Dallagnol, o procurador da oratória e da falta de provasNão é incomum em instituições religiosas a repetição do mantra de que o Brasil foi colonizado pelo que havia de pior na sociedade portuguesa. Ou melhor, pela falta de “cristãos” para tornar essas terras tupiniquins um lugar melhor. Tal convicção, segundo a colunista Maria Cristina Fernandes, do Valor, é compartilhada por um procurador que adora um espetáculo na falta de melhores argumentos: Deltan Martinazzo Dallagnol.
No texto “O maluco solitário e o Ministério Público”, Maria Cristina traça o perfil do religioso procurador da Operação Lava Jato. E traz parte dos pensamentos característicos da falta de conhecimento histórico.
Para Dallagnol, quem veio de Portugal para o Brasil foram degredados, criminosos. Já os que os que se dirigiram aos Estados Unidos foram pessoas religiosas, cristãs, que buscavam realizar seus sonhos, era um outro perfil de colono.
Como lembra a colunista, o espírito cristão dos colonizadores americanos não os impediu de dizimar a população nativa, colecionar genocídios em sua política externa e conviver com o pesadelo de uma Casa Branca ocupada por Donald Trump.
“Mas o ex-estudante de Harvard só trouxe admiração pelas instituições americanas. O mesmo fascínio alimenta em muitos de seus compatriotas a ilusão de que o Brasil seria uma grande Amsterdã se os holandeses não tivessem sido expulsos. Não cogitam o Brasil como uma versão ampliada da África do Sul”, lembra Maria Cristina Fernandes.
A falta de pessoas religiosas, então, na cabeça de Dallagnol, fez o Brasil ser o que é. Esqueça questões históricas como a escravidão e a concentração de terras.
Talvez pensamentos como esse expliquem o motivo do procurador da Lava Jato acreditar piamente que o movimento que ele criou, das dez medidas anticorrupção, será a solução dos problemas do País – o que garantiria investimentos em saúde e educação, por exemplo.
Retórica
Maria Cristina Fernandes lembra ainda que Dallagnol usa da retórica para fazer valer seus argumentos. Lembra que o procurador, em discursos muitas vezes dirigidos a fiéis da Igreja Batista, chega a usar do humor para fazer valer seus argumentos.
“Tem uma coleção de frases do líder negro americano, sempre lembrado como pastor batista, que remetem à realização de sonhos por quem os persegue”, lembra a colunista.
E a utilização desses artifícios é o que tem regido o discurso de Dallagnol na perseguição a Lula, por exemplo. São frases de efeito é que sustentam acusações contra o ex-presidente, como “líder” de uma organização criminosa. Provas? Isso fica para depois, na visão do procurador.
Resta saber se sua atual cruzada, que parte sobre liderança dos Partidos dos Trabalhadores, manterá o tom teatral, ao invés do rigor e seriedade exigidos de agentes da Lei.
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