O vexame internacional protagonizado por Jair Bolsonaro nesta segunda-feira (18), ao reunir mais de 40 embaixadores para atacar instituições do seu próprio país e colocar em dúvida a lisura do sistema eleitoral brasileiro, não passou despercebido pela mídia global. Os principais jornais e agências de notícias do mundo detectaram que o golpismo antecipado do presidente se deve ao profundo temor de uma acachapante derrota nas eleições de outubro. E alertaram para possível risco institucional que as fake news proferidas por ele podem provocar.
“O presidente Jair Bolsonaro chamou dezenas de diplomatas estrangeiros ao palácio presidencial na segunda-feira para dizer que acredita que o sistema de votação do país pode ser fraudado, em uma prévia de sua estratégia para uma eleição que está a 75 dias e cujas pesquisas preveem que ele sofrerá uma derrota esmagadora”, descreve o americano New York Times.
Segundo o jornal, Bolsonaro prometeu apresentar evidências de que houve fraude nas duas últimas eleições presidenciais, mas a apresentação de 47 minutos limitou-se a requentar uma investigação não conclusiva e, portanto, não comprovada, de que um hacker teria invadido o sistema eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018.
O jornal destaca que diplomatas, que concordaram em falar sob a condição de anonimato, ficaram abalados com o discurso, especialmente com a tentativa de Bolsonaro de envolver militares no processo eleitoral, uma atribuição que não é das Forças Armadas. “Os diplomatas temem que Bolsonaro esteja preparando as bases para uma tentativa de contestar os resultados da votação em caso de derrota”, relata o Times.
Repetindo Trump
O jornal ainda compara Bolsonaro a Donald Trump, que igualmente tentou, sem sucesso, desestabilizar as eleições americanas quando percebeu a derrota e estimulou a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. “Bolsonaro também está recebendo ajuda de Trump e seus aliados na forma de endossos, conferências políticas conservadoras, novas redes sociais e espaço no canal do apresentador da Fox News, Tucker Carlson”, revela o jornal.
Agências tradicionais e cujos conteúdos são replicados por centenas de portais noticiosos também repercutiram o evento, apontando para os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral. Caso da Reuters, Bloomberg e Associated Press.
“O presidente do Brasil convidou dezenas de diplomatas ao palácio presidencial para apresentar alegações sobre supostas vulnerabilidades do sistema de votação eletrônica do país, que as autoridades eleitorais já desmascararam repetidamente”, destacou o correspondente Maurício Savarese, da Associated Press, cujo conteúdo foi publicado pelo Washington Post.
Já a Reuters classifica o “briefing” de Bolsonaro a 40 diplomatas como algo “sem precedentes”, a menos de três meses de uma eleição geral no Brasil. “Bolsonaro não deu provas de fraude, mas disse que um hacker entrou no sistema de votação eletrônica durante a eleição que venceu em 2018, um incidente que a polícia concluiu não ter comprometido o resultado de forma alguma”, escreve o chefe da agência no país, Anthony Boadle.
Na Europa, a France Presse, que também tem conteúdo republicado pelo continente, foi direta: “O presidente brasileiro de extrema-direita, dado como perdedor nas pesquisas, voltou a atacar o sistema de urnas eletrônicas. Lula, favorito, lamenta ‘mentiras contra nossa democracia’”.
A agência EFE, da Espanha afirmou, em matéria reproduzida até em portais da China, que Bolsonaro “insiste em sua campanha para desqualificar o sistema de votação, que no Brasil não foi alvo de uma única denúncia de fraude desde que foi adotado”.
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(Com agências)