Divulgação

Francisco inovou ao apresentar a sua primeira encíclica voltada para uma noção de ecologia integral que conecta a crise ambiental com a pobreza, desigualdades, e a crise de valores
Poucas horas após ministrar a bênção no “domingo da ressurreição”, o papa Francisco foi ao encontro do Redentor. O funeral do sumo pontífice ocorreu ontem em cerimônia com todos os ritos do Vaticano reunindo líderes políticos e personalidades de todo o mundo. Uma demonstração do reconhecimento global à pessoa e ao trabalho de Francisco à frente da igreja católica.
Nesses tempos de conflitos, massacre de inocentes, condutas imperiais, desprezo aos pobres e indiferença com a vida neste planeta, Francisco fará muita falta. Mas a prática das suas ideias em 12 anos de um pontificado dedicado ao esforço por transformações humanistas e contemporâneas na instituição mais longeva e influente da cultura e costumes ocidentais haverão de inspirar e mover positivamente lideranças e as pessoas de bem em todos os continentes. Que o Espírito Santo ilumine os cardeais que participarão do Conclave que definirá o novo papa. E que este, a exemplo de Francisco, prossiga transbordando valores de paz, justiça, solidariedade, e de defesa do espaço criado por Deus para oferecer alimento, abrigo e recursos para a vida.
No Conclave de 2005 que elegeu o papa Bento XVI, o então cardeal Jorge Mario Bergoglio já foi o segundo mais votado. Em 2013, em um Conclave singular, que substituiu um papa fora do exercício, mas em vida, o argentino Bergoglio foi eleito para liderar a igreja com 85 votos dos 115 cardeais votantes. Sinalizando os rumos generosos que imprimiria ao seu pontificado, o novo papa, imediatamente após a apuração dos votos, escolheu que seria identificado como papa Francisco, em reverência e admiração aos exemplos de vida de São Francisco de Assis.
Compatível com sua leveza humana, Francisco se diferenciou, também, pelo apreço ao humor, recurso por ele utilizado como forma refinada de comunicação, e que também lhe realçava o enorme carisma. Na sua primeira fala após o conclave de 2013, Francisco afirmou que os seus colegas resolveram escolher um “Papa vindo do fim do mundo”. Seria um ‘prato cheio’ aos brasileiros para gozação com os argentinos com quem historicamente mantemos relação de admiração e amizade permeada pelo impulso recíproco a provocações e disputas especialmente no futebol. Para não perder a oportunidade, lembro que fazendo gracejo com o conhecido ego argentino, Francisco disse que os ‘hermanos’ não gostaram da denominação “papa Francisco”; os argentinos teriam preferido papa Jesus Cristo 2º.
Quando questionado na sua primeira viagem ao Brasil, por que não um papa brasileiro, Francisco não titubeou e respondeu: Deus é brasileiro e vocês ainda querem ter o papa?
Porém, ao afirmar que vinha do fim do mundo, provavelmente Francisco pretendia reforçar que seria um papa da igreja latino-americana; com a evangelização do colonizado e não com a do colonizador europeu. Daí, portanto, a inspiração franciscana de um jesuíta por uma opção inconteste do seu papado pela inclusão na igreja dos mais pobres, imigrantes, refugiados, despojados, moradores de rua e dos excluídos e discriminados em geral.
Porém, Francisco inovou ao apresentar a sua primeira encíclica voltada para uma noção de ecologia integral que conecta a crise ambiental com a pobreza, desigualdades, e a crise de valores. Em especial, a encíclica “Laudato Si”(Louvado Sejas) foi uma forte conclamação global para o enfrentamento da crise climática.
Não obstante seus “deveres de ofício”, as autoridades do mundo, homenageariam e reconheceriam a história de Francisco caso transformassem a COP 30, em Belém, no marco das ações concretas para evitar o colapso do clima e a ruptura das condições de vida neste planeta. Que as portas da igreja escancarem para todos e todas, e que o novo papa, como Francisco, mantenha a construção de pontes mesmo com aqueles que só constroem muros. Vida eterna a Franciscus!