Magoado, Paulo Preto diz que não arrecadou para Serra

 

Em seu depoimento nesta quarta-feira (29/08) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga as relações do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos – o Carlinhos Cachoeira –  o ex-diretor de engenharia da Dersa (Companhia de estradas do governo de São Paulo), Paulo Vieira Souza – conhecido como Paulo Preto – garantiu, por diversas vezes que jamais atuou como arrecadador de campanha do então candidato à presidência da República José Serra. Ele também garantiu que não participou de negociações para que verbas destinadas a obras em São Paulo – especialmente a do Rodoanel – fossem desviadas para campanhas eleitorais de 2010 de candidatos do PSDB. E afirmou que as matérias da revista Istoé que o acusam de irregularidades “são mentirosas”.

“Se eu fui procurado para doação? Eu nunca atuei nisso ,não” declarou. E emendou: “nunca participei de partido político; eu sou um gestor, privado ou púbico e nunca fui filiado a qualquer partido político”. Paulo Souza foi acusado, inclusive por lideranças do PSDB de São Paulo,  de ter “sumido” com R$ 4 milhões que teria recolhido junto a grandes empreiteiras para a campanha de Serra de 2010. Admitiu, porém que doou, “como pessoa física”, R$ 5 mil para a campanha do tucano Geraldo Alckmin.

O engenheiro também disse diversas vezes em seu depoimento que está movendo 16 processos criminais e por danos morais contra as publicações e as pessoas que o acusaram apesar de, segundo ele, todos terem  negaado na justiça  que fizeram as acusações. “ Fui acusado de fugir, de roubar R$ 4 milhões. Eu conheço todas as grandes empresas neste país. Nunca vi nenhum empresário fazer oficialmente alguma contribuição para campanha sem consultar diretamente quem é de direito. Mas eu, Paulo Souza, pedi quatro milhões como se fosse nada. Já trouxe meu sigilo bancário. Não tenho medo de absolutamente nada. Eu queria saber quem é o meu inimigo. Eu não consigo saber. Eu queria que um empresário deste país viesse aqui e dissesse, eu dei dinheiro para ele”, assegurou.

Mas o depoente admitiu, em vários momentos, que está bastante magoado com o PSDB. Particularmente com alguns caciques e altos funcionários, disse, como os ex-ministro Eduardo Jorge; o ex-tesoureiro adjunto do PSDB na campanha de Serra, Evandro Losacco; o secretário de energia do governo de São Paulo, José Anibal, que apontou  como fontes das matérias que o acusam. “Atribuo tudo isso à má-fé, à injúria e à ingratidão de pessoas que nunca me viram na vida, que nunca me cumprimentaram”, queixou-se. “Eu, há 40 anos sou profissional, não pretendo terminar minha vida profissional, manchada por incopetentes, antes que isso termine. Nem que eu dedique o resto da minha vida para que a justiça seja feita. Eu sei que ser alvo de uma campanha presidencial, nada irá reparar. Mas me dedicarei full time a fazer justiça pela minha família e por mim”, assegurou.

 E disse, ainda:“o Senado e a Câmara estão dando ao líder ferido, pela primeira vez, a oportunidade de comprovar. Eu não saio dessa Casa sem entregar todos os documentos comprobatórios que trouxe. Acho que os incompetentes devem continuar com medo. Que arma eu tenho contra a ingratidão? Eu fui demitido oito dias após entregar as três maiores obras deste país. Ninguém realizou em 34 meses as obras como Rodoanel, Jacu-Pessego, Tamoio e Marginal”.

Delta

Apontado como responsável por contatos entre a estatal paulista Dersa e a empresa Delta Construções – que estaria envolvida com o esquema de Cachoeira, Paulo Souza admitiu conhecer o ex-dono da empreiteira, Fernando Cavendish. Alegou ter tratado de questões ligadas à Delta com André Ferreira Machado, gestor da empreiteira, e duas vezes com Cavendish. “Uma para ele se apresentar e outra para dizer que cumpriria um contrato e cumpriu”, explicou Souza.

O  Ministério Público de São Paulo apura indícios de superfaturamento de obras na Marginal Tietê pelo consórcio Nova Tietê, da qual a Delta Construções faz parte. Paulo Preto assegurou à CPMI que nunca houve nenhuma irregularidade no relacionamento da empreiteira com a Dersa. Segundo o depoente, a Delta participou de todas as licitações referentes à obra da Marginal Tietê, mas venceu apenas uma. “A única obra que a Delta tem na Dersa é a obra da Marginal, que representa 1,9% dos valores licitados. Todas as demais, perdeu por preço maior. Isso é diferente de tudo que ouvi até hoje”, disse, acrescentando ter ouvido que a Delta faturou R$ 800 milhões em contratos com a Dersa, que “mergulhava” o preço, mas em São Paulo não foi isso”, acrescentou o ex-diretor da estatal paulista.

Giselle Chassot

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