“Essa é a segunda vez que sou chamado a falar ao Congresso Nacional. Nunca tive a oportunidade de fazer isso perante a força-tarefa da Lava Jato, em Curitiba, e o juiz Sérgio Moro. Nunca quiseram me ouvir sobre acusações que fazem contra mim”. Essa foi uma das acusações que o advogado Rodrigo Tacla Duran fez durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (5).
O ex-consultor da Odebrecht afirma ter contribuições importantes para as investigações de combate à corrupção realizadas no âmbito da operação Lava Jato e disse estranhar o fato de o Judiciário brasileiro recusar suas contribuições. Ao ter seus pedidos de oitiva negados, Tacla Duran afirma ter violado seu amplo direito de defesa, princípio primordial do Estado Democrático de Direito.
“Se ele não me ouviu, nunca me deu oportunidade de defesa, porque não tem jurisdição para isso, ele não deve emitir juízo de valor, me pré-julgar, me difamar e me caluniar em qualquer programa de televisão. O juiz Sérgio Moro é um julgador, não um acusador. Uma investigação contra mim [na Espanha] já foi arquivada por falta de provas. Eu tenho colaborado com autoridades judiciais de diversos países sempre como testemunha, nunca como delator”, destacou.
Tacla Durán afirmou que virou “alvo de ataques de alguns procuradores [da República]” assim que soube, por meio da imprensa, que havia sido arrolado como testemunha de defesa do ex-presidente Lula por seus advogados. Mas esses pedidos têm sido negados pelo juiz Sérgio Moro. A defesa do ex-presidente Lula solicitou que Durán prestasse depoimento no âmbito do incidente de falsidade de documentos por parte da Odebrecht, no contexto da Lava Jato.
“Não serei testemunha de ninguém, porque esse não é o desejo de Sérgio Moro, nem dos procuradores da força-tarefa [da Lava jato]. Temos no Brasil, hoje, a mordaça das testemunhas consideradas inconvenientes aos olhos do juiz Moro e dos procuradores. Eles não têm o menor constrangimento em amordaçar testemunhas capazes de ameaçar suas teses e estratégias de acusação. O único país no qual estou impedido de ser testemunha e de colaborar com a Justiça, é o Brasil”, enfatizou.
Para o líder do PT na Câmara, Paulo Lula Pimenta (RS), trata-se de mais um absurdo autoritarismo de Moro contra Lula. “É um processo extremamente importante para o País, pois envolve um ex-presidente da República que lidera todas as pesquisas para a Presidência da República e foi condenado como preso político, pois não há nenhuma prova nos processos que justifiquem sua condenação”, criticou.
“A cada dia que passa com o presidente Lula preso de forma injusta e política, nós vemos um esquema criminoso se encrustando no Judiciário e a Justiça finge que não é com ela, o Ministério Público finge que não é com ele. Isso é grave”, emendou a deputada Luiziane Lins (PT-CE).
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Indústria das delações
Em dois depoimentos distintos, um à CPI da JBS e outro à defesa do ex-presidente Lula, Rodrigo Tacla Duran apresentou documentos que não conferem com os que teriam sido obtidos no sistema eletrônico de contabilidade da Odebrecht aos quais a Justiça teve acesso, colocando sob suspeita a veracidade das provas apresentadas pela Odebrecht a partir dos sistemas Drousys e MyWebDay – largamente utilizados pela Lava Jato.
O ex-consultor da Odebrecht também relatou ter sido procurado pelo advogado Carlos Zucolotto e recebido a proposta de pagamento de 5 milhões de dólares em troca de sua proteção durante a negociação de um acordo com a força-tarefa da Lava Jato.
“Estranhamente, o doutor Zucolotto, que é padrinho de casamento de Sérgio Moro, nunca foi investigado. Entretanto, agora surgem novas denúncias de que outros advogados também venderam proteção. É preciso investigar isso para que o Brasil saiba se houve tráfico de influência, advocacia administrativa ou extorsão. Hoje, quem questiona o modus operandi da força-tarefa de Curitiba, na produção de delações premiadas em série, é considerado inimigo da Lava Jato. Será que teremos de ser coniventes com o atropelo das leis e a subtração de direitos praticados por funcionários públicos? ”, questionou.
O deputado Wadih Damous agradeceu a disposição do advogado de se colocar novamente a disposição daqueles que, de fato, “querem ouvi-lo, ao contrário de outros [membros] do nosso sistema de Justiça”.
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