O circo desnecessário de Moro na condução coercitiva de Lula, por Veríssimo

O circo desnecessário de Moro na condução coercitiva de Lula, por Veríssimo

Veríssimo: “A condução coercitiva determinada pelo Moro foi, mais do que um circo desnecessário, uma ilegalidade”Luis Fernando Veríssimo, em sua coluna, nesta quinta-feira (10), no jornal O Estado de S. Paulo, analisa a ação policial descabida que levou o presidente coercitivamente para depor no aeroporto de Congonhas, na capital paulista.

De acordo com Veríssimo, numa república democrática, ninguém deve se considerar acima da lei, nem ex-presidentes. Ele lembra que a frase – “Ninguém está acima da lei” – foi o refrão que acompanhou a ida do Lula, à força, para depor na semana passada. Porém, faltou um adendo: “Nem juízes”.

“A condução coercitiva determinada pelo Moro foi, mais do que um circo desnecessário, uma ilegalidade. Pela lei, a condução coercitiva é usada quando uma intimação não é atendida. Não foi o caso do Lula, que já tinha deposto três vezes sem necessidade da força”, diz Veríssimo.

Para o autor, Lula, por sua história e pelo que representa, deveria ter outras considerações além da pequena regalia de não precisar usar algemas. “Talvez a intenção do carnaval fosse a de mostrar para quem o idolatra que, só porque foi presidente, tem adega com vinhos caros e pedalinhos prás crianças, ele continua um torneiro mecânico iletrado sem direito a rapapés”, enfatiza.

Confira a íntegra da coluna de Luis Fernando Veríssimo:

A intenção do carnaval
“Ninguém está acima da lei” foi o refrão que acompanhou a ida do Lula, à força, para depor na semana passada. Perfeito. Numa república democrática, ninguém deve se considerar acima da lei, nem ex-presidentes. Mas faltou um adendo: “Nem juízes”. A condução coercitiva determinada pelo Moro foi, mais do que um circo desnecessário, uma ilegalidade. Pela lei, a condução coercitiva é usada quando uma intimação não é atendida. Não foi o caso do Lula, que já tinha deposto três vezes sem necessidade da força.

Se uma ação policial é descabida e fora da lei e, mesmo assim, é realizada, e com estardalhaço, resta especular sobre o que motivou a ação e o estardalhaço. Foi só para humilhar o Lula? Foi uma deliberada demonstração de força, tão compulsiva que se fez mesmo em desafio à sua evidente ilegalidade e sua previsível repercussão? É difícil acreditar que a Polícia Federal não tivesse outro canto de São Paulo para ouvir o Lula a não ser o Aeroporto de Congonhas, com sua implícita pequena distância, de avião, de Curitiba e da prisão, se a polícia assim quisesse.

E, no fim, ainda tivemos a espantosa declaração do Moro de que o método e o local do depoimento do Lula tinham sido escolhidos para proteger o ex-presidente. Ninguém está imune a ela, de acordo, mas a biografia de alguém deveria valer alguma coisa ao se avaliar sua posição, acima ou abaixo da lei. Para ficar só nos ex-presidentes: o Fernando Henrique Cardoso, pelo seu histórico de intelectual engajado e homem público — não importa o que você pensa do governo dele —, não merece ver sua vida privada transformada numa novela das nove e ter que dar explicações sobre um assunto que é só da conta dele e da família dele.

Da mesma forma, o Lula, pela sua história, pelo que ele representa, deveria ter outras considerações além da pequena regalia de não precisar usar algemas. Ou talvez a intenção do carnaval fosse essa mesma, a de mostrar para quem o idolatra que, só porque foi presidente, tem adega com vinhos caros e pedalinhos pras crianças, ele continua um torneiro mecânico iletrado sem direito a rapapés.
MILITARES Um leitor me adverte que 90% dos militares brasileiros concordam com o que diz o Jair Bolsonaro. Noventa por cento dos militares brasileiros concordam que a ditadura deveria ter matado, em vez de apenas torturado, quem prendeu? Duvido.

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