Os jornais desta quinta-feira (20) trazem análises de especialistas do mercado elogiando o caráter comedido do Banco Central, em reduzir só 0,25% a taxa de juro. Porém, uma voz do próprio mercado, ex-ministro tucano que comandou a privatização da Telebras, Luiz Carlos Mendonça de Barros, cravou no Estado de S. Paulo que a decisão do BC “foi covarde”.
Entre as diversas opiniões, nenhuma atribuiu a “covardia” do Banco Central na queda dos juros por conta da prisão de Eduardo Cunha pela Polícia Federal, nem o próprio Mendonça de Barros.
O fato é que o homem que fez o presidente usurpador Michel Temer voltar às pressas do Japão, e que está metendo medo em boa parte do primeiro escalão do governo e numa parcela significativa da Câmara dos Deputados, influenciou a decisão da autoridade monetária. Isto, porque vislumbra-se mais um período de instabilidade institucional, caso Eduardo Cunha decida fazer uma delação e mostrar – como já mostrou – que o golpe branco contra a democracia e que tirou Dilma do poder teve sua influência direta e em parceria com Temer.
O braço direito do presidente, senador Romero Jucá, que fez declarações divulgadas durante o processo de impeachment, de que Temer é Cunha e Cunha é Temer, e que era necessário tirar Dilma para acabar com a Lava Jato, apenas reforça a trama montada.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) e o líder da minoria no Senado, Lindbergh Farias (RJ), apontaram imediatamente que o Palácio do Planalto ficou mudo diante da prisão de Cunha. Certamente os agentes do Copom, liderados pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, ponderaram que seria melhor deixar os juros em 14% ao ano e garantir um gordo juro real para os banqueiros e rentistas. Com inflação próxima a zero, herdada de Dilma, o ganho real dos especuladores beira 13% ao ano.
A estratégia do BC, então, foi manter os juros altos na tentativa de alimentar os especuladores para não impregnarem de pessimismo o mercado, sobre o que pode acontecer com o governo de Michel Temer e seus aliados se Cunha delatar. Tempos sombrios nos aguardam. A maldição da liderança do Governo no Senado – por mais que a imprensa esteja tratando com luvas de seda – é outra dor de cabeça para o governo golpista. O dono da empreiteira Delta, Fernando Cavendish, no âmbito da Operação Saqueador da PF, disse e está publicado no jornal O Globo de hoje e de ontem que no processo de delação apresentará provas de que destinou dinheiro ao senador tucano Aloysio Nunes (PSDB-SP). Os jornais escrevem pagamentos indevidos e não propina, para não melindras os tucanos, mas é a mesma coisa.
Então, por quais motivos reduzir os juros se a incerteza política continuará na ordem do dia?
Marcello Antunes
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