A imagem do Brasil no exterior nunca esteve tão ruim. Mas, como disse o próprio presidente da república, nada é tão ruim que não possa piorar.
Hoje, o Brasil é visto como uma ameaça sanitária com um governo irresponsável, para não dizer genocida, que impulsionou a imunidade natural de rebanho para “não parar economia” e estimulou o uso de medicamentos ineficazes contra a Covid-19, em vez de investir em vacinas e nas medidas de controle não farmacológico da pandemia, como o uso de máscaras e a prática do isolamento social.
Bolsonaro, na última abertura da Assembleia Geral da ONU, fez questão de, pessoalmente, consolidar essa imagem vergonhosa do Brasil, apresentando-se como o único Chefe de Estado não vacinado da reunião e defendendo, em seu patético discurso, o uso do “tratamento precoce”.
Entretanto, a péssima imagem do Brasil no cenário internacional é devida também à atual condição do nosso país de grande vilão planetário, na área ambiental.
Com efeito, o governo Bolsonaro conseguiu a vergonhosa proeza de reverter todos os grandes avanços que haviam sido feitos nessa área, nos governos do PT, e dedicou-se a “abrir a porteira” para a predação ambiental sem freios.
Implodiu as instituições ambientais, como o Ibama, zerou multas, estimulou o desmatamento e o atropelo dos direitos das comunidades tradicionais, demitiu o presidente do INPE que divulgou o aumento das queimadas, comprou brigas com os países que alimentavam o Fundo da Amazônia, como Noruega, Alemanha e França etc. etc.
Contudo, com a queda de Trump, seu grande aliado, e com ascensão de Biden, o governo Bolsonaro foi forçado, muito a contragosto, a rever suas práticas ambientais criminosas.
Nesse sentido, esperava-se que a reunião da COP 26, a ser realizada em Glasgow, Escócia, a qual debaterá propostas para a regulamentação dos artigos 6 e 9 do Acordo de Paris, servisse de oportunidade para que o Brasil apresentasse proposta coerente, sólida e ambiciosa de redução de suas emissões e uma estratégia crível de implantação de um modelo econômico “verde”.
Ao que tudo indica, contudo, tal oportunidade será desperdiçada. Ao contrário, o que se prenuncia é um desastre.
Em primeiro lugar, o Brasil vai levar a tiracolo uma “pedalada climática”. Nossas autoridades reviram, para cima, o cálculo de suas emissões para o ano de 2005, que serve de base à redução de gases do efeito-estufa, de modo a permitir mais liberalidade para futuras emissões. Ou seja, ao invés de aumentar seus compromissos, o governo Bolsonaro pretende reduzi-los.
Em segundo, as propostas do país para a regulamentação dos artigos 6 e 9 do Acordo de Paris são, ao que tudo indica, inconsistentes e elaboradas sem bases científicas precisas e aferíveis, e sem as devidas consultas à sociedade civil. Um aglomerado de “chutes” tortos e de propostas requentadas.
Nada é tão ruim que não possa piorar, previu Bolsonaro.
Nesse ponto, infelizmente, ele está certo. Em todo o demais, ele está totalmente equivocado.