Wellington celebra centenário de Apolônio, “herói de três pátrias”

O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT – PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Quero, aqui, somar-me aos despachantes do Brasil inteiro e faço isso em nome do Cleto, que é um conterrâneo da minha querida Oeiras, no Piauí, mas que mora em Minas Gerais e é um dos líderes dessa causa vitoriosa.

Esse projeto foi aprovado como veio da Câmara, sem alteração, e agora vai para sanção presidencial, para regular o importante conselho do nosso País. São milhares de homens, mulheres, enfim, que atuam e que passam a ter essa condição.

Sou grato à aprovação, nas Comissões desta Casa e na Câmara, dessa iniciativa do meu querido Deputado Arnaldo Faria de Sá. E quero, aqui, congratular-me com todas essas lideranças.

Sr. Presidente, amanhã, dia 10 de fevereiro, é aniversário do meu Partido, o Partido dos Trabalhadores, o único Partido da minha vida. Sou de uma geração em que o meu pai era do MDB, do “manda brasa”, como chamávamos lá atrás. Eu, ainda menino, atento, acompanhava essa força política. E digo isso lembrando o meu querido Alberto Silva, as gerações mais antigas. Hoje, o Presidente é o Marcelo Castro.

Ainda muito jovem, cheguei à capital, Teresina, em 1976, 1977, já movido por intelectuais, gente da universidade, como Antonio José Medeiros, e também trabalhadores rurais. Destaco, aqui, o meu querido Zé Pereira, um dos líderes; Ribamar Santos, que hoje mora em Teresina – ainda é vivo; meu querido Luís Edwiges; enfim, um conjunto de outros líderes rurais, camponeses, que ajudavam a organizar esse Partido. Agora, 32 anos depois, muitos não viveram, como o Zé Pereira, para contar essa história vitoriosa, que ajudou a democratização, com outros partidos do nosso País, as eleições diretas, a anistia, a luta para que tivéssemos liberdade de imprensa e tantas outras coisas.

Então, amanhã, estaremos aqui, em Brasília, com a presença do nosso Presidente de honra, Luiz Inácio Lula da Silva, e da nossa Presidente da República, Dilma Rousseff. Amanhã, vamos ter o encontro dos Prefeitos, o encontro dos Deputados, enfim. No final da tarde e começo da noite, às 18h, teremos, aqui, esse momento festivo, comemorativo, quando vamos apagar 32 velas pelos 32 anos de história do Partido dos Trabalhadores.

Faço isso homenageando tantas gerações que passaram pela direção deste Partido, em nome do Presidente do Diretório Nacional, meu querido Rui Falcão, que faz um belíssimo trabalho como responsável da direção do Partido, e do dirigente regional do meu Partido no Piauí, o jovem Deputado Estadual Fábio Novo.

Brinco muito com ele: é bom, porque ele nunca fica velho, será sempre Fábio Novo. Ele hoje dirige o nosso Partido naquele Estado.

Homenageio as novas gerações, essa militância aguerrida. Tive, nesses dias, um encontro com esses jovens, ainda com o fogo da juventude – há poucos dias, em forte mobilização lá no meu Estado, lutando por melhores condições de transportes.

Destaco aqui o Fagner, que é da União Brasileira dos Estudantes e também militante da UNE, o Diolino Vicente e uma mulher especial para mim – eu, ainda jovem, namorando-a, já era filiado ao PT –: Rejane Dias, hoje Deputada Estadual, minha esposa.

Então, quero, em nome dessas pessoas, pela sua história, pela sua tradição, por toda a construção e em todos os partidos, saudar este momento; em nome de todos os Governadores, que no Executivo fazem um belo papel.

Queria fazer aqui uma homenagem a um companheiro e amigo – são muitos, mas esse companheiro viveu momentos dolorosos nos últimos dias –: Jaques Wagner, lá da Bahia. Jaques Wagner, da Bahia.

Meu líder aqui esteve, há poucos dias, acompanhando esse importante trabalho, Walter Pinheiro, nesse momento duro, que já vivi na vida. Sei quanto é doloroso ver ali ações que muitas vezes extrapolam aquilo que a democracia pede e que caminham para… O senhor também já viveu momentos duros. Então, sei que ele, a Fatinha, sua esposa, e seus filhos, enfim, nessas horas sofrem muito.

Então, homenageando Jaques Wagner, da Bahia, queria homenagear Agnelo, Marcelo Déda, Tarso Genro, o meu querido Tião Viana, que fez um belo trabalho nesta Casa. Por ocasião do aniversário do PT, queria fazer uma homenagem também àqueles que não puderam ver todas essas vitórias da nossa sociedade e o PT como parte; todo esse trabalho nas prefeituras, nos Estados; esse trabalho nas lutas sociais, nas organizações de classes; esse trabalho do Governo do Presidente Lula e agora, da primeira mulher Presidente.

E queria homenagear Apolônio de Carvalho. Apolônio de Carvalho completaria hoje 100 anos de idade, se vivo estivesse entre nós.

Nasceu em Corumbá, em Mato Grosso do Sul, no dia 09 de fevereiro de 1912 e faleceu no dia 23 de setembro de 2005, no Rio de Janeiro.

Quero homenagear esse querido petista especial por suas ideias de esquerda.

Apolônio passou parte de sua vida no exílio e foi transformado em personagem por Jorge Amado, o Apolinário, da obra Subterrâneos da Liberdade. O escritor baiano chamava o ativista de “herói de três pátrias”. O motivo? Apolônio participou da revolta (Intentona) comunista de 1935, da Guerra Civil espanhola, da Resistência Francesa contra os nazistas e da guerrilha contra o regime militar brasileiro (1964-1985).

Sonhava ser médico, desde menino. Mas, ao partir para o Rio de Janeiro para estudar, a mãe lhe disse: “Se você for militar, como seu pai, vai poder ajudar a família”. Assim, ingressou na Escola Militar de Realengo e tornou-se tenente do Exército, em 1933.

Foi servir em Bagé, no Rio Grande do Sul, e entrou, em 1935, para a Aliança Nacional Libertadora (ANL), que reunia democratas, socialistas e comunistas contra os avanços da extrema-direita. Em junho de 1935, a ANL foi declarada ilegal. Apolônio foi preso pela primeira vez e perdeu a patente de tenente. Durante a prisão, foi transferido para a Casa de Correção, no Rio de Janeiro. Ali conheceu Olga Benário, Luiz Carlos Prestes e o escritor Graciliano Ramos, que descreveu o drama daquelas centenas de presos políticos em Memórias do Cárcere.

Segundo Apolônio, foi nessa ocasião que tomou conhecimento da existência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao qual se filiou ao ser solto, em 1937. Viajou para a Espanha, a fim de se engajar nas Brigadas Internacionais que lutavam contra o ditador Francisco Franco, na Guerra Civil (1936-1939).

As brigadas foram derrotadas – em parte, pelo desentendimento entre os vários grupos comunistas e socialdemocratas – e ele, confinado na França, num campo de internamento, como era chamado, com outros combatentes. No ano seguinte, o país foi invadido e ocupado pela Alemanha nazista, em 1942. Apolônio escapou do campo, filiou-se ao Partido Comunista francês e entrou para o movimento da Resistência. Foi quando conheceu a mulher, Renée, ativista comunista, com quem viveu até o fim.

Voltou ao Brasil no final de 1946, com Dona Reneé, e o primeiro filho. Nessa época, o PCB, Partido Comunista do Brasil, voltara a ser legal. Presidiu a União da Juventude Comunista (UJC), que tinha como secretário-geral João Saldanha, depois jornalista e técnico da Seleção Brasileira. Um ano depois, o PCB foi posto na ilegalidade, e a UJC, dissolvida. Novamente, Apolônio mergulhou na clandestinidade.

Apolônio e Reneé viveram na União Soviética de 1954 a 1957, mesma época em que foram denunciados os crimes de Stálin, o ditador russo: foi quando o militante conseguiu superar o que chamava de “visão ilusória e fantasiosa do socialismo”. Ao retornar ao Brasil, mesmo crítico do PC, Apolônio passou a escrever na revista do partido, Novos Rumos, e participou da sua comissão de educação, dando cursos de formação.

Com o golpe militar de 1964, ele defendeu a luta armada e fundou o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Enfrentando a ditadura, foi preso e torturado em 1969. Um ano depois, um comando guerrilheiro sequestrou o embaixador alemão e, para libertá-lo, exigiu a soltura de 39 presos. Apolônio era um deles.

Exilado, foi para a Argélia e, depois, de volta para a França, onde viveu até a anistia política, em 1979 – aí eu já começo a participar da história. De volta ao Brasil, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores – nessa época eu era militante do movimento estudantil na minha querida Oeiras e, depois, em Teresina, nos movimentos das comunidades de base da Igreja Católica, o que me deu uma bela formação –, em 1980, exatamente em 10 de fevereiro de 1980. No entanto, devido a seu descontentamento com os rumos do governo Lula, sua família não permitiu que a bandeira do PT fosse colocada sobre seu caixão, quando morreu.

Por serviços prestados na Resistência, foi condecorado com a Legião de Honra pelo governo da França. Pela luta na Espanha, recebeu a cidadania espanhola, nos anos 1990. Nessa mesma década, por recomendação médica, Apolônio afastou-se da militância política intensa.

Conhecido pelo otimismo, a fala mansa e a polidez, dedicou-se a escrever seu livro de memórias. O nome do livro é “Vale a Pena Sonhar”.

Tentar resumir a vida de Apolônio em poucas linhas é simplesmente impossível. O máximo que se pode conseguir é um índice sobre ela. Comunista, Apolônio de Carvalho lutou, como eu disse, na Guerra Civil Espanhola e na resistência francesa contra a ocupação nazista. No Brasil, lutou contra as ditaduras de Getúlio Vargas (1937-1945) e a dos regimes militares (1964-1984). Preso e enviado ao exílio em 1970, em troca da libertação do embaixador alemão, que havia sido sequestrado por guerrilheiros, voltou com a anistia e ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT).

Uma vida em luta:

Apolônio atravessou o século XX lutando pelas ideias em que acreditava. E foi um exemplo de militante internacionalista. Em 1935, foi preso como membro da Aliança Nacional Libertadora (ANL), vivendo, com centenas de outros presos políticos, o drama retratado por Graciliano Ramos no livro “Memórias do Cárcere”. Expulso do Exército pela ditadura de Getúlio Vargas, foi voluntário das Brigadas Internacionais que lutaram ao lado dos republicanos contra os fascistas na Guerra Civil espanhola. Depois foi combater na Resistência Francesa. Em dezembro de 1946, de volta ao Brasil, participou ativamente da vida política do País.

Há 50 anos, sua bravura foi reconhecida pela França, onde é considerado herói nacional. Apolônio foi chamado pelo escritor Jorge Amado, como eu disse, de “um herói de três pátrias”. Foi casado por mais de 50 anos com a francesa Renée France e teve dois filhos, René-Louis e Raul, que permaneceram com ele até seu último suspiro.

O filho mais velho de Apolônio de Carvalho, René de Carvalho, disse que o pai será cremado no Crematório do Caju no domingo. Disse também que o velório deverá ser realizado na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro.

Eu concluo dizendo que Apolônio foi um otimista incorrigível.

Em nota divulgada pelo Palácio do Planalto, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, quando ele morreu, que recebeu com “enorme tristeza a notícia da morte do querido amigo e companheiro Apolônio de Carvalho”. Lula diz que a vida de Apolônio mostrou que vale a pena enfrentar a batalha pela igualdade e pela justiça social “em qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo”. O ex-Presidente acrescenta que Apolônio era um otimista irreversível e que ensinou que a perseverança e a honestidade de propósito serão sempre recompensados. Isso é dito numa nota à época em que Lula era Presidente, quando Apolônio faleceu. E, nessa nota, Lula classifica Apolônio como um dos maiores exemplos de bravura, de coragem e coerência da história brasileira.

Faço minhas as palavras do Presidente.

Sr. Presidente, eis a homenagem que faço ao meu Partido, lembrando esse bravo guerreiro, fundador irreverente, alguém que enfrentou tantas batalhas, inclusive em relação ao Partido que ajudou a fundar, mostrando a necessidade de o nosso Partido se revigorar. E quero, aos 32 anos do PT, fazer esse chamamento ao meu Partido. É preciso que possamos, 32 anos depois, ter um processo de revigoramento, ou seja, fazer a reconstrução de novas ideias, novas bandeiras, apostar fortemente na formação política, porque a missão ainda é muito grande.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Casildo Maldaner. PMDB – SC) – Quero congratular-me com V. Exª, Senador Wellington Dias, pela linda história de Apolônio. Ele mesmo, na hora da morte, pediu que não colocassem a bandeira sobre o caixão e, mesmo assim, o então Presidente Lula fez uma homenagem, apesar das críticas internas – importantes para a democracia interna.

Fico feliz com os 32 anos do PT. Eu lembro que, quando era Deputado Estadual por meu Estado, Lula fez uma incursão lá em Criciúma, com os mineiros, começando a tirar nosso pessoal do PMDB para fundar o PT. Eu nunca esqueço isso. E nós começamos a ficar um pouco preocupados. Mas veja como são as coisas: eram todos ligados ao PMDB, como V. Exª. Fico muito feliz.

O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT – PI) – É verdade, com muito orgulho.

O SR. PRESIDENTE (Casildo Maldaner. PMDB – SC) – Eu ajudei a fundar o PMDB na minha história e tenho este caminho. Mas o PT, na verdade, vem dessa gênese. A origem praticamente é a mesma. E a discussão interna é muito importante. Amanhã vamos ter um grande encontro em que, com certeza, haverá discussões internas também. Isso é muito salutar.

Meus cumprimentos a V. Exª, Senador, pela brilhante vida desde menino lutando nas mesmas trincheiras.

O SR. WELLINGTON DIAS (Bloco/PT – PI) – Obrigado.

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