A escolha do tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) pela Fifa, como mascote da Copa do Mundo de 2014, que vai acontecer no Brasil, animou ambientalistas do País, que veem na escolha da entidade máxima do futebol uma oportunidade de divulgar informações sobre a espécie e alertar sobre o risco de extinção.
O mascote oficial da Copa do Mundo de 2014 será anunciado no próximo domingo (16/09) em cadeia nacional de TV, de acordo com informação de nota do Comitê Organizador Local (COL). Imagens do mascote já foram divulgadas no site de patentes europeias (OHIM), onde o desenho foi registrado pela FIFA.
A proposta de ter o pequeno animal como símbolo do megaevento esportivo foi apresentada à Fifa em fevereiro deste ano pela organização não-governamental Associação Caatinga, sediada no Ceará.
Segundo Rodrigo Castro, secretário-executivo da ONG, a adoção do tatu-bola, um animal “genuinamente brasileiro”, como mascote seria uma forma de divulgar informações sobre a espécie pouco conhecida e que corre sério risco de extinção.
Alerta máximo
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a espécie integra a lista nacional de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. A organização ambiental União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) considera o tatu-bola como “vulnerável” na natureza. Entretanto, há grandes chances de uma reclassificação para “criticamente ameaçado”, de acordo com o Rodrigo Castro, que explicou que essa denominação seria um sinal amarelo antes de um provável colapso da espécie.
Estudos recentes mostram que o tatu-bola sofreu um declínio superior a 30% ao longo dos últimos 12 anos. Segundo o MMA, as principais ameaças à sua sobrevivência são a caça, a agricultura, a redução do seu habitat e os assentamentos rurais. A ideia, segundo Rodrigo Castro, é aproveitar o momento para converter essa publicidade em benefício à biodiversidade da caatinga e do cerrado.
Sua população está distribuída por nove estados brasileiros, na Caatinga e no Cerrado, que perdem vastas áreas de vegetação devido à expansão urbana, às queimadas e à produção de carvão vegetal – grande parte na ilegalidade.
Segundo informações mais recentes do Governo Federal, o Cerrado já perdeu 48,5% de sua cobertura vegetal original, enquanto a Caatinga tem preservada apenas 54% de mata nativa. “Historicamente, a caça foi a grande vilã do tatu-bola, mas a urbanização e o aumento das atividades agrícolas têm afetado seu habitat”, disse Castro.
Bola como defesa
A relação desta espécie de tatu com o futebol é o formato de bola que adquire ao se defender de predadores. Ao perceber a presença de onças ou raposas, seu corpo se contorce e o animal esconde partes frágeis como o tronco, a cabeça e as patas no interior de uma dura carapaça – que se fecha e fica em formato de bola.
“Ele consegue ficar nesta posição de defesa por mais de uma hora, até que a situação de perigo passe”, explicou Rodrigo. Porém, o instinto de defesa do tatu-bola o deixa frágil para caçadores, que ainda procuram espécimes pelo Nordeste e Centro-Oeste do País para consumo.
Com comportamento arredio, o tatu-bola é diferente das outras espécies de tatu porque não cava buracos, ficando vulnerável para humanos. “Ele não consegue se esconder”, explicou Anderson Feijó, especialista em mamíferos do Nordeste mestre em zoologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Legado ambiental
Projeto que será apresentado à Fifa – e já recebeu a chancela do Ministério do Meio Ambiente – será a criação de um projeto de conservação da espécie que receberia investimentos de patrocinadores da Copa do Mundo de 2014.
Criado pela Associação Caatinga, em parceria com a IUCN e com a ONG The Nature Conservancy, o plano financiaria pesquisas que definiriam a quantidade de animais existentes no Brasil e as áreas naturais onde habitam. O projeto, que seria dividido em etapas e teria duração de 12 anos, ainda fortaleceria áreas protegidas na Caatinga e Cerrado, evitando quaisquer formas de degradação no futuro.
“A Fifa tem uma oportunidade única de atrelar um processo ecológico à Copa no Brasil. É uma oportunidade de deixar um legado ambiental para um evento grandioso e de fazer uma inovação”, completou Rodrigo Castro.
Bola da Copa
No último dia 3 de setembro, foi anunciado o nome da bola da Copa 2014 – Brazuca – que foi escolhido através de votação realizada pela internet.
Esta foi a primeira vez que os torcedores puderam opinar sobre o nome da bola oficial, cujas opções eram: Bossa Nova, Brazuca e Carnavalesca. A enquete durou três semanas e teve mais de 1 milhão de participantes. Destes, 77,8% votaram no nome Brazuca; 14,6% preferiram Bossa Nova; e 7,6% dos internautas escolheram o nome Carnavalesca.
Para a Fifa, o nome Brazuca, além de informal, é utilizado pelos brasileiros para descrever o orgulho nacional pelo estilo de vida do País, simbolizando emoção, orgulho e boa vontade, de forma semelhante à abordagem local ao futebol.
Rafael Noronha com informações de agências online