Gleisi: Se for usada a ilegalidade ou até atos criminosos para combater outros crimes nós vamos estar levando a uma situação não de mudança, mas apenas de troca de atores. E isso nós não podemos admitirA senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) comemorou, nesta segunda-feira (21), em pronunciamento ao plenário, a multidão que compareceu às ruas de todo o País para lutar e para dizer que não permite o avanço de um golpe no Brasil. De acordo com a senadora, quem foi legitimamente eleito pela maioria dos votos populares, sem nenhum problema na eleição, tem de cumprir o seu mandato. Essa é a regra da Constituição.
Para ela, o problema todo é que, no Brasil, temos enfrentado uma série de situações que estão depondo contra o Estado Democrático de Direito, contra a democracia e que estão consolidando uma situação que poderá resultar num golpe frio no Brasil.
“Golpe frio é tirar uma presidenta legitimamente eleita, sem nenhum problema no seu processo eleitoral, por conta de questões políticas, por conta de ter uma oposição que fomentou, desde o final de 2014, quando a presidenta foi eleita, que ela não deveria, primeiro, tomar posse, depois governar e que depois teria de sair. E isso causou muita instabilidade no País”, elencou.
A senadora observou ainda que, toda essa grande ação investigativa em movimento no Brasil, é fruto da conquista da democracia. “Se estivéssemos em uma ditadura, teria o juiz Sérgio Moro – ou outros atores do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal -, a mesma liberdade de atuação e de investigação? ”,duvidou.
Gleisi ainda disse acreditar que a operação Lava-Jato é importante para o processo de fortalecimento das instituições, da apuração de desvios de recursos e de corrupção, além do fortalecimento da democracia. Porém, a senadora adverte que, em nome disso, não se pode deixar que a ilegalidade possa prevalecer. “Se for usada a ilegalidade ou até atos criminosos para combater outros crimes nós vamos estar levando a uma situação não de mudança, mas apenas de troca de atores. E isso nós não podemos admitir”, apontou.
Portanto, segundo Gleisi, o grampo captou diálogo entre a presidenta Dilma e o presidente Lula após a suspensão da ordem de interceptação e que, mesmo assim, vazou para a Rede Globo, sem que tenha sido remetido ao STF, “é altamente ilegal, compromete o processo penal, compromete o nosso Estado de Direito”.
“É disso que nós estamos falando, porque se hoje o grampo ilegal é utilizado contra a presidenta DiIma e contra o presidente Lula e grande parte acha isso bom, porque quer que eles sejam penalizados, o que vai se falar amanhã, quando isso for contrário a qualquer pessoa do povo, a qualquer um da sua família? “, questionou.
Paulo Rocha rebate oposição
Paulo Rocha: Tudo isso faz parte de uma narrativa para justificar um golpe num governo que se instalou democraticamenteEm aparte, o senador Paulo Rocha (PT-PA), líder do PT no Senado, rebateu acusações do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) de que na última sexta-feira (18), a manifestação de militantes mostrava o aparelhamento do Estado brasileiro. Para o senador petista, quem ouve o discurso do senador tucano, imagina que do lado do PSDB e seus aliados estão “os mocinhos, os puros da política”.
“A notícia que a gente tem é que lá em São Paulo, a semana toda, a manifestação [do dia 13] foi chamada por televisão, páginas inteiras pagas com o dinheiro da Fiesp para mobilizar; catracas de transporte público foram abertas para poder mobilizar. Esses são os patriotas, os anjinhos, os puros de fazer política no Brasil”, ironizou.
O senador ainda avaliou como “um processo sofisticado” o discurso da oposição de taxar o PT como uma organização criminosa e, eles, serem tidos como partido democrático.
“Tudo isso faz parte de uma narrativa para justificar um golpe num governo que se instalou democraticamente no nosso País e que passa por dificuldades políticas por causa do cerco que eles fizeram em torno deste processo de uma combinação de criminalização de quem está no poder, combinado com o braço do Judiciário e de um processo investigativo de um braço do Ministério Público, que combinado com essas ações, usam o poder da mídia para repetir isso todo tempo e toda hora”, apontou.
O senador ainda enfatizou que aqueles mesmo que planejam um golpe no Brasil, são os mesmos que se posicionaram contra o programa Mais Médicos, o Bolsa Família, por exemplo. E agora estão dizendo que para consertar a economia do Brasil, há que parar com o aumento real do salário mínimo.
“A preocupação daqueles humildes, mais pobres, que ganharam isso e agora podem estar com a perspectiva de que por meio do golpe, chegue um novo governo, que volte de novo com as velhas bandeiras do neoliberalismo”, finalizou.
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