Em mais de quatro horas de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as denúncias de supostas irregularidades na empresa, o ex-diretor, que passou quase dois meses detido sob a acusação de lavagem de dinheiro, contou sua história de 35 anos na estatal. Disse que chegou ao cargo de diretor por suas qualificações técnicas e recordou que o posto mais importante que ele ocupou foi durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Eu não entrei na diretoria pela janela. Construí uma carreira na empresa e me tornei diretor depois de 27 anos. Hoje, me sinto extremamente magoado. Meu nome e minha reputação foram destruídos. Eu não aceito isso, porque tudo foi feito com base em falsas premissas. Fizeram uma maldade terrível comigo, com minha família, com meu nome”, disse, referindo-se às acusações de que foi alvo após ser preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.
Pasadena
O relator da CPI, José Pimentel (PT-CE) preparou setenta perguntas para o depoente. Começou pela decisão de adquirir a refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Como os anteriores, Paulo Roberto disse que, na ocasião, tratava-se de um bom negócio. Mas destacou que, pelos posto que ocupara na Petrobras, não teve qualquer participação na decisão de adquirir a refinaria americana.
“Naquele momento era um bom negócio, porque não é bom comercialmente exportar petróleo bruto. É bom exportar derivados, agregar valor ao produto”, disse, explicando que, como o Brasil produzia petróleo pesado (ainda não havia descoberto o pré-sal), era interessante ter uma refinaria, especialmente nos Estados Unidos, onde se localiza o maior mercado consumidor do mundo .
Para o ex-diretor, o contrato para a concretização do negócio não tinha falhas.. “Não seria por causa dessas cláusulas (put option e marlim) que a Petrobras deixaria de fazer negócio”.
A cláusula put option obriga uma das partes da sociedade a comprar a outra em caso de desentendimento. Já a cláusula marlim assegura um lucro mínimo à sócia da Petrobrás.
Abreu e Lima
Paulo Roberto também defendeu a construção da refinaria de Abreu e Lima, mas apontou erro da Petrobras de 2005, quando foi divulgado que ela custaria por volta de US$ 2,5 bilhões. “Era apenas um dado preliminar”, disse, explicando por que, em entrevista à Folha de S. Paulo, disse que a empresa havia feito uma “conta de padeiro” para explicar essa previsão. “Eles olharam o custo de uma refinaria no Golfo do México e fizeram uma projeção a partir daí. Calcularam mal”, resumiu.
Com esse “dado preliminar”, órgãos de imprensa chegaram à conclusão de que houve superfaturamento dos gastos, já que, no final, a refinaria custou US$ 18 bilhões. Para o ex-diretor, não houve superfaturamento e, sim, ajustes em razão da necessidade de aquisição de dois novos trens de refino e adequações no projeto.
Consultoria
Sobre suas atividades ao deixar a Petrobras, Paulo Roberto queixou-se de que foi obrigado a abrir uma empresa de consultoria porque, ao se aposentar, seu salário passou a 20% do valor da ativa. Ele saiu da empresa em abril de 2012 e, em maio,abriu, a Costa Global Consultoria.
Ele defendeu que ex-diretores da empresa tenham um período de quarentena. “Quando saem da companhia, (diretores) deveriam ficar pelo menos seis meses em casa, porque têm domínio de informações importantes. Infelizmente, a Petrobras não entende assim”, queixou-se.
Segundo o ex-diretor, para manter seu padrão de vida, foi obrigado a atuar como consultor. Na Costa Global, sua sócia era uma de suas filhas. A empresa chegou a ter 81 contratos, inclusive para negociar uma ilha das Organizações Globo.
Alberto Youssef
Paulo Roberto Costa admitiu aos senadores que conhecia Alberto Youssef – também preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato – mas não sabia que ele era doleiro ou que tinha problemas com a Justiça. “Eu sabia que ele tinha tido um problema em 2005, por conta do Banestado”, ressalvou.
Segundo afirmou, apesar de não terem um contrato formal, ele prestou serviços de consultoria para Youssef, recebendo por isso um carro, avaliado em R$ 250 mil como pagamento, além da blindagem do veículo, que custou R$ 50 mil. “Não vejo nada de errado nisso”, disse.
Ele também disse não ver problemas em guardar, em casa, RS 762 mil em dinheiro vivo, além de US$ 180 mil dólares e euros. Respondendo a um questionamento do líder do PT, Humberto Costa (PE), disse que precisava de dinheiro vivo para “fazer pagamentos” e que os reais eram referentes ao pagamento de um empréstimo que constava de sua declaração de imposto de renda. Os dólares, segundo ele, “foram acumulados ao logo de 35 anos de trabalho na Petrobras”.
Cupins
Humberto citou várias doações de empresas que prestavam serviços à Petrobras para candidatos e diretórios estaduais de partidos ligados à oposição. “A imprensa fez essa correlação entre a Petrobras e doações de campanha, mas não citou doações para a oposição”, estranhou o senador.
Embora entenda que não há nada de ilegal nas doações para candidatos tucanos, Humberto fez questão de deixar claro que o fato de uma fornecedora doar recursos não significa necessariamente uma irregularidade.
“A imprensa faz essa referência porque tenta imputar aos governos Lula e Dilma o que chama de aparelhamento, como se os ocupantes de gerências e diretorias fossem pessoas tiradas não sei de onde e alocadas em suas funções por lógica política”, queixou-se o senador.
“É importante desmistificar essa ideia de que os governos petistas instalara m cupins na empresa para aparelhá-la”, observou o líder.
Giselle Chassot
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