Especialistas alertam que tecnologia é questão de soberania nacional

Especialistas alertam que tecnologia é questão de soberania nacional

Um país, para decidir soberanamente sobre seus caminhos e atingir pleno desenvolvimento, precisa dispor de tecnologias básicas que não sejam dependentes de decisões tomadas por governos ou entidades no exterior. O alerta foi dado por especialistas que analisaram, em audiência pública, nesta terça-feira (14), os obstáculos que o país precisa superar para avançar no desenvolvimento das chamadas tecnologias de informação e comunicação (TIC).

O Brasil precisa cada vez mais de máquinas e produtos TIC, mas enfrenta problemas na sua balança comercial, segundo o presidente da Associação P&D Brasil, Luiz Francisco Gerbase. Ele ressaltou que a demanda por produtos com tecnologia embutida cresce em velocidade exponencial, enquanto que a nossa “moeda de troca” são produtos primários como minério de ferro, açúcar e soja. Segundo ele, as exportações de soja hoje não cobrem a compra de máquinas.

“A pergunta é aonde nós vamos parar trocando o importante patrimônio que tem o país, que é o setor primário, mas tendo que pagar uma conta que já não é mais possível pagar. Não é por nada que nossa balança comercial sofre a problemática de hoje”, salientou Gerbase

A audiência foi realizada pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT).

Soluções

Ao sugerir alternativas para a superação da situação atual de atraso no campo tecnológico, os convidados falaram de modo recorrente em elevação de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, desoneração na cadeia produtiva de equipamentos e componentes de bens com tecnologia embutida, mais esforços no campo da educação e capacitação de mão de obra e políticas para ampliar a competitividade internacional das empresas que agregam valor a seus produtos.

“O desafio é fazer com que nosso povo e nossos governantes entendam essa diferença: não somos mais o país de produzir apenas com a força bruta dos músculos; a saída é usar nossos cérebros. Do contrário, seremos entendidos por outras nações apenas pelo potencial de nosso mercado consumidor”,  reforçou Gerbase.

O executivo Sérgio Pauperio Serio Filho, da empresa de software de gestão TOTVS, apontou a necessidade de intensificar a cooperação entre as universidades, institutos de ciência e pesquisa e o setor privado. Também defendeu o aprimoramento dos incentivos para as startups, as nascentes empresas de tecnologia, assim como quebrar o “tabu” existente no país em relação a investimentos nesse tipo de negócio.

“Nosso desafio é importar a cultura de mercados americanos e europeu, nos quais é aceitável que, para cada dez investimentos feitos [em startups], nove não vão dar certo, mas esse único que vingar vai compensar todos os outros”,  argumentou.

Vigilância

Virgilio Augusto Fernandes Almeida, que responde pela Secretaria de Políticas de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, reconheceu que as tecnologias digitais são “elementos-chave” da agenda global nos campos social, econômico e mesmo política, o que se evidencia – nesse último caso – pela ações internacionais de monitoramento de transmissão de dados de pessoas e dirigentes políticos.

Também destacou pesquisa internacional que resultou na classificação de largo conjunto de países em termos de avanço.  O Brasil está no grupo com chances de avançar, ao lado de países como México, Chile, Turquia e Tailândia. Depois de admitir que o Brasil precisa “agir rápido”, ele listou aspectos que favoreçam o país e o que precisa ser feito, como a massificação da oferta de acesso à rede de banda larga.

O diretor-geral do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, Sérgio Cavalcante, reforçou a importância de melhoria na qualidade da educação. A diretor da empresa de inovação, que tem um braço educacional para formação profissional em TI, criticou o modelo de “bandeja”, em que as escolas se limitam a ofertar um livro-texto ou apostilas a alunos que nem conhecem “o caminho para a biblioteca”.

“Como a gente consegue criar pessoas com capacidade analítica se não sabem comparar diferentes fontes de informação, que se conformam em formar profissionais passivos?”, questionou.

Infraestrutura

O presidente-executivo da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), Sérgio Paulo Gallindo, destacou que o segmento possui elevado potencial de crescimento. Segundo ele, o conjunto das empresas responde por 9% do produto interno bruto (PIB) e empregam mais de 1,5 milhão de trabalhadores no país. Em 2014, o segmento cresceu 7,7%, quando a economia nacional não passou de 0,1%.

“Por isso, costumo dizer que somos uma China dentro do Brasil, bem acima da média geral”, disse ele, numa comparação ao país que mais vem crescendo no mundo.

Gallindo cobrou mais investimentos em infraestrutura de banda larga, tendo por objetivo massificar o acesso aos serviços a toda população. A seu ver, esse tipo de infraestrutura precisa receber o mesmo enfoque com que se trata no país as estradas e ferrovias. Observou que o país já está caminhando para eliminar os aparelhos celulares tradicionais, que só carregam sinal de voz. Também pediu incentivos tributários aos investimentos na implantação de data centers, onde são concentrados equipamentos que processam e armazenam dados.

“Ou se desonera e tem o investimento ou o investimento não vem”, ponderou.

O presidente da Brasscom também apelou para que, na discussão atual sobre o fim da desoneração de tributos incidentes sobre a folha salarial da empresas, devido ao ajuste nas contas públicas, o setor não retorne à alíquota anterior de 4,5% – que havia sido rebaixada para 2,2%. Segundo ele, com o incentivo o setor formalizou mais de 80 mil empregos, que agora podem ser perdidos.

Com informações da Agência Senado

 

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