O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o que considerou um absurdo: a pressa com que senadores ligados ao governo provisório e ilegítimo de Michel Temer pretendiam aprovar o nome de Ilan Goldfajn para ocupar a presidência do Banco Central. “A sabatina de novos presidentes do Federal Reserve, dos Estados Unidos, leva meses”, afirmou Lindbergh durante a audiência realizada pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), nesta terça-feira (7).
Ilan Goldfajn, em sua apresentação, disse não considerar um obstáculo ser um dos sócios do Itaú Unibanco, onde ocupava o posto de economista-chefe e, ao mesmo tempo, presidir o Banco Central, que exerce o papel de autoridade monetária de todo o sistema financeiro.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), lembrou que o Banco Central, por ser “a autoridade monetária”, se assemelha às agências reguladoras, como a Antaq e a ANTT, a primeira de transportes aquaviários e a outra de transportes terrestres. Pois bem, a senadora apontou as leis 12.813/2013 e a 10.233/2001 que proíbem ao diretor presidente das agências ter qualquer vínculo com empresa que será fiscalizada. “No meu entendimento, isso deveria ser uma praxe para a escolha dos presidentes do Banco Central. Por isso, considero suspeição o vínculo com um banco privado”, apontou.
Ilan respondeu que defende apenas quarentena para quem sai do Banco Central e não quem entra. Segundo ele, essa pessoa traz conhecimento do setor privado para dentro do setor público. Parece incoerente, mas Ilan continuou seu discurso falando a língua do mercado: as taxas de juros devem continuar altas para tentar brecar a inflação; o câmbio continuará flutuante e ele aposta nas medidas de ajuste.
Lindbergh: nos Estados Unidos, as sabatinas para o banco central de lá duram semanasMas quais medidas de ajuste? As que foram apresentadas pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles? Ilan fez menção à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que nem existe no papel ainda e que pretende estabelecer um teto de gasto para o setor público, ou seja, uma música para os ouvidos de mercado.
Para o futuro presidente do Banco Central, a retomada da economia virá ancorada nos cortes de gastos públicos (ele não falou nos gastos sociais, que todos sabem que serão cortados) e nos investimentos em educação, justamente uma das áreas que o governo provisório promoverá um corte expressivo ao desvincular receitas da União para tal área.
A senadora Regina Sousa (PT-PI) quis saber se na gestão de Ilan no Banco Central o “mercado” virá em primeiro lugar do que as pessoas, aquelas que pagam juros elevados quando precisam de um empréstimo. Ilan deu voltas, voltas e não respondeu nada. Disse que para o juro cair, a inflação precisa recuar.
O futuro presidente do BC, ao menos, se curvou às colocações do senador Armando Monteiro (PTB-PE), até recentemente ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) da equipe de Dilma Rousseff. O senador apontou que o governo Dilma foi corajoso ao promover o ajuste do que se chama de preços administrados, ou seja, da energia elétrica, gasolina e outros. Zerar a defasagem desses preços administrados causou impacto na inflação. O mesmo ocorreu com o ajuste nas cotações do dólar em relação ao real.
Mas nesse caso, com o dólar acima de R$ 3,00, o setor exportador trouxe riquezas para o País, tanto é que o déficit em transações correntes caiu de 4,4% do PIB para algo em torno de 1%. “Neste ano vamos fechar, provavelmente, com um déficit de 1%, cerca de US$ 20 bilhões que serão cobertos tranquilamente pelos Investimentos Estrangeiros Diretos, cujas expectativas são de ingresso de US$ 70 bilhões. Quero dizer que nos últimos dois anos tivemos um processo espetacular de ajuste”, disse Armando Monteiro.
O senador ainda quis saber de Ilan Goldfajn qual era sua avaliação para a proporção de crédito livre para o crédito direcionado. Este crédito direcionado é aquele onde os juros são menores, enquanto que o crédito livre, aquele usado pelos trabalhadores, são elevados porque acabam cobrindo a diferença. Segundo Ilan, a tendência é diminuir a proporção hoje de 50% para cada tipo, o crédito livre, com juro mais alto, do crédito direcionado, com juro mais baixo, subsidiado.
O futuro presidente do Banco Central, como era de se esperar, por ser sócio do banco Itaú Unibanco, deu uma resposta não muito convincente quando o senador Armando Monteiro lhe perguntou sobre o que acha da concentração bancária existente no País, onde quatro bancos privados dominam todo o setor, ou seja, 76% de todo o crédito e 70% de todos os ativos financeiros do País. Ilan deu uma volta, duas, três e disse que durante a gestão de Henrique Meirelles havia um projeto de redução dos spreads bancários (diferença entre o juro pago ao investidor e o cobrado de quem pede empréstimo) e isso permitia diminuir o grau de concentração bancária.
Não convenceu, porque durante a crise iniciada em 2008, se não fosse uma decisão do governo Lula de cobrar juros menores e oferecer crédito por parte dos bancos públicos, os bancos privados continuariam seletivos e cobrando juros altíssimos. E é isso que tende a acontecer a partir de agora.
Marcello Antunes
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