O advogado de defesa da presidenta eleita Dilma Rousseff, José Eduardo Cardozo, afirmou na tarde desta terça-feira (2) que o relatório do senador Antônio Anastasia (MG) atendeu a orientação de seu partido, o PSDB, e se desdobrou na tentativa de apontar dolo Dilma. Porém, Cardozo explicou que o relatório abusou dos termos advocatícios mas, não demostrou crimes contra a Constituição ou leis fiscais. “Não se tem a demonstração de que a presidenta Dilma cometeu crimes, ações dolosas, graves contra a Constituição. Foram situações orçamentárias sobre as quais existem teses diferentes”, disse.
Mais cedo, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) incomodou os senadores que apoiam do governo interino de Michel Temer ao afirmar que há um golpe sim, e ele foi orquestrado por uma quadrilha parlamentar sob comando de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que já foi afastado da presidência da Câmara e pode perder seu mandato ainda este mês.
Para Cardozo, uma pessoa que se disponha a ler todos os documentos perceberá a construção de uma tese para justificar o afastamento de Dilma, e é a partir dessa leitura que se torna evidente que houve um desvio de poder na Câmara quando Eduardo Cunha ordenou a abertura de um processo de impeachment da presidenta. Os senadores que apoiam o golpe sentem-se incomodados quando os senadores aliados de Dilma denunciam que vão entrar para a História caso esse afastamento prospere, porque sequer as contas fiscais de 2015 que estão sob julgamento passaram pelo crivo do Tribunal de Contas da União. Não houve um julgamento até agora.
Para piorar, os senadores que apoiam o afastamento definitivo de Dilma – portanto, sócios do golpe parlamentar – querem acelerar o processo porque percebem que há senadores que não pretendem colar suas biografias a um tortuoso e ilícito processo político, até porque as ações do governo interino já estão refletindo nas bases por causa das ameaças reais de retirada de direitos, como aumento da idade de aposentadoria, aumento de impostos sobre o consumo, manutenção dos juros altos para atender a elite e outras maldades. Vão perder não só os mais pobres, mas aqueles que ascenderam à classe média. Senadores que eram cobrados para votar contra Dilma agora ouvem de seus eleitores que é melhor Dilma voltar do que manter a perigosa administração de Temer.
Cardozo disse aos jornalistas que se criou uma tese jurídica que nunca existiu antes para afastar Dilma, que jamais foi vista em governos anteriores.
Apoio a Dilma
Cardozo refutou uma pergunta do repórter da TV Bandeirantes de que o PT teria abandonado Dilma nessa reta final do processo de impeachment. “Em hipótese alguma. O Partido dos Trabalhadores está lutando contra o golpe; está lutando contra o atentado à Constituição e quer que a Justiça seja feita”, disse ele. “Há quem queira dizer que a presidenta e seu partido e seus aliados tenham jogado a toalha. Mas digo e lamento dizer a essas pessoas: ninguém jogou a toalha. Vamos lutar pela democracia até o final, lutar para mostrar a verdade até o final”, completou.
Para o advogado, o relatório de Anastasia está contaminado da primeira à última página por teses esdrúxulas, atendendo seu partido, o PSDB, principal sócio do golpe. “Infelizmente é isso que estamos vivendo hoje no Brasil. E as contas de 2015 sequer foram julgadas pelo TCU. Esse processo é marcado do início ao fim pelo desvio de poder. Querem afastar uma presidenta legitimamente eleita a qualquer custo. Inventem-se os pretextos, os argumentos. Se não há argumentos, que se criem. É isso”, finalizou.
Marcello Antunes
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