Walter Pinheiro: história de Lula e Gilmar “está mal contada”

“Para mim, o que fica claro é que essa polêmica – ou falsa polêmica – pode ser utilizada para desviar o foco da CPMI e no Conselho de Ética”, disse.

“Não dá liga, essa história está muito mal contada”, disse, na tarde desta segunda-feira (28/05), o senador Walter Pinheiro (PT-BA), ao ser cercado pelos repórteres, assim que saiu do plenário do Senado. Todos buscavam avidamente o que teria a comentar o líder do PT no Senado sobre reportagem da revista Veja desta semana. Segundo a revista, em encontro ocorrido há cerca de um mês, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria prometido “proteção” ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Em troca, sempre segundo a revista, Mendes teria de trabalhar para que o processo sobre o assim chamado mensalão não começasse no primeiro semestre deste ano. Na mesma história, relatada em detalhes por Mendes para a revista, lê-se ainda que o encontro entre ambos se deu no escritório do ex-presidente do Supremo, Nelson Jobim.

Cercado pelos repórteres, Pinheiro respondeu a todas as perguntas com interrogações que expressam a nebulosidade do episódio. “O que o senhor tem a dizer sobre a reportagem da revista Veja desta semana?”, quis saber um deles. “Qual das versões você quer?”, respondeu o senador. “Aquela em que há dois testemunhos contra um?”, acrescentou, referindo-se ao desmentido contundente de Nelson Jobim, na tarde de sábado passado, poucas horas depois da revista começar a ser distribuída em São Paulo, e às dúvidas levantadas pelo presidente do Supremo, Ayres Britto, que, ainda segundo a revista, ficou sabendo do encontro entre Lula e Gilmar apenas na quarta-feira da semana passada. “Prefiro acreditar que o ministro Gilmar fez uma interpretação equivocada sobre essa reunião”, disse, também no sábado, Ayres Britto para a Agência Estado. Também horas depois, a fala do presidente do STF contrastou frontalmente com que a revista trouxe.

“Por que alguém, investido da autoridade de ministro da mais alta Corte de Justiça, esperou um mês para trazer a público informações julga graves como essa?”, insistiu o senador junto aos repórteres.

Sem obter resposta, além do assentimento coletivo dos jornalistas, o senador também desmontou a versão trazida na revista – e verbalizada pelo ministro Gilmar Mendes – de que Lula estaria usando a CPMI da organização criminosa de Carlos Cachoeira para pressionar o ministro do STF. “Há um mês, quase todos vocês”, disse, referindo-se aos repórteres, “que Lula era o principal patrocinador da CPMI, e que o principal alvo de Lula era o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Se isso for verdade”, emendou nova pergunta, “como se explica que Lula, um dia depois da Comissão oficialmente instalada, tenha ido oferecer proteção a Gilmar Mendes? Proteção contra o que? Isto é o que eu quero saber neste momento.”

Além dessas interrogações, o líder do PT no Senado repetiu mais uma vez aos repórteres que não foi Lula, nem qualquer parlamentar do PT que provocou a concomitância entre a CPMI e o julgamento do chamado mensalão. “É preciso deixar claro que o início do julgamento do chamado mensalão já tinha começado segundo calendário estabelecido pelo próprio STF. Ele já é um fato”.

E finalizou: “Para mim, o que fica claro é que essa polêmica – ou falsa polêmica – pode ser utilizada para desviar o foco dos trabalhos do Congresso na CPMI e no Conselho de Ética”.

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