Jorge Viana avalia que “por puro milagre” a exploração de haitianos pelos coiotes ainda não gerou uma tragédia maior nos últimos anosO Brasil precisa fechar a porta da imigração ilegal de haitianos para evitar que a ação de “coiotes” acabe provocando uma tragédia, alerta o senador Jorge Viana (PT-AC), preocupado com o fluxo crescente de refugiados que chegam ao País, principalmente pela fronteira do Acre, trazidos por quadrilhas especializadas em tráfico de pessoas. Desde dezembro de 2010, o Acre recebeu mais de 36 mil haitianos que fogem de um país devastado por um terremoto, epidemias e conflitos armados. “Temos que encontrar uma maneira de fechar essa rota, que é perigosa, ilegal e injusta, porque explora o ser humano, e não permitirmos que ocorra a exploração dessas pessoas”, defende Viana, que governou o Acre entre 1999 e 2007.
Em pronunciamento ao plenário, nesta segunda-feira (3), o senador elogiou a ação do governo Brasileiro, que vem intensificando a concessão de vistos na capital haitiana, Porto Príncipe, uma forma de assegurar que os imigrantes que cheguem ao País já venham de forma legal, sem depender dos coiotes. Ele também demonstrou otimismo com o trabalho do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que está pessoalmente visitando os países da rota dessa migração, de modo a construir providências conjuntas para coibir o transporte ilegal de pessoas para o Brasil. Desde o dia 8 de julho, a emissão mensal de vistos brasileiros para haitianos passou de 600 para cerca de 1,7 mil, transformando o do consulado do Brasil em Porto Príncipe, capital do Haiti, no segundo maior emissor de visto do mundo.
Viana participou de uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, na manhã desta segunda-feira, para debater o tema. Ele enfatizou que “por puro milagre” a exploração de haitianos pelos chamados coiotes ainda não gerou uma tragédia maior nos últimos anos. “São traficantes de seres humanos, que oferecem facilidades para as pessoas na fila da Embaixada do Brasil no Haiti”. Ele lamentou que a política humanitária adotada pelo Brasil, com facilitação de vistos para os que chegam às fronteiras e acolhimento com alimentação, hospedagem e acesso à saúde, “transformou-se em um negócio”.
Desde dezembro de 2010, o estado do Acre recebeu 36.285 haitianos, 3.550 senegaleses e mais um grande número enorme de imigrantes de outras nacionalidades, num total de 40.280 imigrantes. “Quanto mais casos resolvemos, mais facilitamos para aqueles que traficam pessoas. Eles negociam e afirmam para os haitianos que, dois dias depois da chegada, estarão documentados e poderão escolher o lugar do Brasil para onde querem ir. Eles dão até a passagem de ônibus”.
Jorge Viana defendeu a substituição desse sistema por outro legalizado e organizado. Para ele, a exploração dessas pessoas não pode ser piorada com o acolhimento indesejado, com eles flagelados e jogados nas periferias e praças de muitas cidades do Brasil. “Quando eles chegam ao Acre, pelo menos têm um endereço e um local para comer. E quando chegam a São Paulo? E quando chegam a outros lugares? Eles têm um endereço? Será que todos são acolhidos bem?”.
O senador ressaltou o trabalho que vem sendo feito pelo governo do Acre desde o início do fluxo migratório de haitianos para aquele estado. “O governador Tião Viana cumpriu uma missão que, em muitas ocasiões, substituiu a ONU (Organização das Nações Unidas), o Estado brasileiro e as organizações da sociedade civil”, afirmou, lamentando que muitas dessas organizações, que fazem um admirável trabalho humanitário mundo afora, não estejam presentes no Acre, um dos estados mais pobres da federação e que arcou com despesas incompatíveis com seu orçamento para acolher os refugiados. “O Acre foi transformado no maior campo de refugiados das Américas”, destacou.
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