O líder do partido na Casa, senador Humberto Costa (PE) já anunciou, nesta quarta-feira, 27, que a Bancada representou contra o ministro da Economia, Paulo Guedes, que ameaçou com “a volta do AI-5” as mobilizações sociais contra sua política de arrocho.
“Um ataque à democracia como esse não pode ficar impune. A ameaça de Paulo Guedes sobre um novo AI 5 é inaceitável”, protesta Humberto. A Bancada do PT representou contra Guedes na Procuradoria da República e na Comissão de Ética da Presidência da República.
Promotor de mazelas
“O principal ministro do governo defende um instrumento ditatorial para reprimir manifestações contra as mazelas das reformas que ele mesmo promove”, aponta o senador, ressaltando que as declarações de Guedes foram feitas nos Estados Unidos, o centro das forças que se articulam para solapar a democracia na América Latina e para açambarcar os recursos naturais dos países da região.
Na última segunda-feira (25), em uma entrevista coletiva em Washington, capital dos EUA, Guedes afirmou que se os brasileiros recorrerem aos protestos de ria contra o arrocho econômico, que “não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir o AI-5”. Ele se referia às expressivas mobilizações que têm sacudido países latino-americanos como a Colômbia, o Equador e o Chile.
Posturas opostas
Antes de Guedes, o ex-aspirante a embaixador nos EUA Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, já havia defendido “a volta do AI-5”, decretado durante a ditadura militar para suspender todas os direitos e garantias constitucionais.
Humberto Costa comparou a atitude ameaçadora do bolsonarismo com a postura do governo petista de Dilma Rousseff. “O povo foi às ruas em protestos gigantescos em 2013, com quebra-quebra, depredação de patrimônio público, fogo em carros da imprensa, tentativas de invasão ao Congresso e ao Palácio do Planalto. E ninguém falou em AI-5”.
Como também não falou em AI-5 nos protestos contra a Copa do Mundo, nas manifestações de 2015 e na campanha pelo impeachment. “Agora, sem qualquer manifestação violenta, o governo Bolsonaro fala. Por que será?”, cobra o senador.
Quem incendiou o Chile
É no mínimo irônico que Paulo Guedes ameace a democracia para intimidar mobilizações populares e “não deixar a situação chegar ao que chegou o Chile”. Afinal, o povo chileno está nas ruas exatamente para reverter o modelo perverso que o ministro da Economia do Brasil ajudou a implementar, na década de 70.
Guedes foi um dos chamados “Chicago Boys” — economistas formados na Universidade de Chicago e discípulos de Milton Friedman, um guru do liberalismo — que se aproveitaram da truculência da ditadura de Augusto Pinochet para arrasar todos os direitos sociais. Fizeram reformas que o povo nas ruas, em uma democracia, jamais aceitaria.
Um exemplo é o sistema de previdência do chile, que foi privatizado e passou a funcionar em regime de capitalização, medida que destruiu a seguridade social naquele país. Hoje, 79% das aposentadorias pagas no Chile estão abaixo do salário mínimo do país. E 44% dos aposentados estão abaixo da linha da pobreza, devido à ínfima remuneração que recebem.
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