Foto: Marcos Corrêa/PRCatharine Rocha
*colaborou Rafael Noronha
28 de novembro de 2016 | 12h47
A coletiva de imprensa convocada por Michel Temer, nesse domingo (27), parece ter sido mais uma manobra palaciana para tentar ludibriar a sociedade em relação às denúncias de tráfico de influência que pairam sobre a cúpula do governo. Temer mentiu, por exemplo, sobre a existência de um “conflito entre órgãos”, que deveria ser mediado pela Advocacia-Geral da União (AGU). Razão pela qual o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), decidiu enviar pedidos de informações à ministra Grace Maria Fernandes Mendonça, da AGU, ao ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, e ao ministro Roberto Freire, atual Cultura.
Humberto quer saber mais sobre “a solução” que a AGU teria para a decisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de não permitir que o projeto imobiliário La Vue Ladeira da Barra, em Salvador (BA), desrespeitasse as normas definidas para áreas tombadas. Uma vez que não existe “conflito entre órgãos”, como vendeu Temer.
O Iphan é uma instituição de caráter nacional. Então, mesmo que uma unidade regional se posicione a respeito de um tema, quando o órgão se manifesta, vale a posição nacional. Sempre. Além disso, o então ministro Geddel Vieira Lima não era um “órgão público” e a Pasta (Secretaria de Governo) que ele gerenciava também não tinha nenhuma jurisprudência sobre o caso. A única relação de Geddel com o La Vue era o apartamento adquirido no edifício, mesmo infringindo normas legais.
Mesmo assim segundo Calero, em depoimento à Polícia Federal, e o Temer, na coletiva, o ministro Padilha e o próprio presidente da República haviam instado o ex-ministro a enviar o caso à Grace Mendonça. “Nós queremos que os ministros esclareçam até que ponto se envolveram nesse escandaloso caso de advocacia administrativa ocorrido descaradamente no alto escalão do governo. Não é um caso isolado. Há uma corrupção sistêmica, crimes que parecem ter sido cometidos em consórcio por ministros, sob a batuta do presidente da República”, argumenta Humberto Costa.
Grace, Padilha e Freire deverão responder as perguntas em um prazo de 30 dias e sem falsear a verdade, sob pena do cometimento de crime de responsabilidade.
Nas redes, coletiva virou piada nacional
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) utilizou sua página no Twitter para comentar a coletiva dada neste domingo. Para ela, Temer não tem condições de governar o País, apesar de o peemedebista ter feito questão de aparecer ladeado pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Renan Calheiros, para tentar mostrar que a maioria do Congresso Nacional está com ele, apesar do escândalo. “Cara de velório! Fala perfeita para terminar em renúncia!”, registrou.
A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) também usou o microblog para falar de suas impressões: “Desespero! Pesquisa interna deve ter revelado um desgaste violento do Governo Temer pra justificar uma coletiva em pleno domingo”.
Nas redes sociais, a coletiva palaciana virou motivo de piada. A União Nacional dos Estudantes (UNE) brincou, no Twitter, que Temer escolheu o horário do almoço para impedir panelaços. “Malandro é o Temer, que convoca coletiva na hora que as panelas estão no fogo!”, escreveu.