Suspeitos de integrar a máfia das próteses recusam-se a falar à CPI

CPI esteve em Porto Alegre para apurar irregularidades em procedimentos médicos de colocação de órteses e prótesesA comissão parlamentar de inquérito que investiga irregularidades em procedimentos médicos de colocação de órteses e próteses esteve em Porto Alegre nessa semana. Os senadores decidiram tomar depoimentos na capital gaúcha porque as primeiras denúncias surgiram no Rio Grande do Sul.

Matéria produzida pelo programa Fantástico, da Rede Globo, colocou luz sobre uma máfia que atua em hospitais e clínicas médicas especializadas recomendando a utilização de produtos médicos nem sempre adequados e quase sempre superfaturados e que colocaram em risco a vida de pacientes em cirurgias desnecessárias ou com produtos de baixa qualidade e vencidos surgiram no Rio Grande do Sul.

Na manhã dessa quinta-feira (14), senadores que integram a CPI ouviram delegados da Polícia Civil, representantes da Secretaria de Saúde do estado, do Ministério Público. Também depuseram o jornalista que produziu a matéria do programa dominical Giovani Grizzoti e vítimas dos procedimentos irregulares e Fabrícia Boscaíni, representante da Procuradoria-Geral do estado.

Vítimas e acusados
Vitima da quadrilha, Edison Luiz Rocha de Castro disse que, só após as denúncias, percebeu que estava sendo manipulado pelo ortopedista Fernando Sanchis para entrar com uma liminar na justiça e conseguir uma prótese para a coluna. “Eu não tinha dinheiro e sofria dores, então o doutor Fernando orientou-me usar um equipamento muito caro, mas que, com ajuda da justiça, o SUS liberava. Então, quando a imprensa divulgou a trama da máfia das próteses, resolvi denunciar e procurar outro tratamento”.

Os senadores tentaram ouvir o médico Fernando Sanchis, mas ele usou seu direito de ficar calado, alegando que sua defesa não teve acesso a autos do inquérito que já está em curso na Polícia Civil gaúcha. O médico também alegou ter sabido de seu depoimento pela imprensa, e que não recebeu qualquer convocação oficial, comparecendo à reunião espontaneamente.

Ele é suspeito de ser um dos médicos que realizava procedimentos com próteses por preços superfaturados, orientando seus pacientes a recorrer ao Judiciário para garantir do Estado ou dos planos de saúde o custeio dos equipamentos – indicando sempre o grupo de advogados liderado por Nieli de Campos Severo, conhecida pelo sucesso nas inúmeras liminares obtidas na Justiça para a realização dos procedimentos cirúrgicos.

O presidente da CPI, senador Magno Malta (PR-ES), mesmo com o silêncio do depoente, seguiu fazendo perguntas que acabam revelando detalhes da atuação e da situação financeira de Sanchis: mesmo cobrando R$ 30 por consulta, ele viajava em seu próprio avião particular para atender pacientes no interior do estado, o que foi chamado de “captação de futuros operandos” pelo parlamentar. Essas potenciais vítimas eram atraídas pelo custo baixo das consultas, frisou o senador.

Malta afirmou que irá pedir a transferência dos sigilos de Sanchis, o que resultará numa nova convocação à CPI, assim como dos sigilos das empresas de equipamentos hospitalares investigados por supostamente integrarem a máfia. Essas empresas obtiveram vitória na justiça gaúcha, o que impediu o acesso de seus dados sigilosos pela polícia.

A advogada Letícia Lauxen, que trabalhava no escritório e Nieli Severo – tida como especialista em garantir liminares para que o SUS fornecesse um determinado produto – também foi ouvida. Também foi colhido o depoimento da advogada Letícia Lauxen, que trabalhava no escritório de Nieli Severo. Ela afirmou não ter conhecimento sobre os procedimentos da máfia, e que a titular do escritório não a deixava ter contatos com médicos ou entidades hospitalares, concentrando os atendimentos.

Apesar de também integrar a lista dos depoentes marcados para esta reunião da CPI, Nieli Severo não compareceu. Uma parte da reunião foi realizada de forma secreta, quando Magno Malta ouviu informações de advogados.

Próximos passos
Na próxima semana, a CPI das Próteses se reúne em Brasília para ouvir depoimentos de representantes do Conselho Regional de Medicina.

Com informações da Agência Senado

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