O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou nesta terça-feira (12/06), em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que a avaliação da autoridade monetária brasileira é que a Europa continuará no centro das atenções nos próximos meses. Isto, devido à preocupação com a saúde financeira dos países da Zona do Euro que indica um recrudescimento, em especial a Grécia e a Espanha. “Nossa visão é que os mercados continuarão voláteis e, do ponto de vista macroeconômico, projetamos baixo crescimento nos próximos anos, mesmo com o Banco Central europeu abrindo uma linha de financiamento de 100 bilhões de euros para o sistema financeiro da Espanha”, afirmou.
Segundo Tombini, a perspectiva de crescimento dos países da Zona do Euro aponta para 1%, porque houve uma revisão dramática. Inicialmente, projetava-se que a economia europeia podia crescer 2% em 2012. Para os Estados Unidos, a previsão do BC é uma expansão moderada neste ano, em torno de 2,3%, enquanto a China apresentará uma desaceleração do forte ritmo de crescimento. Mesmo assim o PIB chinês poderá crescer 7,5% neste ano. “Observamos um processo de desinflacionário na Europa”, disse.
Em relação ao Sistema Financeiro Nacional (SFN) brasileiro, o nível de capital está acima dos padrões internacionais e o Brasil continua seguindo rigidamente as regras de aprovisionamentos e mantendo elevados índices de liquidez – dinheiro em caixa. As reservas internacionais no patamar de US$ 372 bilhões e os depósitos compulsórios – recursos mantidos obrigatoriamente depositados no Banco Central – em torno dos R$ 400 bilhões formam um colchão de liquidez.
Tombini afirmou que em encontros internacionais dos quais participa, junto com outros presidentes de bancos centrais, tem manifestado uma posição totalmente contrária à tese de abrir o mercado financeiro para bancos estrangeiros. “Nossa Constituição determina que o banco estrangeiro que quer atuar no Brasil deve montar uma subsidiária integral, separada da matriz, com patrimônio suficiente, com índice de liquidez atendido, aprovisionamento e seguindo as regras por nós estabelecidas. Afinal, nós temos de prestar contas para o Congresso brasileiro”, salientou.
Em 2008, alguns países queriam adotar o padrão europeu, de liberdade bancária e hoje o que se verifica é uma dificuldade enorme para superar as adversidades da crise. Para ele, o desafio internacional é encontrar um ponto de equilíbrio, mesmo que o mercado financeiro internacional apresente ampla liquidez, principalmente agora com a injeção de 100 bilhões de euros no sistema financeiro espanhol.
“O controle de capital para o BC é prudencial. Uma parte dos recursos disponíveis no mundo não é permanente e do ponto de vista da estabilidade sistêmica, se aceitássemos fluxos de peito aberto, achando que os capitais seriam permanentes, num momento de estabilização da economia ou de agravamento, o dinheiro sai”, afirmou Tombini, acrescentando que esse movimento, quase natural, ocorre em momentos de stress.
Inflação
A tendência para a inflação é de recuo nos próximos meses, podendo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) convergir para o centro da meta – 4,5% – nos próximos meses, de acordo com o presidente do BC. Os preços de algumas commodities, como o petróleo bruto, estão em queda. Ontem, o barril de petróleo fechou abaixo dos US$ 100, a US$ 97,2.
Em relação ao spread bancário – a diferença entre o juro das aplicações financeiras e o juro dos empréstimos – Tombini avalia que a redução dos spreads está iniciando um ciclo. Spreads menores atrelados a juros mais baixos, segundo ele, facilitam o processo de refinanciamento e renegociação das dívidas das pessoas, produzindo, como resultado, a diminuição da inadimplência no País. “Temos condições de aumentar as condições de financiamento, porque a renda está em ascensão, há geração de empregos e a capacidade de pagamento das dívidas muda o padrão de inadimplência”, explicou.
Nos organismos internacionais, disse Tombini, há uma sinalização para que o sistema financeiro tente calibrar a oferta de crédito. É natural que em momentos de crise, os bancos fiquem restritivos na concessão do crédito e menos restritivos quando a economia vai bem. “Mas o objetivo é equilibrar a oferta de crédito para quando a economia der sinais de retração e segurar essa oferta quando o cenário melhorar”.
Marcello Antunes
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