão e contrária ao uso de dependências suas para tal operação; ou foi sustado por uma ordem curitibana de recuo, à vista dos tumultos de protesto logo iniciados em Congonhas mesmo, em São Bernardo, em São Paulo, no Rio, em Salvador. As versões variam, mas a convicção e os indícios do propósito frustrado não se alteram.
O grau de confiabilidade das informações prestadas a respeito da Operação Bandeirantes, perdão, operação 24 da Lava Jato, pôde ser constatado já no decorrer das ações. Nesse mesmo tempo, uma entrevista coletiva reunia, alegadamente para explicar os fatos, o procurador Carlos Eduardo dos Santos Lima e o delegado Igor de Paula, além de outros. (Operação Bandeirantes, ora veja, de onde me veio esta lembrança extemporânea da ditadura?)
Uma pergunta era inevitável. Quando os policiais chegaram à casa de Lula às 6h, repórteres já os esperavam. Quando chegaram com Lula ao aeroporto, repórteres os antecederam. “Houve vazamento?” O procurador, sempre prestativo para dizer qualquer coisa, fez uma confirmação enfática: “Vamos investigar esse vazamento agora!”. Acreditamos, sim. E até colaboramos: só a cúpula da Lava Jato sabia dos dois destinos, logo, como sabe também o procurador, foi dali que saiu a informação –pela qual os jornalistas agradecem. Saiu dali como todas as outras, para exibição posterior do show de humilhações. E por isso, como os outros, mais esse vazamento não será apurado, porque é feito com origem conhecida e finalidade desejada pela Lava Jato.
A informação de que Lula dava um depoimento, naquela mesma hora, foi intercalada por uma contribuição, veloz e não pedida, do delegado Igor Romário de Paula: “Espontâneo!”. Não era verdade e o delegado sabia. Mas não resistiu.
Figura inabalável, este expoente policial da Lava Jato. Difundiu insultos a Lula e a Dilma pelas redes de internet, durante a campanha eleitoral. Nada aconteceu. Dedicou-se a exaltar Aécio, também pela rede. Nada lhe aconteceu. Foi um dos envolvidos quando Alberto Youssef, já prisioneiro da Lava Jato, descobriu um gravador clandestino em sua cela na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Nada aconteceu, embora todos os policiais ali lotados devessem ser afastados de lá. E os envolvidos, afastados da própria PF.
Se descobrir por que a inoportuna lembrança do nome Operação Bandeirantes, e for útil, digo mais tarde.
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