A CPI da Covid entra na sua provável última semana de depoimentos antes da apresentação do relatório final com a expectativa do depoimento do representante da operadora Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior. Ele faltou na última semana alegando não ter tido prazo suficiente (menos de 24 horas) para comparecer ao colegiado. Os senadores questionaram, no entanto, o fato de ele ter tido tempo, no mesmo prazo, para acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e obter o direito ao silêncio diante dos parlamentares durante a oitiva.
A Prevent Senior entrou na mira da CPI depois que documentos obtidos pelo colegiado apontaram que a empresa adotou a prescrição indiscriminada aos seus usuários de remédios do chamado “kit covid”, comprovadamente ineficazes para o tratamento da doença. De acordo com relatos feitos à imprensa por médicos e familiares de usuários do plano de saúde, em muitos casos, a Prevent Senior sequer comunicava a família sobre a administração dos medicamentos.
Os parlamentares também veem indícios de ligações entre o gabinete paralelo do Ministério da Saúde – grupo de assessoramento extraoficial de Bolsonaro que defende a imunidade de rebanho e o tratamento precoce –, e as práticas adotadas pela Prevent Senior durante a pandemia. As investigações do colegiado apontam que a médica Nise Yamaguchi e o empresário Carlos Wizard seriam alguns dos integrantes do chamado gabinete paralelo.
“O relatório final da CPI da Covid será muito forte, contundente e robusto. Daremos realmente uma resposta à população sobre o que aconteceu na pandemia e indicaremos as responsabilidades por essa verdadeira tragédia sanitária, econômica, social e política que assola o país. Bolsonaro cometeu vários crimes comuns ao longo desse período da pandemia, inclusive crimes contra a vida humana”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE).
“A nossa expectativa é que a Procuradoria Geral da República cumpra seu papel e seu dever diante do relatório final da CPI da Covid. A comissão não vai acabar em pizza”, concluiu.
Ainda na última semana, a GloboNews divulgou reportagem realizada a partir de documentos obtidos pela CPI da Covid em que mostram um estudo produzido pela Prevent Senior para testar a eficácia da hidroxicloroquina associada à azitromicina no tratamento contra a Covid-19. Porém, a operadora teria manipulado a divulgação dos dados do estudo e mortes de pacientes teriam sido ocultadas.
A pesquisa começou a ser feita em 25 de março de 2020 e, numa mensagem publicada em grupos de aplicativos de mensagem, o diretor da operadora, Fernando Oikawa, orienta os subordinados a não avisar os pacientes e familiares sobre a medicação.
Dos nove pacientes que morreram, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina e azitromicina. Dois estavam no grupo que não ingeriu as medicações. Há um paciente cuja tabela não informa se ingeriu ou não a medicação. Houve, portanto, pelo menos o dobro de mortes entre os participantes que tomaram cloroquina.
“O caso da Prevent Senior é muito grave. Pessoas foram submetidas a testes terapêuticos sem consentimentos. Mesmo após as evidências científicas de que o Kit Covid não tinha eficácia. Temos os crimes contra saúde pública, homicídio culposo e o crime de genocídio”, destacou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
A expectativa da CPI é que Pedro Benedito Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior seja ouvido pela CPI na próxima quarta-feira (22).
Na terça-feira (21), será a vez do ministro-chefe da Controladoria Geral da República, Wagner do Rosário, ser ouvido pela CPI.
Na última semana, o presidente da CPI, senador Omar Aziz pediu a inclusão de Rosário no relatório final do senador Renan Calheiros (MDB-AL) pela prática do crime de prevaricação.
“Wagner do Rosário é um prevaricador. Ele tem que vir mesmo aqui. Como ele sabia que Roberto Dias estava operando dentro do Ministério da Saúde e não tomou providência? Ele tem que explicar. Não são as operações que ele fez, não, mas a omissão dele em relação ao governo federal”, disse o senador durante o depoimento do lobista da Precisa Medicamentos, Marconny Faria.
Possibilidade de nova convocação de Queiroga
O depoimento da próxima quinta-feira ainda não está definido, mas existe a possibilidade de Danilo Trento, diretor da Precisa Medicamentos, finalmente ser ouvido pelos membros da CPI.
A Precisa Medicamentos, empresa de Francisco Maximiano, está sob investigação da CPI por ter intermediado a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin. A operação custaria R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos.
Durante as investigações da CPI, descobriu-se, dentre outras coisas, que a operação financeira foi garantida pelo FIB Bank, que apesar do nome não é um banco e tem como sócio oculto Marcos Tolentino, amigo do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara.
Após a revelação das irregularidades, o Ministério da Saúde decidiu cancelar o contrato.
O colegiado ainda discute a possibilidade de uma terceira convocação do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. A ideia é esclarecer a orientação dada pelo ministro, na última semana, de suspender a vacinação de adolescentes sem comorbidades.
“Suspender a imunização de jovens tem um motivo: falta de planejamento do governo Bolsonaro e de vacinas. Aliás, o Brasil já deveria estar adquirindo mais vacinas para 2022. Queremos te ouvir na CPI, Marcelo Queiroga”, afirmou o senador Rogério Carvalho.
Na live da última quinta-feira, ao lado de Jair Bolsonaro, Queiroga chegou a afirmar que partiu do presidente a orientação para rever a vacinação de adolescentes.
A expectativa, com a possibilidade de inclusão do terceiro depoimento de Queiroga, é de que o senador Renan Calheiros entregue o relatório final da CPI na primeira semana de outubro.