Um dia depois de usar o Dia da Independência para submeter o país a um espetáculo patético, Jair Bolsonaro teve seu golpismo e sua incapacidade de governar desmascarados por líderes do Judiciário e do Legislativo. As críticas mais duras vieram do Supremo Tribunal Federal (STF), mas até mesmo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que protege o atual presidente de um processo de impeachment, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, foram obrigados a reconhecer que o ex-capitão agiu de forma inaceitável.
Falando em nome dos demais ministros, o presidente do Supremo, Luiz Fux, deixou claro que Bolsonaro age como um golpista, que de forma criminosa atenta contra a democracia. “Ofender a honra dos ministros, incitar a população a propagar discurso de ódio contra a instituição do Supremo Tribunal Federal, incentivar o descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas, ilícitas e intoleráveis”, ressaltou.
Adiante, o ministro acrescentou: “O Supremo Tribunal Federal também não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos poderes, essa atitude, além de representar um atentado à democracia, configura crime de responsabilidade a ser analisado pelo Congresso Nacional”. Fux claramente se referiu à fala de Bolsonaro na Avenida Paulista, na qual disse que não respeitaria mais decisões do ministro Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos que investigam a rede de fake news usada por Bolsonaro para se eleger e governar.
Falso patriotismo
Os ministros do STF também desmascararam a incompetência de Bolsonaro para governar e ajudar o país a sair da imensa crise que ele próprio criou. Diante de sua incapacidade, Bolsonaro apela a um falso patriotismo. “Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra suas instituições. Povo brasileiro, não caia na tentação das narrativas fáceis e messiânicas, que criam falsos inimigos da nação. Mais do que nunca, o nosso tempo requer respeito aos poderes constituídos. O verdadeiro patriota não fecha os olhos para os problemas reais e urgentes do país”, discursou.
Fux não deixou de elencar alguns dos vários problemas que Bolsonaro não consegue resolver: “Em nome dos ministros e das ministras desta Casa, eu conclamo os líderes deste país a que se dediquem aos reais problemas que assolam o nosso povo. A pandemia, que ainda não acabou e que já levou para o túmulo mais de 580 mil vidas brasileiras e levou a dor a esses familiares que perderam entes queridos. Devemos nos preocupar com o desemprego, que conduz o cidadão brasileiro ao limite da sobrevivência biológica. Nos preocupar com a inflação que corrói a renda dos mais pobres. E a crise hídrica, que se avizinha e ameaça a nossa retomada econômica”.
Até mesmo Arthur Lira, que até agora impediu que ao menos um dos mais de 120 processos de impeachment de Bolsonaro fosse adiante, cobrou que o atual presidente se preocupe com os problemas reais, embora tenha, como não surpreende, escolhido palavras mais brandas.
“É hora de dar um basta a essa escalada em um infinito looping negativo. Bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade. O Brasil que vê a gasolina chegar a R$ 7, o dólar valorizado em excesso e a redução de expectativas”, disse Lira, em pronunciamento pela internet.
Já o PGR, Augusto Aras, também criticou a ofensiva que Bolsonaro realiza contra o Supremo. “O diálogo, com discordâncias, mas sem discórdia, é o caminho para a paz”, disse, após lembrar que é a separação de poderes e a harmonia entre eles que asseguram a democracia.
Partidos debatem impeachment
O comportamento de Bolsonaro no 7 de Setembro escancarou seu despreparo e suas intenções autoritárias, que precisam ser veementemente combatidas. Nesta quarta-feira (8), claramente motivados pelo discurso golpista do atual presidente, participantes do ato de terça-feira na Esplanada dos Ministérios tentaram invadir o Ministério da Saúde e planejavam avançar até o STF, precisando ser contidos pela Polícia Militar.
Diante dessa escalada, os partidos de oposição se reunirão, no fim do dia, para debater os próximos passos da campanha do impeachment. “As ameaças golpistas do 7 de Setembro deixaram Bolsonaro ainda mais isolado politicamente na sociedade. Convidamos outros partidos, especialmente os que têm origem na luta pela redemocratização, para se juntar a nós nesta jornada pela Democracia e pelo Brasil. Não se trata de aderir a atos já marcados, mas de construirmos juntos o caminho”, afirmou a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pelo Twitter.