“Não vamos aceitar um golpe contra uma presidente democraticamente eleita”, avisa Lindbergh

“Não vamos aceitar um golpe contra uma presidente democraticamente eleita”, avisa Lindbergh

Lindbergh: “[Tucanos] defendem a presunção de inocência de Cunha, mas querem derrubar Dilma, contra quem não há uma única acusação de corrupção”Que os aventureiros do golpe contra o mandato legítimo da presidenta Dilma estejam avisados: os setores democráticos não vão aceitar passivamente esse ataque à Constituição. “Pensem no dia seguinte. Acham que [o vice-presidente] Michel Temer vai ter força política para fazer um ajuste dessa situação, conosco na rua, reclamando contra o golpe, lutando contra o ajuste? ”, avisou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que em pronunciamento ao plenário na última quinta-feira (08) criticou a irresponsabilidade da articulação pró-impeachment.

“Nós não vamos aceitar um golpe contra uma presidente eleita democraticamente e sem uma acusação diretamente dirigida a ela”, garantiu o senador, que classificou a rejeição das contas do governo Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU) como uma decisão político-partidária. Uma decisão com dois objetivos: preparar terreno para o golpe e contribuir politicamente para a restauração neoliberal e a do modelo social adotado pelos governos PT. “O resto é blá, blá, blá, sem fundamento jurídico e técnico”, afirmou.

Conluio PSDB/Cunha
Lindbergh voltou a denunciar a postura do PSDB em todo esse processo. Logo após a decisão do TCU — tomada em 19 minutos de julgamento — os tucanos já estavam articulando com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a estratégia de um processo de impeachment.

“O PSDB está em conluio com Eduardo Cunha — acossado pela revelação de seus US$ 5 milhões em bancos suíços — e blinda o deputado em troca da aliança para atacar Dilma”. O senador apontou a incongruência e a hipocrisia tucanas: “Defendem a presunção de inocência de Cunha, mas querem derrubar Dilma, contra quem não há uma única acusação de corrupção”.

O senador ressaltou que a maioria dos oradores que usaram a tribuna da Casa, na quinta-feira — dia seguinte ao julgamento no TCU — questionou a decisão do tribunal, mas cobrou responsabilidade ao conjunto das forças políticas. “Peço responsabilidade aos setores democráticos da oposição, de gente que tem respeito pela nossa história democrática do Brasil: tenham muita lucidez e serenidade para que o Brasil não entre nessa quadra de acirramento da luta política em nosso País”.

Responsabilidade contra a insensatez
O senador alertou que o caminho da insensatez pode levar o País a uma quadra de extrema dificuldade. “E não digam que fomos nós que radicalizamos. Quem está radicalizando é quem não aceita o resultado eleitoral”, apontou.

Para Lindbergh, o presidente do PSDB e candidato derrotado no último pleito presidencial, Aécio Neves, precisaria se se espelhar no avô, Tancredo Neves, que sempre se posicionou contra golpes — contra Getúlio Vargas, Juscelino e Jango. “Tancredo sempre teve uma posição firme contra golpes”.

O senador destacou que a decisão do TCU “foi um ponto inteiramente fora da curva”, já que o tribunal reprovou práticas contábeis que antes aprovava, em todos os governos. “A história, tenho certeza, não registrará bem essa decisão do TCU. Será uma mácula polêmica em uma tradição de equilíbrio e isenção”, agravada pela “mise-en-scène [encenação] político-midiático do relator, que antecipou repetidamente o seu voto à opinião pública, contrariando a lei, articulou-se nitidamente com políticos de oposição, demonstra sem pudores o caráter desequilibrado e partidarizado da decisão”, disse.

Contexto maior
Lindbergh chama a atenção para a necessidade de se olhar a manobra antidemocrática em curso no Brasil num contexto mais amplo: “A árvore do golpe e do terceiro turno está inserida na floresta da restauração neoliberal”, na esteira de uma grande ofensiva global — com mais intensidade na América do Sul — contra regimes políticos progressistas que implantaram o modelo social desenvolvimentista que destoa, até certo ponto, da ortodoxia econômica.

“Esses regimes foram até tolerados, num contexto de crescimento econômico, turbinado pelo boom das commodities. No novo contexto de grave crise mundial, a vendeta neoliberal tenta nos levar de volta à pauta que nos regulou por mais de 500 anos”, avaliou.

É isso que está em jogo, alertou Lindbergh, não apenas o mandato legítimo da presidenta Dilma. “O que está em jogo, na realidade, é o rumo que teremos daqui para frente: se o rumo do crescimento com distribuição de renda, inclusão social e eliminação da pobreza ou se voltaremos ao velho modelo da Belíndia, do país que contém em si uma Bélgica dinâmica e uma Índia de exclusão”, concluiu.

Cyntia Campos

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