Viana: CPI mista pode servir para arrecadar recursos para campanhas

Viana: CPI mista pode servir para arrecadar recursos para campanhas

Senador diz que a imprensa corre o risco de cair na armadilha ao defender uma investigação ampla, porque há políticos querendo levantar recursos para suas campanhas 

Viana: “Quantos bilhões a Petrobras envolve,
quantas empresas têm como fornecedoras?
Essas empresas financiaram ou não
financiaram políticos ao longo de décadas.
Bancaram ou não bancaram campanhas de
políticos?”

Em conversa com jornalistas no plenário do Senado na tarde desta terça-feira (6), o senador Jorge Viana afirmou que o interesse da oposição para fazer uma CPI mista para investigar a compra da refinaria Pasadena (EUA) pela Petrobras pode esconder a verdadeira intenção: levantar recursos para as campanhas eleitorais entre as milhares de empresas que fornecem equipamentos para a Petrobras. Viana, assim como o líder do PT, Humberto Costa (PT-AC), defende uma CPI no Senado por considerar mais objetiva do que uma CPI mista, com a presença de maior número de parlamentares da Câmara e do Senado.

A repórter Maria Lima, do jornal O Globo, fez a seguinte pergunta: “O que o senhor quer dizer com viabilizar recurso para campanha?”.

Jorge Viana devolveu a pergunta com outras questões: “Quantos bilhões a Petrobras envolve, quantas empresas têm como fornecedoras? Essas empresas financiaram ou não financiaram políticos ao longo de décadas. Bancaram ou não bancaram campanhas de políticos?”

Depois da seguidas perguntas, o senador definiu: “Fazer uma coisa dessas às vésperas de uma eleição é o fim do mundo”, criticou.

Viana lembrou que projeto de sua autoria, proíbe a doação privada a campanhas eleitorais, não prosperou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, e ainda citou o julgamento da ação interposta pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), contra a doação de empresas para campanhas eleitorais, que foi interrompido no Supremo Tribunal Federal (STF) por pedido de vistas do ministro Teori Zavascki, quando o placar marcava 4 votos a favor e um contra pelo fim das doações.

A repórter de O Globo questionou a quem isso prejudicaria e Viana respondeu que estava falando no geral e irrestrito. Ao lado de Viana, Humberto Costa acrescentou: “Esse arroubo investigatório, às vezes, não é tanto assim investigatório.”

Viana teme que a CPI mista não seja feita para investigar, mas para viabilizar campanhas. “Isso é muito perigoso porque, lamentavelmente, a gente pensa que conhece os bastidores”, afirmou. “Os bastidores estão mais embaixo. Houve essa mudança com interesse de atender o calendário eleitoral.”

A repórter emendou outra pergunta: “Mas beneficia o PT também, né senador?”. 

“Não estou pondo e nem tirando ninguém. Eu estou falando que isso é resultado da política brasileira. Se isso estiver por trás, é muito grave. Não estou nem excluindo alguém nem incluindo todo mundo. Estou falando que está parecendo mais isso do que qualquer outra coisa. É grave. É muito grave. Nunca houve isso”, enfatizou.

O senador lembrou que na época em que os tucanos estavam no poder, mais de cem mil pessoas ocuparam a frente do Congresso Nacional exigindo a abertura de CPIs contra a corrupção, e absolutamente nenhuma foi instalada.

“Agora vamos instalar uma CPMI às vésperas das eleições e da Petrobras, que é a empresa que mais contrata outras empresas, que são as que mais contratam outras empresas. Tem algo mais por trás disso do que simplesmente investigar e apurar. Porque estão rejeitando a CPI do Senado, que está aqui, que pode ser feita de maneira transparente e transmitida ao vivo”, questionou.

Outra repórter quis saber quem, eventualmente, seria prejudicado com a CPI mista, e Viana sugeriu que estão ocorrendo milhares de conversas nos bastidores, com pessoas levantando nomes de empresas fornecedoras da Petrobras que poderiam ser convocadas para depor na CPI. “O que os políticos estão fazendo nessa hora? Estão tentando viabilizar suas campanhas desse ano, estão atrás de dinheiro, atrás de alianças. Os políticos todos estão fazendo isso. Tudo mundo está fazendo isso.  Todos os partidos estão fazendo isso, procurando viabilizar suas campanhas. Agora, isso não é tornado público. Aí coloca uma CPI da Petrobras para ver o tamanho que vai dar. Alguém tem que ter a coragem de dizer as coisas. Se é isso que está por trás é o fim do mundo”, enfatizou.

Segundo Viana, a CPI do Senado pode ser instalada rapidamente, até amanhã se a oposição indicar os nomes dos senadores que vão compor a comissão – mas até agora eles não indicaram. Além disso, observou o senador, a CPI do Senado é resultado de uma decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber. “Mas para a oposição o que serve é a outra CPI, a mista, que vai demorar a ser instalada. Quanto tempo vocês acham que demora, porque temos que cumprir prazos e ninguém vai desrespeitar, senão ela já nasce defeituosa. E tudo isso na véspera de uma eleição?”, indagou.

Se a oposição quer investigar – ninguém mais fala da refinaria de Pasadena, só da Petrobras -, Viana defende que a presidenta da empresa seja ouvida quantas vezes forem necessárias. “Porque a CPI do Senado não começa logo. O PT já indicou os nomes. Então, eu acho que a imprensa está caindo nessa armadilha”, salientou.

Marcello Antunes

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