Ângela: “O cardápio obrigatório das articulações golpistas é o enxugamento drástico das políticas sociais que tiraram milhões de brasileiros da pobreza extrema”O atual processo de impeachment é fruto de uma aliança entre os que não têm voto para conquistar o governo nas urnas — os derrotados de 2014 —, os desesperados por se verem livres das investigações da operação Lava Jato e as elites econômicas que pretendem voltar a ditar os rumos das políticas no País. “Cada um desses grupos vai querer cobrar a sua parte se conseguirem derrubar a presidenta Dilma”, alertou a senadora Ângela Portela (PT-RR) em pronunciamento ao plenário nesta terça-feira (26).
“Além de ser um atentado à democracia – já que não se pode admitir o impeachment de uma Presidenta que não cometeu crime de responsabilidade –, o que se prepara é um golpe contra as conquistas sociais dos últimos 14 anos”, ressaltou Ângela. “A movimentação dos políticos que armam a derrubada da presidenta Dilma dá pistas das políticas recessivas que estão sendo preparadas”.
Nesta terça-feira, o Senado instalou a comissão especial que vai analisar o pedido de impeachment, com a eleição do presidente e do relator do colegiado, cujo parecer deverá ser apreciado até o dia 6 de maio. O texto deve ser submetido ao plenário no próximo dia 11.
Ângela chamou a atenção para as negociações entre os apoiadores do golpe, fartamente noticiadas pela imprensa. “O cardápio obrigatório dessas conversas são as medidas de enxugamento drástico das políticas sociais – as mesmas políticas responsáveis por tirar milhões de brasileiros da pobreza extrema e de conferir a outros tantos direitos que antes eram privilégio de uma parcela mínima da população”.
Entre esses programas, os mais conhecidos são o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, mas uma série de outras políticas fundamentais para a inclusão poderão sofrer cortes “em nome de uma austeridade fiscal que sabemos a quem interessa”, apontou a senadora.
Os apoiadores do impeachment, certamente, vão tentar justificar os cortes sociais com a “crise econômica, mas não admitirão que é a instabilidade política — inflada por eles desde outubro de 2014, quando a Presidenta Dilma foi eleita com 54 milhões de votos — que alimenta a instabilidade econômica.
O primeiro pilar do golpe são exatamente esses derrotados, recorda a senadora. “Primeiramente, ao não aceitarem os resultados das urnas. Num segundo momento, se uniram aos notórios chantagistas da política nacional e urdiram um plano para inviabilizar todas as iniciativas do Executivo que tivessem o objetivo de promover ajustes na economia e de recolocar o País no rumo do desenvolvimento”.
Ângela recapitulou essa movimentação, lembrando as inúmeras “pautas-bomba” e outras manobras para solapar o governo. “Será que alguém em sã consciência pode crer que aquela parcela importante da oposição estava movida pelo interesse público?”, questionou.
O segundo grupo de sustentação ao impeachment é o “grande grupo de parlamentares envolvidos em denúncias de corrupção, citados em delações de todo tipo, respondendo a vários processos no Supremo Tribunal Federal, que desejam trocar o impeachment por um tratamento mais brando da Justiça”, denunciou Ângela. “Esse objetivo ficou explícito durante a votação da abertura do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, no dia 17”. Em troca, arma-se na Câmara uma operação para salvar o mandato do maior artífice do golpe, o deputado Eduardo Cunha, presidente daquela Casa.
O terceiro pilar do golpe, que fecha o triângulo das forças políticas do atraso, são grandes grupos econômicos, como os representados na Federação das Indústrias de São Paulo, que vem investindo recursos – “e, em última instância, são públicos esses recursos” – no convencimento de parlamentares favoráveis ao impeachment. “Esses grupos políticos, por certo, também vão exigir o seu prêmio: o aumento do custo social dos problemas econômicos do País”. Aumento da idade mínima para aposentadoria, cortes em gastos sociais e aumentos de impostos são algumas das medidas que despontam no horizonte sombrio, caso o golpe vença.
“Tudo isso torna ainda mais dramática a tarefa no Senado na decisão sobre o impeachment”. Para Ângela, a Casa deve colocar as denúncias contra a presidenta Dilma em seu devido lugar, o da disputa política, “visto que não há sustentação jurídica para o impeachment. Temos que trabalhar com serenidade, equilíbrio, apreço à democracia e à Constituição”.
Cyntia Campos
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